Fugas - Viagens

  • São só 583 degraus.
    São só 583 degraus. Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  •  O templo projectado por Carlos Amarante foi concluído em 1811.
    O templo projectado por Carlos Amarante foi concluído em 1811. Nelson Garrido
  •  O templo projectado por Carlos Amarante foi concluído em 1811.
    O templo projectado por Carlos Amarante foi concluído em 1811. Nelson Garrido
  • Hotel Elevador
    Hotel Elevador Nelson Garrido
  • O primeiro funicular da península ibérica.
    O primeiro funicular da península ibérica. Nelson Garrido
  • É o funicular mais antigo do mundo em funcionamento.
    É o funicular mais antigo do mundo em funcionamento. Nelson Garrido
  • O elevador foi inaugurado em 1882.
    O elevador foi inaugurado em 1882. Nelson Garrido
  •  Para além do património, o Bom Jesus também se afirmou pelo seu lago, bosque e complexo de grutas.
    Para além do património, o Bom Jesus também se afirmou pelo seu lago, bosque e complexo de grutas. Nelson Garrido
  • Uma das mais impactantes imagens que perduram na memória dos visitantes.
    Uma das mais impactantes imagens que perduram na memória dos visitantes. Nelson Garrido

Bom Jesus, uma tela barroca sobre a paisagem verde

Por Sérgio C. Andrade

A igreja do Bom Jesus do Monte tem dois séculos. É o mais conhecido dos montes sagrados do país, com uma Via-Sacra num desconcertante realismo naïf. E é, simultaneamente, uma estância de turismo, dotada com um elevador pioneiro na península. Subimos a pé o meio milhar de degraus da Paixão, admirámos o barroco e a paisagem e descobrimos que, em breve se vai poder voltar a "ver Braga por um canudo" graças ao regresso do lendário monóculo.

O dia 25 de Março de 1882 marca um momento de viragem na história do Bom Jesus do Monte, em Braga. Não porque essa data tenha alguma relação com o calendário religioso deste que é um dos principais lugares de veneração para a comunidade católica no Norte do país, e uma referência dos chamados sacro-montes, que, na sequência do Concílio de Trento (século XVI), restauraram a experiência crística de Jerusalém. Mas porque, tendo-se aí realizado, nesse dia, a inauguração de um funicular pioneiro no país -, os cristãos que demandavam esse lugar sagrado passaram a poder (e ter de) optar entre fazer o percurso da Paixão a pé ou de... elevador.

Os registos históricos mostram que, no final desse ano de 1882, o número de visitantes do Bom Jesus subiu de 10 mil para os 76 mil. Mas não é possível calcular o número daqueles que continuaram a subir a pé os 583 degraus que separam o pórtico que assinala o início da Via-Sacra da porta do icónico templo projectado pelo arquitecto Carlos Amarante (1748-1815), e que foi inaugurado fez em Setembro dois séculos - data que é pretexto para um calendário de iniciativas, entre as quais está um Congresso Luso-Brasileiro do Barroco, a decorrer no próximo fim-de-semana (ver caixa).

A reconstituição da Via Dolorosa no Monte de Espinho fronteiro a Braga - e que acolhe dois outros lugares incontornáveis no roteiro turístico-religioso da Cidade dos Arcebispos, o Sameiro e a Falperra (ver caixa) - foi iniciada em 1723, por decisão do bispo D. Rodrigo de Moura Telles (1644-1728). Surgiu num lugar que já tinha história consagrada, e na sequência de outras vias-sacras que então existiam em Braga (no Convento do Pópulo) e noutras localidades do país, com destaque para a do Buçaco, que vinha do século anterior.

Diz a lenda associada à História que, na batalha do Salado (1340), em que Afonso IV se reuniu a Afonso XI de Castela para lutar contra o reino muçulmano de Granada, participou o arcebispo de Braga D. Gonçalo Pereira (1280-1348), e que a vitória dos cristãos foi ajudada pela intervenção de Santa Cruz do Monte. A assinalar o patrocínio divino, o arcebispo mandou erigir no monte bracarense uma primeira ermida, que depois seria substituída por uma "fermosa capela com imagem milagrosa, assistida de ermitães e festejada por grandes despesas pelos melhores da Cidade" (segundo uma citação do historiador Carlos Alberto Ferreira de Almeida), que, no início do século XVIII, daria lugar ao actual tempo projectado por Carlos Amarante.

Jerusalém restaurada

O Bom Jesus que hoje conhecemos é o resultado da justaposição de diferentes intervenções ao longo dos anos. E a melhor forma de entender isso é mesmo esquecer a comodidade do elevador, e deitar os pés às escadas - porque é esse o sentido certo da Via-Sacra.

Um primeiro lanço de degraus faz-nos passar por baixo do pórtico, marcado pelo brasão do bispo D. Rodrigo Teles e pela inscrição na parede "Jerusalem Sancta restaurada e reedificada no anno de 1723" - o que pode fazer crer que uma Via-Sacra anterior já aí existisse, algo que é ainda tema de debate historiográfico.

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