Fugas - Viagens

  • Rio Zayandeh em Esfahan
    Rio Zayandeh em Esfahan Ana Catarina Almeida
  • Num restaurante em Teerão
    Num restaurante em Teerão Ana Catarina Almeida

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No Irão, uma viagem pelo inimaginável

A luta feminina pela recuperação de direitos é, aliás, tema de discussão que envolve toda a sociedade. A mulher iraniana não é o ser frágil, tímido e submisso que muitos europeus imaginam. O encanto e a personalidade das mulheres persas – 55 por cento da população pertence a essa etnia majoritária – já era cantada pelos poetas da antiguidade. Confirmei que elas têm olhos enormes, com uma luminosidade que realça a brancura da pele e a beleza e serenidade das feições. E sustentam desafiadoramente o olhar de qualquer desconhecido que as fite. 


Um povo com 25 séculos
 

O Irão é um país prodigiosamente rico em recursos naturais. Com 70 milhões de habitantes e uma superfície de 1.650.000 km quadrados (o triplo da da França), é o quarto exportador mundial de petróleo e possui as segundas reservas de gás e petróleo do planeta.

Quase tudo ali difere da imagem de terra de violência, fanatismo e atraso económico e social difundida no Ocidente pela comunicação social. Encontrei um povo amável, cativante na relação com o estrangeiro, educado (apenas 8por cento de analfabetos), com uma alegria de viver hoje rara no mundo.

A cicatrização das feridas abertas pela guerra imposta por Sadam Hussein (meio milhão de mortos iranianos e dezenas de cidades destruídas) produziu-se rapidamente, assim como a recuperação económica. O nível de desenvolvimento no sector avançado é comparável ao de países como o Brasil e o México, com a diferença de que na sociedade iraniana não existem milhões de párias.

A indústria automóvel produz quase 500.000 veículos por ano, entre carros e camiões. Os modelos mais vendidos são nacionais e o Estado é proprietário da maioria das fábricas.

O país é praticamente auto-suficiente no sector alimentar. É um dos grandes produtores mundiais de trigo (13 milhões de toneladas anuais) e cultiva parte do arroz e do milho consumida. Exporta frutas. O rebanho nacional conta com 60 milhões de ovinos, 26 milhões de caprinos e 11 milhões de bovinos. Exporta para todo o mundo os seus tapetes de prestígio milenar.

O Estado controla a indústria química. Tive a oportunidade de verificar que os medicamentos, predominantemente genéricos, são baratíssimos, com preços irrisórios. A segurança social é estatal, assim como a indústria militar. Mas cabe recordar que a Pérsia (o pais só mudou de nome no século XX) foi sempre, ao longo da sua história, um importante centro de produção de armas. As principais universidades são públicas, o que surpreende num pais onde o poder religioso predomina sobre o civil.

O ayatollah Kamenei, guia supremo da revolução islâmica, é a autoridade máxima da República, acima do Presidente, Amadinejah. Essa presença hegemónica do Estado numa sociedade de ideologia teocrática onde a religião e o capital mantêm excelentes relações é uma das contradições que desconcertam os estrangeiros. É preciso não esquecer que o pequeno e o médio comércio funcionam no Irão há pelo menos 18 séculos como motor da estabilidade económica. O capitalismo de Estado da Revolução Islâmica é um estorvo para as grandes empresas, mas convive amistosamente com as pequenas.

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