Não dominam, mas dedicam-lhes alguma atenção: um dos projectos mais perenes da CEJ promete ser o GeNeRation, o pólo de criação artística que vai transformar o antigo quartel da GNR num centro de indústrias criativas (a abertura está prevista para meados do ano). O resultado vai demorar algum tempo a aferir e por enquanto a cultura bracarense vai sendo dinamizada pelo voluntarismo de uns poucos. Aqueles que à segunda-feira têm Cinema de Almofada (na Videoteca Municipal, porém de iniciativa privada), que se revêem em associações como a Aenima ou Projéctil, frequentam a Galeria Mário Sequeira, em Parada de Tibães, e não desdenham dos Encontros da Imagem ou do Theatro Circo, que é a grande sala de espectáculos da cidade.
Mas este Theatro Circo tem um problema, assinala Luís Fernandes, músico dos peixe:avião - é um espaço formal para bandas mais pequenas. Bandas como as que, afinal, compõem o circuito normal português. E não há muitos espaços alternativos, continua Luís, para Braga ter uma agenda contínua de concertos de pequena e média dimensão (o Braga Viva, no antigo Cinema Avenida, parece ser santo-e-senha na boca de todos os que estão ligados às lides múusicais). Apesar de por estes dias estar a viver um boom musical como não se via desde os anos 1980, que deram ao mundo viram nascer os Mão Morta, ainda hoje referência incontornável na música portuguesa e figuras tutelares das bandas de garagem que abundam - e que se "encontram" nas salas de ensaio que a câmara municipal montou no Estádio 1.º de Maio.
Enquanto não abrem mais espaços para concertos, as bandas bracarenses dão-se a conhecer na quarta edição da colectânea À Sombra de Deus. E os festivais continuam a nascer (e a morrer) em Braga - por exemplo, o Semibreve, dedicado à electrónica experimental, de que Luís Fernandes é um dos organizadores, vai regressar inserido na programação da CEJ; o FMI (Festival de Música Independente) está num impasse, confessa Francisco Quintas, que depois de ter sido programador é agora o "responsável pela pasta". E as editoras agências/promotoras de eventos vão aparecendo: Francisco fundou a Popanolica no final do ano passado; Luís Fernandes - aka Astroboy - juntou-se aos colegas de banda e formaram a PAD, uma editora que é como um colectivo de artistas unidos sob o mesmo tecto.
Cidade dividida
A tarde nas "arcadas" é sobressaltada pela invasão de jovens deem macacão azul, com logótipo da CEJ, e caixotes na mão. É uma pré-iniciativa, contam-nos, do [Em] Caixote, programa da CEJ que pretende dinamizar o centro histórico. Hoje temos animação de rua (haverá música, dança...) para atrair mais jovens ao centro. Sim, esta é, apesar das estatísticas, uma cidade fracturada. Buscam-se os universitários, que vivem numa espécie de Braga 2.
O divórcio entre a cidade e a universidade começou no início dos anos 1990, recorda Camilo Silva, animador cultural. E acentuou-se no final dos anos 1990, quando a barreira física da Avenida Padre Júlio Fragata se tornou uma corrida de obstáculos para peões, e a zona de Gualtar, onde fica a universidade, se tornou praticamente autónoma, com lojas, restaurantes de "comida rápida". Do lado de lá dessa barreira ficaram também os cinemas e a Fnac, por exemplo - e os estudantes passaram a ir ao centro de forma esporádica. Durante a tarde, as imediações da universidade estão transbordamantes de estudantes nas esplanadas; , à noite são os bares e discotecas daqui que se animam.