As famosa pastelarias Frigideiras do Cantinho teêm agora a companhia da sensação bracarense, a Spirito Cupcakes & Coffee, com o seu lounge na praceta, quase ombro a ombro com a Igreja dos Coimbras. A Casa dos Coimbras, monumento nacional com janelas manuelinas a sobressaírem, é agora um dos bares de fim-de-semana mais procurados, e a Casão Rolão, imóvel de interesse público, acolhe a livraria Centésima Página, referência cultural da cidade.
A Sé, essa, tornou-se centro de uma nova movida, que se estende pelas ruas circundantes. O restaurante japonês Hocho já é uma referência, mas nas imediações encontra-se cozinha regional, de autor e vegetariana, há vários wine bars e bares de tapas, a Casa Grande Chocolatier é um oásis retro, Pedro Remy corta cabelos ao som de jazz. Mesmo no Rossio, é o profano que domina, entre têxteis, artesanato, recuerdos, restaurante, loja gourmet, cafetaria, Steve Jobs a espreitar de um "authorized reseller Apple". Foi aqui que Rafael Oliveira, 33 anos, abriu, com a mulher em Outubro passado, o Mercado da Saudade -, em Outubro do ano passado - à porta, um mupi de "azulejos" dá o tom da loja de "produtos portugueses de qualidade e estética cuidada".: MPpor isso, escolheram uma imagem "reconhecidamente portuguesa e alegre" - (mais tarde, cruzar-nos-emos com estudantes polacos em visita de intercâmbio têm: os azulejos na memória estão na sua boca como algo de memorável na cidade e - os do Convento do Pópulo são imperdíveis). Entre pasta dentífrica Couto e compotas biológicas, Rafael mostra-nos o Rossio da Sé, o jornal mensal que criou para divulgar não só o espaço mas toda a zona "abandonada durante muito tempo". De há um ano e meio para cá, diz, há uma "nova pujança"., um pouco o que ele esperava quando decidiu abrir aqui a sua loja, motivado pelo exemplo espanhol.
Instalou-se em Braga há 10 anos e de então para cá viu muito mudar em Braga. Três anos antes chegou Rui Ferreira, 40 anos, agora seu vizinho da frente, no Estúdio 22. Radiologista, decidiu abrir um café-bar-galeria faz um ano em Abril e não se arrependeu. "Foi um risco calculado, sabia que a zona estava a crescer." Entre os ocasionais turistas, tem um público fiel que já não se surpreende com a lista de 12 gins que apresenta - juntamente com a agenda ecléctica de concertos (de bandas locais, nacionais e internacionais) e exposições.
A inspiração Mão Morta
Antes do Estúdio 22 e da sua programação mais ou menos transversal, houve a Velha-a-Branca -- e se ela foi umas semanas ao Brasil para o Carnaval, como se lê na porta, vai voltar de cara lavada. Abriu em 2004 pelas mãos de um punhado de gente jovem com grande vontade de mexer o marasmo cultural dinstalado na cidade. "Havia muito pouca coisa", recorda Luís Tarroso, um dos responsáveis, "o Theatro Circo já estava fechado há cinco anos, ainda não havia a nova biblioteca...". A "Velha", como é conhecida, tornou-se um pólo aglutinador de várias actividades, como exposições, lançamentos de livros, conversas, workshops, música, cinema e um bar como ponto de encontro. Uma espécie de centro cultural informal instalado numa casa do século XVIII que chegou a uma encruzilhada. "Muita gente passou a fazer o que nós fazíamos, o que é óptimo, mas agora queremos fazer outras coisas." Programação nova e maior abertura a outras instituições da cidade, que Luís vê jovem mas inconsequente nessa juventude. "Ser uma cidade jovem não é nada", afirma. "É a que produz mais coisas? Não. Os jovens já estão cá, por um conjunto de circunstâncias que os políticos não dominam."