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Um arco-íris de carnavais brasileiros

O Galo da Madrugada é sobretudo isso, uma longa sucessão de orquestras de frevo montadas em trios eléctricos, camiões TIR localmente mais conhecidos por "freviolas". Este corteja só por si chega e sobra para "arrastar" multidões de "passistas" (como se chamam os dançarinos de frevo), sem recorrer a cordões super-organizados, nem a luxuosos carros alegóricos. Nesse aspecto o Carnaval do Recife contrasta, e muito, com os seus homólogos mais encenados e endinheirados da Baía, do Rio ou de São Paulo. É por certo uma festa gigantesca, onde a capital de Pernambuco mais genuinamente se retrata.

Quando acaba o Galo ainda há muito Carnaval para gozar, mas a diversão muda de registo e também de cenário. Passa a haver uma espécie de zona demarcada de folia, correspondendo a cerca de 12 km2 do centro histórico da cidade, onde se encontram montados oito pólos de animação, a que se acrescentam mais nove palcos descentralizados, disseminados pelo resto da cidade. O programa de festas inclui quatrocentos espectáculos gratuitos, dos quais participam 800 agremiações locais, mas há também shows mais convencionais a cargo de uma longa lista de artistas profissionais.

O Marco Zero - ampla praça com o nome oficial do Barão do Rio Branco, onde arrancam as estradas de Pernambuco -, fica reservado para as grandes estrelas da música brasileira e um punhado de celebridades internacionais. No Cais da Alfândega decorre anualmente o Rec Beat, festival dedicado a artistas mais jovens e alternativos, enquanto o Pátio do Terço acolhe manifestações de raiz africana. É neste último, justamente, que acontece a Noite dos Tambores Silenciosos, apoteose mística do Carnaval do Recife.

Durante a noite de segunda-feira, as estreitas ruelas do Bairro de São José são invadidas por nações de maracatus com os seus batalhões de tambores e gaitas, mas também cortes inteiras vestidas algures entre a realeza africana e a nobreza europeia do Barroco. O seu destino é só um, a Igreja de Nossa Senhora do Terço, onde à meia-noite em ponto se calam os tambores e a iluminação pública é cortada, sendo os maracatus encaminhados por tochas até à porta da igreja. O silêncio é finalmente quebrado pelas rezas em coro das mães-de-santo, num ritual de uma enorme intensidade dramática.

Há muito mais do que isso no Carnaval do Recife, cuja programação também inclui cortejos de candomblé de rua ou afoxé, e actuações de grupos especializados em danças de roda, como a ciranda e o coco, e escolas de samba procedentes de outros lados. No meio disto tudo, entre espectáculos e pólos de animação, é quase forçoso cruzar algum dos blocos líricos, que desfilam em contínuo e mais provavelmente sem plano pelo centro histórico da cidade, recriando sonoridades e fantasias de outras épocas.


Super-heróis em Olinda

Há quem prefira o Recife, há quem prefira Olinda, há até quem passe o Carnaval inteiro a fazer io-iô entre as duas cidades litorais, entre si separadas por apenas sete quilómetros de distância. Claro que se notam semelhanças e até coincidências, incluindo blocos que desfilam em ambas. Mas o Entrudo de Olinda é um negócio à parte, logo a começar pelo "salão" de festas em que se converte o seu centro histórico - uma das jóias coloniais mais bem preservadas do Brasil, "tombado" pela UNESCO em 1982.

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