Fugas - Viagens

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O "Algarve do interior" é na serra da Estrela

Mas os hóspedes continuam a sentir-se como amigos da família, como se esta, agora com mais um elemento, lhes abrisse a porta de sua própria casa. No livro de visitas, aliás, é rara a entrada que não menciona o facto de a Quinta do Moinho fazer os seus clientes sentir-se "em casa" ou "em família". À entrada da quinta, é Leão, um serra da Estrela, como não poderia deixar de ser, deitado à porta da sua casota, que nos dá as boas-vindas à quinta. A "recepção" é a sala de jantar ao ar livre da casa principal, onde residem os seus proprietários, que fazem questão de ser tratados pelo nome próprio.

À chegada, Sílvia mostra-nos os recantos do espaço, acompanhada por Fifi, uma pequena cadelinha que está com o casal "desde o início".

O som da água a correr no rio enche todo o espaço, desde o cantinho de leitura, junto à estátua estilizada de D. Dinis, até ao pavilhão de eventos, também utilizado como parque de estacionamento. As piscinas naturais e os açudes que ladeiam o terreno atraem não só os hóspedes da Quinta, como residentes das aldeias nas proximidades. Sentados nas espreguiçadeiras viradas para o Mondego, podemos observar, durante toda a tarde, grupos de pessoas a aparecer por detrás das rochas do lado oposto do rio, onde repousam sobre as pedras aquecidas pelo sol ou aproveitam as águas profundas para saltos e acrobacias.

"No Verão vimos sempre para aqui", conta Ricardo, um rapaz da aldeia vizinha da Faia, com o cabelo loiro ainda a pingar do mergulho na água. "Aqui dá para saltar, na praia fluvial não dá", explica, enquanto gesticula para que os amigos se afastem do seu caminho para que possa saltar, de novo, para dentro do rio.

Do lado de cá, amarrados a um cais improvisado, uma gaivota e um barco a remos de plástico balançam um contra o outro junto à margem. Próximo deles, desagua o canal construído para passar pelo moinho que dá o nome à quinta e que foi transformado numa espécie de museu de ferramentas tradicionais. Desde o ano passado que uma das mós já está a funcionar e, no futuro, a anfitriã Sílvia espera que se possa voltar a fazer pão aqui. Junto ao moinho, um reservatório circular de água com pouca profundidade é utilizado como piscina para as crianças mais pequenas.

Passeando pela margem em direcção a montante do Mondego, passamos pela parte mais bravia da propriedade, em que o arvoredo cresce mais alto e a placidez é ainda mais intensa. Uma sugestão: deixar o telemóvel e o leitor de música no quarto, não levar nada para além do fato de banho e calçado (a vegetação térrea nem sempre é confortável) e deixar-se afundar nas águas refrescantes da clareira nas traseiras da quinta, apreciando o jogo de luzes entre os raios solares e as folhas do arvoredo circundante, e tendo como única companhia os delicados alfaiates que deslizam à superfície da água e alguns peixes que nadam à nossa volta, como se a nossa presença não os perturbasse.

Do outro lado, mesmo junto à entrada, há um outro espaço onde podemos desfrutar da tranquilidade e frescura da quinta, criado especialmente para o efeito, mas de tal forma dissimulado na natureza que parece ter crescido assim sozinho. É o cantinho de leitura: uma varanda natural à altura da copa das árvores que crescem na margem, protegida por uma vedação, e com um banco e uma mesa de pedra onde nos podemos acomodar e entregar-nos à leitura sem qualquer distracção para além do chilrear dos pássaros.

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