Depressa percebemos que esta cozinha sólida é razão de verdadeiras romarias - e fica desde já o conselho: o melhor é reservar mesa antes de seguir caminho. Felizmente, havíamos de ter uma mesa recheada, bem recheada: morcela, queijo, cabrito, javali, tigelada e até aquele copinho de vinho tinto (salte já para a secção Onde Comer, se ficou de água na boca...). Mas antes há que ganhar fome e nada mais apropriado que partir à descoberta dos caminhos que nos levam ao coração da região.
Porque a partir desta soalheira Fajão é possível cruzar o concelho e caminhar por trilhos e antigas levadas, num percurso de quase 23 quilómetros até Janeiro de Baixo, também inserida nas Aldeias de Xisto - de preferência com uma paragem na Barragem de Santa Luzia, a meio caminho, onde foi colocada uma piscina flutuante com acesso a uma zona de areal, para um momento refrescante.
Nesta praia, vigiada, é possível ainda aproveitar as múltiplas actividades que a albufeira oferece, de canoagem a passeios de gaivotas. Ou então usufruir dos percursos de manutenção à sua volta ou dos trilhos de BTT, actividade que ganhará expressão na zona com a criação de um centro de BTT, já em construção.
Antes ou depois de uma visita a Santa Luzia, para observar o engenho do homem e o efeito esmagador da natureza, é obrigatória uma passagem em Casal da Lapa, de onde se vê a gigantesca parede, de mais de 70 metros, erguida na década de 1930 para segurar as águas do rio Unhais, e que recebe também as águas da barragem do Alto Ceira, a conviverem lado a lado, e em toda a sua grandeza, com os monstruosos penedos.
Pelos trilhos e praias
Para os menos afoitos, vários percursos circulares oferecem um gostinho do que é a serra. Como acontece no percurso que permite, a partir de Ponte de Fajão e acompanhando o curso do sussurrante rio Ceira, chegar aos imponentes Penedos de Fajão, que fazem parte do Complexo do Açor, inscrito na rede Natura 2000.
Pelo caminho, antigos currais abandonados são as únicas testemunhas de vida humana. "Quem sabe um dia não se recuperem para abrigos aos caminhantes", admite, quando questionado, António Barata, do departamento de Turismo da Câmara Municipal da Pampilhosa e nosso guia por um dia. Abandonados também estão os campos agrícolas, que outrora bebiam do Ceira e esbracejavam riqueza ("Aqui tudo dava: batatas, cereais, feijão...", relembra Barata), desaparecidos com o envelhecimento das populações e com a saída dos mais jovens para centros urbanos. Os campos vão sendo, por isso, absorvidos pelas florestas que os invadem de silvas e fetos. Vão sobrevivendo algumas oliveiras ou uma ou outra árvore de fruto mais resistente. De resto, são os pinheiros e, de há 20 anos para cá, o eucalipto a tomarem conta de uma paisagem que já foi reino do castanheiro.
Seja de que tonalidade for, é o verde da floresta que garante grande parte da riqueza do concelho e uma das apostas para o futuro reside, precisamente, no turismo de natureza. Afinal de contas, é o turismo de baixo custo por excelência, numa época em que a crise parece instalada. Por tudo isto, e depois de a zona ter perdido mais de metade da sua floresta para umas impiedosas chamas em 2005, há uma forte aposta municipal na prevenção de incêndios.