Fugas - Viagens

  • Leia a reportagem na Fugas de 10 de Setembro | Fajão, concelho de Pampilhosa, está integrada na rede de Aldeias de Xisto
    Leia a reportagem na Fugas de 10 de Setembro | Fajão, concelho de Pampilhosa, está integrada na rede de Aldeias de Xisto
  • A meio da manhã da pacata Fajão, há sempre uma porta aberta para receber quem a visita
    A meio da manhã da pacata Fajão, há sempre uma porta aberta para receber quem a visita
  • O xisto é uma presença dominante no concelho
    O xisto é uma presença dominante no concelho
  • Miradouro em Fajão
    Miradouro em Fajão
  • A partir da soalheira Fajão, é possível cruzar o concelho e caminhar por trilhos e antigas levadas
    A partir da soalheira Fajão, é possível cruzar o concelho e caminhar por trilhos e antigas levadas
  • Nos passeios, há apenas o ruído crocante das nossas passadas sobre a caruma dos pinheiros
    Nos passeios, há apenas o ruído crocante das nossas passadas sobre a caruma dos pinheiros
  • A absoluta tranquilidade é apenas quebrada por um ou outro pequeno animal em fuga
    A absoluta tranquilidade é apenas quebrada por um ou outro pequeno animal em fuga
  • A partir de Ponte de Fajão e acompanhando o curso do sussurrante rio Ceira, é possível chegar aos imponentes Penedos de Fajão
    A partir de Ponte de Fajão e acompanhando o curso do sussurrante rio Ceira, é possível chegar aos imponentes Penedos de Fajão
  • As nuvens aconchegam o passeio, presenteando-nos com prazenteiras sombras
    As nuvens aconchegam o passeio, presenteando-nos com prazenteiras sombras
  • Seja de que tonalidade for, é o verde da floresta que garante grande parte da riqueza do concelho
    Seja de que tonalidade for, é o verde da floresta que garante grande parte da riqueza do concelho
  • São os pinheiros e, mais recentemente, o eucalipto a tomarem conta de uma paisagem que já foi reino do castanheiro
    São os pinheiros e, mais recentemente, o eucalipto a tomarem conta de uma paisagem que já foi reino do castanheiro
  • Antes ou depois de uma visita a Santa Luzia, para observar o engenho do homem e o efeito esmagador da Natureza, é obrigatória uma passagem em Casal da Lapa
    Antes ou depois de uma visita a Santa Luzia, para observar o engenho do homem e o efeito esmagador da Natureza, é obrigatória uma passagem em Casal da Lapa
  • A gigantesca parede da Barragem de Santa Luzia, de mais de 70m, erguida na década de 30 para segurar as águas do rio Unhais, convive lado a lado, e em toda a sua grandeza, com os monstruosos penedos
    A gigantesca parede da Barragem de Santa Luzia, de mais de 70m, erguida na década de 30 para segurar as águas do rio Unhais, convive lado a lado, e em toda a sua grandeza, com os monstruosos penedos
  • Depois de ter perdido mais de metade da sua floresta para umas impiedosas chamas em 2005, a Pampilhosa aposta na prevenção de incêndios.
    Depois de ter perdido mais de metade da sua floresta para umas impiedosas chamas em 2005, a Pampilhosa aposta na prevenção de incêndios.
  • As praias fluviais do concelho são vigiadas
    As praias fluviais do concelho são vigiadas
  • Na Barragem de Santa Luzia, uma piscina flutuante é garante de momentos refrescantes
    Na Barragem de Santa Luzia, uma piscina flutuante é garante de momentos refrescantes
  • Além dos mergulhos, há várias actividades, de canoagem a passeios de gaivotas
    Além dos mergulhos, há várias actividades, de canoagem a passeios de gaivotas
  • A praia, com vista para a barragem, é uma das atracções do concelho
    A praia, com vista para a barragem, é uma das atracções do concelho
  • Em Janeiro de Baixo, que marca o fim do grande percurso que atravessa a Pampilhosa, é o Zêzere que mais ordena
    Em Janeiro de Baixo, que marca o fim do grande percurso que atravessa a Pampilhosa, é o Zêzere que mais ordena
  • Da profundeza dos vales para o cume da montanha mais alta do concelho (1400m), o caminho é arrepiante
    Da profundeza dos vales para o cume da montanha mais alta do concelho (1400m), o caminho é arrepiante
  • Vista do concelho de Pampilhosa a partir do Pico de Cebola
    Vista do concelho de Pampilhosa a partir do Pico de Cebola
  • Centenas de eólicas marcam a paisagem do concelho beirão
    Centenas de eólicas marcam a paisagem do concelho beirão
  • Para quem não receia a visão dos abismos, o quadro das montanhas ondulantes à volta é, comprovada e claramente, assombrosa
    Para quem não receia a visão dos abismos, o quadro das montanhas ondulantes à volta é, comprovada e claramente, assombrosa

