Quem passar por estes dias pela praça do Martim Moniz, por entre os quiosques do Mercado Fusão, repara que há por ali ainda mais mundo que habitualmente. Além das gastronomias de vários pontos do planeta, a praça volta a ser uma galeria de arte ao ar livre, com grandes fotografias que retratam a China ou a Índia. São parte das "Viagens" de Joel Santos e estarão por ali durante os próximos três meses. São também um aperitivo para uma mostra maior que este fotógrafo viajante inaugurou esta semana.
E, depois de uma década de muitas viagens e milhares de registos, como se escolhem apenas duas dezenas de imagens que retratem o mundo de uma pessoa? Ou, mais difícil, que retratem o mundo deste economista que trocou as economias pela fotografia profissional? "É mais difícil escolher do que fazer", diz-nos Joel Santos, 34 anos. "É como escolher entre filhos". Mas os "filhos" estão escolhidos: são 21 imagens, reunidas sob o mote "Viagens".
O fotógrafo - especializado em viagens, natureza e retratos, formador, guia e autor de livros sobre fotografia - leva-nos à China e Índia, Indonésia e Timor-Leste, Islândia e Escócia, e, entre outros destinos, a alguns sítios menos vistos de Portugal. Para Joel Santos é uma mostra que cai como cereja no bolo numa temporada profícua que incluiu livros de retratos da Índia ou dedicados à edição fotográfica.
Para a exposição agora estreada, Santos estabeleceu critérios simples: "Teria que ter 80% de trabalhos recentes, sendo que muitas das coisas foram feitas já este ano", conta-nos. "Queria imagens que levassem as pessoas a sítios importantes para mim" e que "fossem bastante diferentes". "Para mim, é importante ter variedade, no tipo de paisagens, claro, mas também no tipo de cores do conjunto", refere, pensando também na viagem que cada espectador fará pela mostra. "E sou muito picuinhas com a qualidade, grande parte do meu prazer é o momento, mas também o rigor com que consigo registar", diz.
"Viagens" é uma verdadeira volta ao mundo, composta por "sítios emblemáticos" onde esteve. Vamos de uma muralha a um edifício mais moderno na China, de locais "muitas vezes virgens" a pontos de um Portugal menos conhecido, nas ilhas das Flores ou Corvo ou mesmo uma gruta no Algarve.
A economia da fotografia
Licenciado e mestre em Economia, Joel Santos confessa que não se via "como o típico economista" - "mas continuo a ser um economista internamente", "a parte racional vem da Economia". Não em vão, gere a sua própria empresa. Começou por dedicar-se, como hobby, à fotografia. Seria em 2004 que uma grande viagem lhe mudaria a vida. Passou três anos em Timor-Leste, como docente da Universidade de Economia, numa experiência que também o marcaria a nível fotográfico, apaixonando-se pelo "retrato espontâneo e pela reportagem de vida quotidiana". Já em Portugal, passaria pelas revistas especializadas "FotoDigital" e "O mundo da Fotografia Digital" (que dirigiu) e começaria a colaborar com publicações várias, tanto nacionais como estrangeiras, com centenas de artigos e fotos publicados e prémios vários conquistados.
Dedicando-se a leccionar vários workshops, cursos e até a guiar viagens fotográficas (com a fotógrafa Magali Tarouca), o último livro publicado por Santos vai dirigido a quem gosta de fotografar e quer ampliar as suas capacidades de edição digital. O título explica tudo: "Fotoedição: O Guia Essencial de Pós-produção com Photoshop Lightroom e Adobe Camera Raw", lançado em Novembro. Segue-se a outros "best-sellers" dedicados à arte fotográfica e ao digital (o primeiro foi em 2007). Santos faz uma ressalva: "É o que se pode fazer a partir do momento em que já registamos a imagem, o que se pode fazer com ela. Mas fora das conotações de fabricar uma foto em casa. Não acredito nisso", afirma: "O meu trabalho não é assim". "É essencial dar o melhor no terreno, depois vamos à revelação".
Mas esta não é a única edição do autor nos últimos tempos. Já este ano, lançou um criativo FotoPad, um caderno e guia de terreno que faz lembrar os temáticos "moleskine" mas que está repleto de conteúdo. "É uma espécie de livro enriquecido com dicas, cábulas para ajudar... É um bloco de notas para o terreno", resume. E, refira-se, em lugar de incluir fotos, é profusamente ilustrado pela arte a aguarelas de Tiago Cruz.
Já nos finais de 2011, Joel Santos levava-nos por rostos da Índia com "A Cor do Contraste". Uma edição luxuosa para uma colecção de retratos da "sua" Índia, em que os rostos substituem os habituais ex-líbris indianos. "Antes de pensar em fotografia, já tinha o sonho da Índia", diz-nos. Uma viagem marcante que até cumpriu algumas moléstias em que incorrem muitos viajantes por aquele país. "Aleijei-me", "fiquei mal do estômago...". Mas ainda assim, foi "tão intenso que a vontade tornou-se paixão": "Concentrei-me nas pessoas e o livro é uma viagem pela Índia, através dos seus olhares, um contacto muito íntimo. Sem mostrar um monumento ou um local". É como se os verdadeiros monumentos do país fossem as suas pessoas.
Aliás, quem quiser acompanhar o autor pela Índia pode até fazê-lo em breve, já que uma das suas actividades é ser guia de viagens fotográficas (em colaboração com a agência Papa-Léguas) e a próxima é precisamente à explosão de cores que é o Festival Holi, em Março. Ao longo do ano, vai sempre realizando algumas destas viagens fotográficas, dentro e fora do país. "São grupos pequeninos, de três, seis, 12 pessoas", explica. "Damos apoio fotográfico nestes destinos que conhecemos muito bem. Índia, China, Indonésia...". O participante tem a oportunidade do turismo e de melhorar no "terreno real" a sua fotografia de viagens. E, refere, "o fotografar não se prende apenas com a técnica", explica, exemplificando: "Nota-se que muita gente é tímida, aconselhamos como interagir com as pessoas que se quer fotografar, sem 'vestir a pele do caçador'".
Para 2013, a agenda de Joel Santos promete continuar cheia. "Provavelmente", lançará um novo livro, "ainda em fase de planeamento", prosseguem as sessões de formação e workshops (também em colaboração com a Papa-Léguas ou a comunidade fotográfica Retina), além de "seis ou sete viagens fotográficas". Na manga ainda, até porque é "embaixador" da marca Canon para a Europa (em retrato, natureza e fotografia de viagem), alguns projectos a nível internacional.
Enquanto isso, é acompanhar a odisseia do fotógrafo resumida na mostra "Viagens": além das grandes imagens do Martim Moniz, a exposição poderá ser vista na Colorfoto (Alvalade, Av. da Igreja, 39 D/E); depois de Lisboa, deverá seguir para o Porto e, possivelmente, Algarve e Açores.
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