Trilhando uma levada de água - um arcaico sistema de rega, usado nos campos -, vamo-nos cruzando com gafanhotos que se disfarçam entre a terra mais seca, carreirinhos de formigas numa labuta frenética e por cantares chilreantes que não se deixam identificar. Não somos os únicos a marcar passo por aqui: pelo caminho encontramos um sexagenário de férias, mas a pensar regressar para a terra para aproveitar a reforma, que nos garante fazer "o caminho todos os dias".
A cerca de 20 quilómetros daqui, na aldeia de Pessegueiro, a inauguração de um trilho pedestre em meados de Agosto pôs mesmo toda a gente da aldeia a caminhar numa redescoberta da própria comunidade. Neste, é a ribeira de Pessegueiro, afluente do rio Unhais, que marca o ritmo borbulhante do percurso, que se vai afastando quer da povoação quer da água, embrenhando-nos no pinhal, depois de uma breve passagem por hortas ainda cultivadas e pelas gentes que as trabalham. Ao fim de 15 minutos a passo vagaroso, a única coisa que nos indica estarmos ainda perto de casas é o imponente toque do sino da igreja. Lá para trás ficaram as gargalhadas das crianças na água, as conversas de miudagem mais graúda em círculos de amigos, os mergulhos acrobáticos de Verão.
Pela frente, há apenas o ruído crocante das nossas passadas sobre a caruma dos pinheiros. De resto, silêncio. A absoluta tranquilidade é apenas quebrada por um ou outro pequeno animal, sendo que os bichos se escondem mais depressa do que os nossos olhos os conseguem vislumbrar. Muitas vezes serão pequenas raposas, outras coelhos bravos. Todos em busca de alimento, aproximam-se cada vez mais das povoações.
Também há javalis. Mas destes é realmente melhor manter as devidas distâncias... Não há razões para desistir do passeio por causa disso: a probabilidade de um encontro de tal grau é fraca, uma vez que o javali vagueia mais durante a noite, mantendo-se escondido enquanto é dia. E, se seguir caminho, é ainda possível passar pelas ruínas da abandonada Pisão. É já com o sol quase a pôr-se que regressamos ao ponto de partida. Nas águas límpidas da ribeira permanecem crianças e crescidos, imunes ao frio das águas correntes que, graças a uma pequena represa, formam uma piscina natural, nesta altura do ano vigiada. Não conseguimos por isso fugir sem cumprir um mergulho no Unhais.
Do vale ao pico
Não é só em Pessegueiro que as águas atraem veraneantes. Em Janeiro de Baixo, que marca o fim do grande percurso que atravessa a Pampilhosa, é o Zêzere quem mais ordena. Nas suas margens, uma praia de areia branca, com chapéus-de-sol em palhinha, formam um cenário idílico e até improvável no meio da serra. Com um parque de campismo com bungalows como vizinho e com um cenário de pinheiros-bravos na outra margem, a zona da praia foi alvo de obras de beneficiação, sendo servida por um passadiço em madeira em todo o seu comprimento, além de diversas valências de apoio (bar, instalações sanitárias, duche, parque de merendas), erguendo, orgulhosamente, a bandeira de praia acessível.