Fugas - Viagens

  • Luís Maio
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Zadar e o Órgão do Mar

O melhor miradouro sobre a cidade é, no entanto, o alto do majestoso campanário da catedral gótica da Santa Anastácia, colado à supracitada Igreja de São Donato. Daí se desfrutam as melhores vistas a 360 graus sobre a península, as ilhas e o continente, enquanto se espreitam os transeuntes que circulam cá em baixo, no fórum e ruas adjacentes. Montra de mais de dois mil anos de história, Zadar não é, porém, uma cidade fossilizada só-para-turista-ver, contando com uma forte demografia juvenil, boa parte da qual universitária. Uma das instituições académicas mais antigas da Europa, a universidade está sediada num edifício neoclássico mesmo à beira-mar, que constitui outro belíssimo postal da cidade.

Jovens e turistas justificam a profusão de lojinhas de roupa e bugigangas sediadas em edifícios plurisseculares, mas também de esplanadas e locais de diversão nocturna, sobretudo concentrados nas imediações do cais. Mais do que visitar este ou aquele monumento, no entanto, o que vale a pena fazer na cidade-península é vaguear ao acaso nas suas estreitas ruas pedonais, pavimentadas com grandes lajes de pedra calcária. Essa pedra, também empregada na construção dos edifícios mais nobres, é reluzente, emprestando uma luz insólita a essa combinação singular de obras-primas do passado, mamarrachos modernos, ruínas e vazios urbanos, que constitui o centro histórico de Zadar.

Instalações mágicas

Na pressa da reconstrução decorrente da Segunda Guerra Mundial, a maior parte do litoral ocidental da península foi coberto por um murete de betão, pouco fotogénico e nada propício à fruição do Adriático. No início do novo milénio, a edilidade lançou-se num projecto de requalificação que levou à substituição do infeliz murete por um passeio marginal, coroado na ponta norte por uma escadaria em mármore de 70 metros de comprimentos, cujos degraus dão acesso directo ao mar.

Parece uma versão estilizada de um desses sonhos da Arcádia que deleitava a fina- flor da aristocracia grand tour do século XVIII. Com a grande diferença, claro, dos figurantes dessa paisagem idílica não serem os campónios de outrora, mas os actuais veraneantes e turistas de fato de banho. Agora Zadar é também esse luxo: um destino por excelência para o turismo cultural, onde se pode ir a banhos no mar nas margens do centro histórico. A escadaria convida ao mesmo tempo que protege do mar, mas é muito do mais do que isso, quando por baixo dos seus degraus se encontram 35 tubos em poliestireno e uma caixa-de-ressonância que se conjugam para produzir um Órgão do Mar.

Accionado pelo movimento das águas do mar e pelo vento, o engenho debita a toda a hora combinações sónicas aleatórias. De uma forma ou de outra, no entanto, acabam por soar harmoniosas ou musicais, em virtude da combinação matemática de tubos de comprimentos diferentes. É extraordinário mergulhar ou nadar nas águas tépidas do Adriático ao som desta prodigiosa música dos elementos, mas mais ainda é tomar assento nos degraus de mármore para assistir ao pôr do sol - certamente um dos mais bonitos do mundo - , tomando-a por banda sonora.

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