É difícil pensar que aqui já houve uma lixeira. Mas é verdade: o parque é o resultado da reabilitação paisagística e tratamento do antigo aterro sanitário de Beirolas, um local de má memória e pior cheiro ainda, desactivado para que a Expo-98 pudesse ter lugar. Hoje temos aqui um caminho paralelo ao rio onde se passeia, corre e anda de bicicleta. Os cruzamentos vão dar a outros caminhos, que se embrenham na zona verde. E mesmo debaixo da ponte o ruído é mínimo. Só a passarada é que não se cala. Quando desce a maré e os lodos do Mar da Palha ficam à mostra, chegam a avistar-se garças, enquanto as árvores servem de abrigo aos verdilhões.
A noite começa a cair e já não há ninguém nem no terreiro de desportos radicais nem no relvado de jogos. Ao longe, um avião levanta do aeroporto e sobe em direcção às nuvens, que ganharam impossíveis matizes de rosa barrento. É como se as entranhas da terra tivessem subido ao céu, desafiando o sol. Catarina de Bragança continua virada ao Tejo. Deve ter-lhe sido difícil partir.
Parque do Tejo e do Trancão
Parque das Nações
Tel.: 218 919 898
info@parqueexpo.pt
http://www.parqueexpo.pt/
Não encerra
Jardim Botânico Tropical
Vocação didáctica
A majestade das palmeiras que ladeiam a alameda da entrada, visíveis mesmo antes de cruzarmos o portão, diz-nos que entrámos noutro mundo. Um mundo verde com uma escala diferente da nossa, simples mortais. Muitos metros acima da escala. Um mundo antigo onde os anos se transformam em décadas e depois em séculos - ou não fossem algumas destas palmeiras capazes de atingir os 200 anos.
Criado por decreto régio junto aos Jerónimos, no arranque do século passado, o jardim colonial tinha uma vocação didáctica clara: servir para que os alunos dos cursos de ciências não ficassem "imaginando somente como são os animais e os vegetais", mas tivessem "a noção viva da realidade". E ainda hoje isso acontece. Os pavões convivem em harmonia com os galos. E no fim do Inverno as patas escondem os ninhos por entre os arbustos, para depois aparecerem pelo jardim ninhadas de patinhos, que as seguem até ao grande lago da entrada.
Uma ilha no centro do espelho de água dá guarida a várias árvores de fruto: uma goiabeira, uma ananoneira, um abacateiro e uma bananeira.
Hoje o recinto chama-se Jardim Botânico Tropical, e, ao mesmo tempo que conserva muitos dos encantos que lhe granjearam fama, continua envolvido nas missões de investigação científica que lhe deram origem, desenvolvendo ainda actividades periódicas para crianças. O parque e as estufas do Jardim Botânico Tropical reúnem cerca de 500 espécies vegetais diferentes. Destas, destaca-se, perto do lago, uma gigantesca figueira da Austrália e a colecção de gingkos, praticamente extintos no seu habitat natural, a China, e que alguns botânicos consideram ser a espécie viva geneticamente mais antiga. A sua origem remonta há milhões de anos, e alguns dos exemplares que ainda resistem na China chegam a atingir os 20 metros de perímetro. Antes de caírem, no Outono, as suas folhas tornam-se de um amarelo intenso, dourado.