Fugas - Viagens

  • Um homem carrega um quadro com Jesus Cristo em Larantuca
    Um homem carrega um quadro com Jesus Cristo em Larantuca Beawiharta/Reuters
  • Uma freira emociona-se durante a representação do momento da crucificação de Jesus Cristo
    Uma freira emociona-se durante a representação do momento da crucificação de Jesus Cristo Beawiharta/Reuters
  • Residentes de Larantuca recriam o momento da crucificação de Cristo
    Residentes de Larantuca recriam o momento da crucificação de Cristo Beawiharta/Reuters
  • Um crente ajoelha-se descalço para beijar a imagem de Cristo
    Um crente ajoelha-se descalço para beijar a imagem de Cristo Beawiharta/Reuters
  • As filas para se rezar em frente a uma imagem de Cristo duram horas, por vezes toda a noite
    As filas para se rezar em frente a uma imagem de Cristo duram horas, por vezes toda a noite Beawiharta/Reuters
  • Centenas de velas iluminam a procissão nocturna
    Centenas de velas iluminam a procissão nocturna Beawiharta/Reuters
  • Sexta-feira Santa é marcada por uma impressionante procissão de barcos
    Sexta-feira Santa é marcada por uma impressionante procissão de barcos Beawiharta/Reuters
  • Veneram a imagem de uma santa de manto negro que os locais acreditam ter cerca de 500 anos e ser de origem portuguesa
    Veneram a imagem de uma santa de manto negro que os locais acreditam ter cerca de 500 anos e ser de origem portuguesa Beawiharta/Reuters

Páscoa à portuguesa numa ilha indonésia

Por Luciano Alvarez

Na imensa muçulmana Indonésia, apenas uma ilha tem uma maioria de católicos. Nas Flores, garantem os locais, a Páscoa é celebrada como os portugueses ensinaram há quatro séculos. A língua lusa já não é falada, mas ainda se reza em português. E o Ronaldo é o Ronaldo.

É um momento de fé único no mundo cristão. Numa pequena ilha das cerca de 14 mil habitadas do maior país muçulmano do mundo, a Indonésia, a Semana Santa da Páscoa é festejada nas Flores como missionários portugueses terão idealizado há cerca de quatro séculos. Só nesta ilha existe uma maioria católica no país e tudo é feito passo a passo como numa viagem ao passado. Bem-vindo a uma impressionante manifestação de fé.

Os barcos avançam devagar. São dezenas deles, de simples pirogas de madeira a enormes embarcações de pesca. Estão abarrotar de gente. Milhares de pessoas que rezam em conjunto. Nas margens da cidade costeira de Larantuca, especialmente junto ao cais, esperam outros milhares. Uns em silêncio, outros acompanhando a oração com enorme devoção.

É o início das festividades da sexta-feira santa da Páscoa numa ilha de um país em que 89% dos cerca de 250 milhões de habitantes são muçulmanos. A ilha das Flores é excepção: entre os cerca de um milhão de habitantes, 85% são católicos.

A herança foi deixada pelos missionários dominicanos portugueses que, em finais do século XVI, quando da queda da possessão portuguesa de Macaçar, chegaram em grande número às Flores. As tradições por eles avançadas mantêm-se até aos dias de hoje. A Semana Santa, assim mesmo em português, é uma delas.

Os habitantes, embora já não falem a língua de Camões, continuam a rezar na língua lusa, agora num mistura com o indonésio que já predomina nas orações. Porém, todas as celebrações continuam a reger-se pelas práticas deixadas pelos dominicanos. E os locais juram que continuam praticamente iguais.


O caixão que nunca foi aberto

É o caso da impressionante procissão dos barcos desta sexta-feira, dedicada ao “Santo Meninu”, em Larantuca, o centro de todas as festividades. O enorme cortejo é encabeçado por um barco tradicional remado por dois homens em que é transportado um pequeno caixão.

Os locais acreditam conter uma relíquia da imagem do Menino Jesus e que terá dado à costa do Mar das Flores no século XVII.

Um caixão que, asseguram, nunca foi aberto. É a fé que os faz acreditar naquilo que séculos de passagem de palavra dizem ser assim.

As emoções e orações sobem de tom assim que o pequeno caixão chega a terra. Os locais e os muitos milhares de visitantes cristãos (na Indonésia estima-se que sejam cerca de oito milhões) que vêm de várias ilhas rezam a uma só voz. Acendem-se centenas de velas que seguem o cortejo até à “Kapela Santo Meninu” não muito longe do porto. Aí, milhares de pessoas que durante semana veneraram o seu santo vão continuar a rezar. Horas sem fim, com uma enorme devoção e indiferentes aos mais de 30 graus e um nível elevado de humidade que desespera os que não estão habituados a tão pesado clima.


Uma semana de enorme fé

As festividades da Semana Santa começaram no Domingo de Ramos (“Dominggu Ramu”), há quase uma semana. Na quarta-feira seguinte foi dia de retiro. É proibido executar qualquer tipo de trabalho, não se podem realizar festas ou mesmo viagens mais longas. É igualmente um dia para a paz, para que não haja qualquer tipo de conflitos. “Para alegria e não para a tristeza”, dizem.

--%>