Maria do Céu da Conceição é, desde ontem, a primeira portuguesa a tentar subir ao monte Everest, a montanha mais alta do mundo, com 8848 metros de altitude. A expedição deverá durar até meados de Maio e tem um objectivo: conseguir mais apoios para a Fundação Maria Cristina , que ajuda famílias carenciadas no Bangladesh.
"Escalar montanhas pareceu-lhe uma escolha natural para conseguir chamar a atenção das pessoas para a fundação e para esta causa, e também para as motivar a doar fundos para crianças desfavorecidas", disse ao PÚBLICO o responsável de comunicação da campanha, Joshua Mathias. Maria da Conceição chamou ao desafio Million Dollar Baby Everest - quer angariar desta maneira um milhão de dólares (cerca de 800 mil euros).
Sediada no Dubai, a Fundação Maria Cristina funciona desde 2010 e pretende atenuar a situação de pobreza que existe no Bangladesh. As iniciativas da instituição de assistência social estão sobretudo ligadas à educação e uma das formas de facilitar o acesso de crianças ao ensino consiste em levá-las para o Dubai, onde completam a escola primária ou secundária, ao mesmo tempo que são inseridas numa família de acolhimento.
"A Maria planeia juntar donativos de empresas patrocinadoras e de quem queira ajudar individualmente. O casaco dela, as bandeiras e tendas foram desenhados de maneira a evidenciar os logótipos dos patrocinadores", adianta o responsável pela comunicação da campanha. O dinheiro que conseguir juntar será usado para manter em funcionamento a escola que abriu no Bangladesh. "Esta expedição é diferente das outras iniciativas devido ao número de riscos envolvidos. A Maria vai enfrentar imensos perigos durante a subida", acrescenta Joshua Mathias.
"Neste caso, o risco é real - há risco de cair se não colocarmos bem os pés, há risco de levarmos com objectos que caem das montanhas", disse ao PÚBLICO João Garcia, o primeiro alpinista português a alcançar o topo do Everest. Frisa que não só as quedas de neve são perigosas, como também os objectos que as pessoas que estão a escalar podem deixar cair. Mas estes não são os únicos riscos: há problemas fisiológicos, como edemas, que têm tendência a surgir a partir dos 3500 metros. Por este motivo, João Garcia - que conquistou o Everest em 1999 sem ajuda de garrafas de oxigénio - sublinha a importância do período de adaptação à altitude, que é feito numa base na montanha, entre os 4500 e os 5000 metros de altitude, e pode variar entre uma ou duas semanas.
"Por mais lenta que seja a adaptação à altitude, há um tempo limite de permanência em altitudes extremas", alerta o alpinista. Só é possível estar entre três a quatro dias em altitudes superiores a 7 mil metros, mas João Garcia ressalva que a limitação de tempo é relativa, depende dos organismos de cada um. "Quanto mais bem treinados estivermos a nível cardiovascular, do ponto de vista da resistência, melhor", garante Garcia, que aconselha um treino que inclua uma mochila pesada, andar muito tempo a pé ou arranjar uma modalidade desportiva que ofereça um treino de resistência.