Mas até aí não foi difícil seguir o caminho indicado, embalados pela suavidade da brisa na seara e com a ajuda do mapa impresso no desdobrável, até ao miradouro de onde se avista o sítio arqueológico do Castro do Tintinolho, Monumento Nacional oficial desde Junho de 1910.
Erguido em plena Idade do Ferro, o povoado do Tintinolho terá sido reutilizado durante a época romana e medieval. Ao passear pelas ruínas ainda é possível reconhecer partes da linha de muralha e, de acordo com informação disponível na página do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), é possível que este monumento estivesse "associado ao sistema viário romano que passava no vale do Mondego, como parece denunciar a existência de uma calçada lajeada nas suas proximidades".
É parcialmente por esta calçada que prosseguimos o caminho, até darmos de caras com a Estrada Nacional 16. Consultamos o mapa: falta só cerca de um quilómetro para chegarmos ao ponto final do trilho, a praia fluvial da Aldeia Viçosa. Enquanto descemos o que falta da serra, até à margem direita do Mondego, paramos constantemente para confirmar a distância até ao destino. Já falta pouco, num caminho onde continuamos a ser acompanhados apenas por borboletas e outros insectos, apesar de atravessarmos pequenas povoações habitadas.
Chegamos então ao nosso destino, que promete refrescar-nos após a caminhada. À entrada, é cobrado um euro a cada visitante, mas os hóspedes da Quinta do Moinho estão isentos do pagamento. Passamos o parque de estacionamento, onde se avistam duas ou três matrículas francesas e belgas, e contornamos a cortina de fumo vindo dos churrascos ocupados por várias famílias para preparar o almoço, que depois é consumido nas mesas de madeira espalhadas pelo relvado, até porque o único estabelecimento no local, o Bar da Praia Azul, vende pouco mais do que bebidas, gelados e batatas fritas.
São maioritariamente as crianças que mergulham nas águas límpidas do rio, rodeadas de árvores e imersas numa paisagem bucólica, que seria potenciada se o som da água a correr por entre as pedras escorregadias não fosse abafado pela batida comercial da música difundida por todo o espaço. Mas a animação parece ser bem-vinda por parte dos visitantes da praia fluvial. À porta da casota de madeira onde funcionam as casas de banho, um homem idoso, de chapéu-panamá, move as ancas ao ritmo da música, apoiado na sua bengala.
O recinto tem ainda um campo de jogos e uma piscina artificial com um escorrega, que abre apenas algumas horas por dia. À noite, o espaço é também palco de animação, como anunciam os posters afixados no bar. Houve já as festas do francês e do brasileiro, e, para meados de Agosto, está marcado o concurso Miss Praia Fluvial.
Recuperados os músculos após uma sessão de hidroterapia natural e descanso numa plataforma de madeira sobre o rio, estamos prontos para prosseguir viagem.
Depois de sete quilómetros de caminhada serra abaixo, o que são mais três até à Quinta do Moinho, onde ficámos alojados? Apesar do esforço agravado pela posição do sol, que tornou pesado o ar de um dia de Verão, o passeio permite visitar calmamente as ruas da Aldeia Viçosa, com as suas casas tradicionais bem conservadas, a praceta da igreja matriz, onde, em 2000, foi identificada uma tábua do pintor Grão Vasco, e a ausência de vida de uma tarde soalheira que obriga os habitantes a refugiar-se na frescura do interior das suas habitações.