Foi isto que Maria da Conceição fez para se preparar para subir a esta montanha. O treino exigiu um ano de preparação física. "Tinha de ir à praia, duas vezes por semana, andar com a mochila às costas, com 29 quilos, e a arrastar um pneu", explicou em declarações à rádio TSF, antes de partir em expedição. A portuguesa contou também com a ajuda de um treinador pessoal para as sessões diárias de natação e spinning (ciclismoindoor que permite simular pedaladas em vários níveis de terreno). Carregará às costas uma mochila com 15 quilos que se vai tornar mais pesada à medida que o ar ficar mais rarefeito.
Satyabrata Dam, o seu treinador durante os últimos meses, juntou-se à campanha e irá escalar com Maria. Também Denitsa Boyadjieva, hospedeira de bordo da companhia aérea Ethiad Airways, decidiu aderir à iniciativa.
"Se calhar estou a viver os meus últimos dois meses de vida, mas para mim é o meu sonho, é a minha missão", disse Maria da Conceição à TSF, antes de partir. Percebe-se o seu receio - só em Abril e Maio de 2012 morreram 11 montanhistas no Everest. O ano passado foi mesmo o pior desde 1996, ano em que se registaram 12 acidentes mortais.
Um vínculo ao Bangladesh
A subida ao topo do Everest é a segunda de três expedições que Maria da Conceição quer empreender com o propósito de angariar fundos para a Fundação Maria Cristina. Há dois anos, a portuguesa foi ao Pólo Norte com o mesmo objectivo: ajudar as crianças do Bangladesh.
Maria da Conceição visitou este país asiático pela primeira vez em 2005, quando esteve durante algumas horas na capital, Daca, para uma escala de voo. Na altura já morava no Dubai, onde era hospedeira de bordo da Emirates Airlines. Numa entrevista ao Diário de Alverca, em Dezembro de 2009, explicou que este foi um primeiro contacto decisivo para a criação da primeira instituição. "Foi o horror que vi em Daca que me fez voltar. Só consegui ganhar paz de espírito quando decidi que tinha de fazer qualquer coisa para ajudar aquela gente."
O Bangladesh, que tem uma contagem elevada de pobreza, está entre os países com menores índices de desenvolvimento humano, uma estatística desenvolvida pelo Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Em 2012, este Estado asiático era o 146.º numa lista de 186 países.
The Dakha Project (Projecto Daca) surgia alguns meses depois, quando Maria da Conceição decidiu ajudar 39 crianças que viviam em favelas nos arredores da cidade. Numa primeira fase conseguiu que tivessem lugar numa escola privada, mas depois acabou por abrir ela própria um estabelecimento de ensino. Só com duas salas, ficava em Gawair, um bairro de lata na periferia de Daca.
"As pessoas não confiavam nas minhas intenções. Foi muito difícil tranquilizá-las e convencê-las de que eu queria ajudar sem estar à espera de receber algo em troca", explicou na mesma entrevista, a propósito das dificuldades que encontrou ao longo deste projecto.
Alguns anos depois, a instituição já contava com mais salas. Quando a gestão do projecto foi entregue a uma organização local, em 2008, havia uma creche, um centro de costura ou um centro de primeiros socorros, e a escola tinha capacidade para 400 crianças. O projecto tinha também garantias de financiamento pela Emirates Foundation até 2013.