Quando veio da sua volta ao mundo, Filipe nunca mais quis rotina. Chegou diferente. Com um "auto-conhecimento brutal", mais tolerante, paciente, sim, e decidido "a, enquanto for possível, não ter um emprego normal de escritório, com horário e patrão". E queria viver ligado às viagens, à fotografia e à escrita.
Com o site de viagens que criou, Alma de Viajante, conseguiu-o, complementado com as reportagens que publica em diversas revistas. Se não tivesse família, até poderia trabalhar numa praia na Tailândia. Como tem, e como desde que a Inês nasceu passou a fazer mais viagens, mas mais curtas ("tanto por questões práticas, como pela relação afectiva"), volta e meia, meio a sério, meio a brincar, dizia: "Qualquer dia fazemos todos a volta ao mundo." Desta vez, a iniciativa partiu de Luísa. E perceberam que o momento era agora, até porque Inês ainda está no pré-escolar.
"Ainda é fácil de gerir", explica Filipe, "depois, não nos sentimos à vontade para assumir a escolaridade dela". "E a escola é importante pela socialização", continua Luísa. Mesmo agora, Inês não vai cortar os laços com os colegas: reuniões por Skype com a escola, por exemplo, já estão marcadas (por iniciativa da educadora) para que quando ela volte não seja uma estranha. Durante a viagem, também terá tempo para socialização. A ideia é que Inês contacte com outras crianças, que perceba as diferenças e veja as semelhanças, que entenda a diversidade. É umas das sementes que os pais esperam estar a plantar outra é a sensibilização para as questões da conservação da natureza e do turismo ambiental, sustentável.
Pela Inês, Luísa e Filipe sabem que esta viagem vai ser diferente das anteriores mais previsível (têm bilhetes de volta ao mundo), com actividades que não fariam sozinhos e com um ritmo distinto ("teremos de viajar mais devagar", explicam, "as crianças aguentam bem, mas ao seu ritmo, volta e meia têm de parar") mas esta é uma viagem de família. A preocupação na preparação foi tripla: as experiências que podem proporcionar à Inês, os interesses mútuos e os locais que ainda não conhecem. O resultado estará online, no Diário da Pikitim.
Projecto e itinerário
O projecto, explicam no site, "tem subjacente uma ideia tão arrojada quanto simples: viajar a três, em família, com uma criança". Objectivo: "mostrar à nossa filha, quase a fazer cinco anos, que habitamos numa pequena gota de um grande oceano chamado Terra", "feito de uma enorme diversidade e que, no lado oposto desse globo terrestre, os meninos vivem e falam e brincam de forma diferente, mas são apenas meninos como ela". "Queremos voar nas asas dela - que nada, nem ninguém, tem asas mais poderosas do que a imaginação de uma criança", escrevem. A viagem "dará à pequena Pikitim preciosas ferramentas para o seu crescimento, sementes a partir da qual germinará uma cidadã tolerante, solidária, responsável, perspicaz".
O espírito é "viajar devagar" sob o mote do "turismo responsável". A volta ao mundo tem início nos primeiros dias de Janeiro e durará todo o ano de 2012. Porquê agora?: "Antes a petiza pouco aproveitaria a viagem e daqui a nada será altura de começar a escola primária; o momento é, pois, agora. Regressaremos a tempo do primeiro ano de escolaridade da pequena Pikitim".