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No 1.º de Maio, o Bolo do Tacho viaja por Monchique


Um bolo simples, com origens centenárias

Relativamente à origem à festa, Marques Varela assegura que “é uma tradição muito antiga. As pessoas no dia 1 de Maio juntavam-se entre amigos, faziam um convívio, e para poder saborear os bons produtos como o medronho, levavam o bolo do tacho”. Adoptou-se a expressão de “ir desmaiar” aos campos, com o significado de no dia 1 de Maio, Dia do Trabalhador, as pessoas se juntarem para conviver e apreciar os produtos da região, celebrando o que de melhor tinham e o pouco descanso que lhes era concedido.

Ana Maria Duarte, proprietária da pastelaria Doce & Arte em Monchique, explica em detalhe a tradição: “Antigamente as pessoas juntavam-se todas e rumavam à Fóia, o pico mais alto. Era uma grande romaria, levavam [o bolo do Tacho], depois chegavam lá e começavam a distribuir umas pelas outras. Faziam a própria festa lá”.

No entanto, a origem do bolo é muito anterior à tradição de “ir desmaiar aos campos" no 1.º de Maio. “Quando eu nasci, a tradição já era velha”, diz, num tom de graça, Paula David, funcionária da junta de freguesia de Alferce. “É uma coisa centenária”, acrescenta num tom mais sério, “porque o milho era uma cultura que abundava aqui”.

Há quem defenda que foram os frades franciscanos do Convento de Nossa Senhora do Desterro, em Monchique, que deram origem a este bolo, mas não é absolutamente certo. O que se sabe é que “começou por ser um bolo muito pobre, só com mel, com banha e farinha de milho, porque era o que as pessoas tinham”, explica Ana Paula Almeida. “Era um bolo muito simples, que tinha os ingredientes aqui da região”, mas que foi evoluindo. Com os Descobrimentos, foram introduzidas especiarias na receita do Bolo do Tacho, como a canela e o chá de erva-doce, esclarece a autarca.

O Bolo do Tacho adoptou também o nome de Bolo de Maio por tradicionalmente apenas se confeccionar neste mês. Porém, hoje em dia, “as pessoas procuram mesmo fora dessa época”, como afirma Cecília Medronho, funcionária da pastelaria Ana Maria, localizada em Monchique. Por isso, o bolo é confeccionado durante o ano inteiro, e principalmente em épocas festivas, como a Páscoa e a Feira dos Enchidos, no início de Março.

“Faz-se sempre fora da época. Antigamente não, antigamente era só em Maio”, confirma Ana Maria Duarte, da pastelaria Doce & Arte. A procura do bolo tem aumentado, e Ana Maria afirma que até os estrangeiros gostam do sabor único desta iguaria de Monchique. “É muito raro a gente encontrar uma pessoa que não goste”, assegura em tom de convite.

“Lembro-me que a minha mãe escaldava a farinha na noite e no outro dia fazia o bolo”, diz Cecília Medronho. Contudo, uma pastelaria tem de adoptar um método diferente: “Faz-se o bolo num dia e deixa-se a noite toda no forno. No outro dia de manhã, tiramos”. 

Segundo Ana Maria Duarte, “demora à volta de duas horas a preparar tudo, e depois no forno leva uma noite inteira. O forno trabalha à volta de três a quatro horas, depois desligamos e ele fica lá a acabar de cozer a noite inteira, a apurar os sabores”.

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