Pampilhosa da Serra, agreste e genuína

Por Carla B. Ribeiro

No coração de Portugal, o concelho de Pampilhosa da Serra assume-se cada vez mais como destino turístico alternativo. À boleia das Aldeias de Xisto e do que a natureza no seu estado de beleza mais pura oferece, partimos em busca do toque autêntico do concelho beirão. Por entre caminhos antigos, aldeias de pedra, cozinhas fartas, mergulhos em ribeiras ou subidas vertiginosas à montanha.

O sol começa a dar os seus primeiros sorrisos e, ainda com Agosto a comandar as hostes, demora pouco até sermos atingidos pelo calor seco que tradicionalmente invade a região por estas alturas. Os nossos passos são hoje dados por terras da Pampilhosa da Serra, concelho do distrito de Coimbra, e por aqui o calor não costuma dar tréguas logo a partir das primeiras horas destes dias.

Os céus, porém, até acabarão por revelar-se bondosos à nossa passagem: as nuvens aconchegam o passeio, presenteando-nos com prazenteiras sombras, e ainda conseguimos ser brindados por uns chuviscos de Verão que servem para realçar os cheiros fortes da serra, adocicados pelos frutos das figueiras, das videiras ou dos medronheiros. Já os campos de cultivo foram na sua maioria abandonados e hoje prestam-se a servir de paisagem a caminhantes oriundos um pouco de todo o mundo, que chegam em busca da genuinidade beirã que se revela quer na natureza, quer nas gentes ou sabores.

Estamos num território encaixado entre os municípios de Arganil e Góis (Coimbra), Covilhã, Fundão, Oleiros e Sertã (Castelo Branco) ou Pedrógão Grande (Leiria), um interior onde a genuinidade parece começar logo pelo trato: a cada passo que damos, por aqui ninguém nega a saudação, por isso o melhor é viajar apetrechado com muitos bons dias, boas tardes, boas noites.

Já os sorrisos não são imediatos, mas quando se abrem, abrem-se mesmo e não é de estranhar que a qualquer altura alguém lhe abra também a porta de casa (ou, mais frequentemente, da loja de casa, o piso térreo onde, tradicionalmente, se encontram as adegas ou os lagares). E, se isso não acontecer, em Fajão há sempre uma casa pronta a receber visitantes: o Museu Monsenhor Nunes Pereira (1906-2001) exibe não só um relevante espólio deste pintor como recria a vida na região - o antigo forno a lenha, que tanto dava para cozinhar como para aquecer as longas noites de Inverno, o prato da tiborna, que tradicionalmente servia para todos comerem, as camas pequenas enfeitadas com mantas de retalhos, o bacio debaixo da cama e, ao lado do leito, a bacia de pé em esmalte para lavar o rosto logo pela manhã e, dizem ainda alguns dos mais velhos, espantar os agoiros.

Fajão é terra onde o tempo passa devagar e por aqui ficamos a saboreá-lo. Povoação integrada na rede de Aldeias de Xisto, foi recuperada no âmbito desse mesmo projecto, num conjunto de obras que congregaram capitais públicos e o investimento de cada proprietário e que pôs a nu o xisto escondido sob o estuque e o cimento. A freguesia, noutros tempos sede de concelho, guarda algumas riquezas (recuperadas), caso dos antigos paços, que incluíam uma prisão, agora reconvertidos em pousada (apropriadamente baptizada de A Cadeia).

A meio da manhã da pacata Fajão, poder-se-ia pensar que nem uma folha bule. Mas não. E há fortes razões para isso. É que é dia de cabrito no Pascoal, o restaurante da aldeia (ex-Juiz), e por isso ainda o sol não vai a pique e já há rebuliço pelas ruas. "Se fosse segunda-feira", dizem-nos, "não se via vivalma". Razão evidente: é o dia de descanso do restaurante. Mas nós tivemos pontaria. Hoje é quinta-feira e as iguarias que se preparam atrás das paredes de xisto do Pascoal começam logo por conquistar-nos pelos aromas que invadem as ruas estreitas e íngremes da aldeia.

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