Fugas - Viagens

  • Miguel Manso
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Atrás da praia há um pinhal cheio de flores

Os estrangeiros ocupam grande parte das casas e marcam dias de férias quando o tempo está bom, chegando de Faro nos voos low-cost. “Os nossos hóspedes são na maioria ingleses, holandeses e alemães”, diz João Pedro. Na época alta, o monte está quase sempre esgotado e, por isso, o proprietário quer mostrar que há mais do que praia na Vilarinha. Na Primavera, Outono e Inverno também há atracções que valem uma viagem de três horas, a partir de Lisboa. As caminhadas são uma delas.

“Agosto está reservado de ano para ano. Os clientes mantêm-se. É o Inverno que temos de trabalhar [em termos de ocupação]”, conta. Foi com isso em mente que nasceu a Walking’Carrapateira, uma parceria com a Walking’Sagres, empresa fundada pela guia de natureza Ana Carla Cabrita e que quer levar os hóspedes a descobrirem a paisagem natural e rica que envolve a zona. Mas já lá iremos.

A abertura oficial deste espaço de turismo rural aconteceu em 2007. “Não fiz publicidade nenhuma. Mas convidámos os amigos e isso ajudou a dinamizar. Foi o passa a palavra, a melhor forma de fazer publicidade. Hoje dá-se mais importância à opinião dos amigos e aos comentários na Internet”, diz João Pedro.

Aqui, respira-se tranquilidade. Os montes verdes que rodeiam as casas parecem aconchegar-nos. E à noite são os sons da natureza que nos fazem companhia.

No dia em que a Fugas ficou no Monte da Vilarinha, João Pedro convidou dois amigos para o jantar. António Rosa e Rui Rodrigues trouxeram grande parte dos ingredientes e vamos encontrá-los na cozinha, atarefados, à volta dos tachos. António produz batata-doce em Aljezur e é dele a célebre Alcagoita, a manteiga de amendoim portuguesa, de sabor forte, granulada e natural.

Os produtos da terra serão as estrelas. “Cheire lá estes morangos”, diz, enquanto segura uma caixa cheia de fruta. Coze-se o feijão carito, “tradicional de Aljezur”, que não precisa de ser demolhado na véspera e “era a comida dos pobres” - como diz António – tiram-se as folhas dos cardos, acabados de colher, corta-se o alho verde em rodelas finas. Rui, que deixou uma carreira no mundo da publicidade para se dedicar à agricultura biológica, prepara os cardos com ovos. Na ementa há polvo à lagareiro, favas com morcela e toucinho frito. Salada com alface, acelga e flores comestíveis. E um bolo de chocolate, com os morangos, para rematar. Lá fora, só se ouve o coaxar das rãs.

Pela estrada fora

João Pedro quer mostrar o outro lado da Carrapateira. Por isso, a manhã começa cedo, com uma caminhada guiada por Ana Carla Cabrita. Para conhecer a vila a pé, Carla concebeu três percursos para os hóspedes do Monte da Vilarinha, com graus de dificuldade distintos, entre os 3,5 quilómetros e os 18 quilómetros.

Com o pequeno-almoço tomado (pão fresco e caseiro, doces, sumo de laranja “verdadeiro”), rumamos de carro à aldeia da Bordeira, ainda adormecida pelo sol e caiada de branco. A caminhada começa aqui. Observamos a capela manuelina, e seguimos rumo ao campo. Carla aponta para umas flores roxas e vai descrevendo as características da vegetação. Há ranúnculos, a planta do linho, funcho, papoilas que regressam aos campos. “Estes pássaros são abelharucos”, diz, apontando para o céu.

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