"A melhor hora para correr é às cinco da tarde", tinha-nos dito Pedro Vieira ao telefone. "Mas nós geralmente corremos às 7h30 da manhã". E pronto, um email enviado a confirmar uma Corrida do Centro, com encontro no Largo do Rossio às 7h30. E, à hora combinada, depois de um café numa pastelaria Suíça que acabara de abrir as portas, lá estávamos, como combinado, equipados e prontos para ver Lisboa a correr.
Pedro dá algumas, breves, instruções: "É uma corrida de cidade, é preciso cuidado por causa do trânsito e das pessoas que passam. Durante a corrida faremos quatro breves paragens para eu dizer alguma coisa sobre a cidade. Se se sentirem cansados digam, se acharem que vamos muito rápido ou muito lento digam, e se tiverem sede tenho aqui uma garrafa de água para vocês, e se se sentirem fracos tenho uma barrinha de cereais. É isto. Vamos lá?".
Avisamos logo Pedro para não esperar muito da nossa capacidade física. Arrancamos Rua Augusta abaixo, em passo de corrida, com Pedro a explicar que esta zona foi destruída pelo terramoto de 1755 e que foi reconstruída desta forma ordenada, muito diferente do que veremos mais à frente, em Alfama. A esta hora ainda há pouca gente a circular na cidade, mas já é preciso ter alguma atenção para não chocar com alguém e, sobretudo, é preciso parar uns segundos quando os sinais de trânsito estão vermelhos. No Arco da Rua Augusta viramos para a esquerda, e entramos nas arcadas do Terreiro do Paço, breve paragem no semáforo, e a corrida continua até à primeira paragem: Casa dos Bicos.
A nossa falta de preparação física já é evidente por essa altura, por isso a paragem é mais longa do que os habituais 15 segundos que Pedro ali passa quando vem com turistas. A Corrida do Centro tem nove quilómetros (sete, numa versão um pouco mais curta) e, depois de um percurso inicial até Alfama, volta para trás, e passa pelo Terreiro do Paço novamente, até à Baixa, sobe à Calçada do Combro (há uma paragem no Miradouro de Santa Catarina), entra no Bairro Alto, atravessa-o até ao Jardim de São Pedro de Alcântara, passa pelo Príncipe Real e desce para a Avenida da Liberdade.
"Não somos guias turísticos" (mas...)
"Correr nesta zona permite ao turista ficar logo com uma ideia da cidade, conhecer o centro", explica Pedro. A novíssima Lisbon City Runners, que começou a funcionar há cerca de um mês, não se destina exactamente aos lisboetas. O público-alvo são os turistas, que gostam de correr e que, não conhecendo bem a cidade, preferem fazê-lo acompanhados. Pedro ouviu falar pela primeira vez deste modelo em Barcelona e achou que era o ideal para quem, como ele, gosta de correr e gosta de Lisboa. Juntou-se a Nuno Pereira, que também é corredor, e a Sandra Lopes, massagista, e decidiram experimentar o conceito.
"Não somos guias turísticos", avisa logo de início. Ninguém espere aqui longas explicações sobre a história da cidade - o que Pedro vai dando são algumas informações básicas, e dicas úteis sobre onde se pode comer um bom arroz doce, ou um sítio bom para sair à noite. E também não são treinadores. A ideia não é prepararem pessoas para provas de competição. Eles apresentam-se simplesmente como "parceiros de corrida", que podem acompanhar, por exemplo, alguém que vem a Lisboa para reuniões de negócios, e que gosta de correr pela manhã.
Essa é, aliás, a experiência do próprio Pedro, que começou a correr há cerca de dez anos, inicialmente para "perder alguns quilos", e que entretanto se apaixonou pela corrida. Quando está fora de Portugal, de férias com a família, gosta também de correr, e fá-lo geralmente de manhã cedo para não interferir com os programas familiares.
Retomamos a nossa corrida em direcção a Alfama. No Largo do Chafariz de Dentro entramos por uma rua mais estreita, onde Pedro mostra "como seria a Baixa de Lisboa antes do terramoto". Voltamos a sair de Alfama, e corremos novamente em direcção ao Terreiro do Paço. A cidade já acordou, começa a haver mais movimento, pessoas que atravessaram o rio e vêm trabalhar. O ritmo da cidade acelera. Mas, sobretudo, vê-se muita gente a correr, o que há alguns anos era pouco habitual. Enquanto corremos junto ao Cais das Colunas, cruzamo-nos com várias pessoas a correr na direcção contrária.
Pedro continua a explicar o conceito do LCR - e fala enquanto corre, sem perder o fôlego nem mostrar qualquer sinal de cansaço, ao contrário de nós, que lutamos para o acompanhar e recorremos frequentemente ao conselho inicial que ele nos deu: "Se se sentirem cansados, digam".
"Temos o serviço básico, que é a corrida, mas decidimos também dar mais alguns serviços, com as massagens, ou a inscrição em provas de corrida", diz, explicando que por vezes os estrangeiros que vêm a Portugal gostam de participar em provas mas não sabem exactamente como fazer para se inscreverem, e por isso a LCR pode tratar de toda a parte burocrática. Além disso, e ao contrário do que aconteceu connosco, vão buscar o cliente à porta do hotel em vez de marcar encontro numa zona pública.
E pronto, o cliente só tem que escolher a corrida que mais lhe agradar: para além da do Centro, existe a dos Jardins, que passa pelos principais jardins da cidade; a do Rio, ao longo do Tejo; a do Castelo, em que "a chegada ao alto vai ser uma conquista"; a da Cidade Nova, pela zona da Expo; a Longa, especial para corredores que estejam a treinar para uma prova (só se realiza aos sábados e domingos); e a "Costumizada", desenhada ao gosto do cliente.
Os preços variam entre os 16 e os 35 euros, dependendo de tratar-se da versão longa ou curta do percurso e do número de participantes. "Preferimos não correr com grupos de mais de cinco pessoas, porque os ritmos nunca são iguais para todos. Se um grupo for maior dividimos em dois". No final, Pedro envia um email com os resultados da corrida - tempo, quilómetros percorridos, etc. No nosso caso, dispensámo-lo dessa tarefa. Seriam, de qualquer forma, números impublicáveis.
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Lisbon City Runners
Telf: 917504421
Preço: entre 16 e 35 euros
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