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Astúrias, naturalmente íntimas e pessoais


Lu(l)arca e a lula gigante


É o mar que nos leva e seguimos pela costa rumo a Luarca — a pouco mais de 37km de Cudillero. Como por toda a costa asturiana, é mais um exemplo de um pueblo mariñero que, no caso, mostra logo muitos dos seus encantos conforme nos vamos aproximando. Lá em baixo, vislumbra-se o porto, a vila arrumada ao longo da orla. Mas, ainda cá acima, à entrada de Luarca, há mais para vislumbrar. Começando pela Mesa dos Mareantes, junto a um miradouro, um recinto erguido a meio do século XX sobre as ruínas de uma antiga fortaleza que inclui mesmo uma mesa, a que os mestres usariam para decidir as idas ao mar. Ao lado, uma série de painéis em cerâmica com episódios que evocam momentos e lendas desta terra marinha. Dois passos para o lado e, com o oceano no olhar, temos a vida e a morte no seu espaço de beleza eterna, o cemitério. E, provavelmente, será um dos cemitérios com uma das mais belas vistas do mundo, localizado no topo do monte, acompanhando-lhe as curvas e todo aberto ao mar.

São mistérios, como os das profundezas oceânicas que nos puxam para um grande edifício do porto de Luarca. O seu nome começa por surpreender: bem-vindos ao Centro del Calamar Gigante. Isto é, da lula gigante. É que é aqui o mais importante espaço do mundo dedicado a este lendário monstro marinho, tão lendário que existe mesmo — e aqui em diversos espécimes preservados que atingem até quase 14 metros de comprimento. Esta é uma verdadeira caixa-museu, onde cabe um imenso mundo marinho (são 900m2…) em salas e mais salas e mais corredores. Na verdade, é uma casa mais lata (é a CEPESMA – Coordenadora do Estudo e Protecção das Espécies Marinhas), que se dedica a todos os espécimes marinhos, em particular peixes das profundezas, os mais raros ou nunca vistos vivos, e que inclui actividades educativas e acções de sensibilização relacionadas com a protecção dos mares. O centro recebe tanto os calamares gigantes como outros exemplares.

E isto tudo deve-se ao homem que nos guia e explica em detalhe cada exemplar preservado que mais nos chama a atenção e espanta. Luis Laria explica-nos que tudo começou por volta de 1995, quando a sua paixão pelos Architeuthis dux  (o nome oficial dos megacalamares) o levou a “comprar um por 70 mil pesetas” — aliás, o maior exemplar que se conserva no mundo. “Mas os custos de manutenção eram muito mais elevados.” Desde então, levou o seu interesse por estes seres ao ponto de conseguir criar em Luarca este centro de impacto mundial, onde, entre todo o género de cefalópodes e centenas e centenas de outras espécies marinhas, se conservam dissecados 27 exemplares de Architeuthis (a maior colecção do mundo). E ver uma lula gigante, mesmo que morta, ao vivo, podemos garantir que é mistério que não se esquece. Já o centro estar aqui localizado pode parecer menos enigmática se se souber que na costa asturiana contam-se dezenas de avistamentos do grande calamar.

Depois de uma lição marinha profunda, que mais poderíamos querer do que um bom peixe ao almoço? É por isso que nos sentamos frente ao porto de pesca, no restaurante Sport. O desportivo nome esconde uma casa familiar com 65 anos de história, recentemente renovada. Um interior moderno e minimalista guarda partes da história mas, principalmente, guarda uma cozinha que nos chegou fresquíssima e sem mácula. De uns gordinhos e sumarentos percebes até a um trio de sobremesas com um arroz doce com açúcar queimado — capaz de tornar-se um caso de amor ao primeiro sabor —, passando por uma pescada macia como poucas e em duas variantes: empanadas (“um clássico inevitável”, chama-lhes o nosso guia Onofre) e pescada em molho verde com amêijoas e tinta de (eis o precioso detalhe) calamar… “E qual é o segredo desta pescada tão macia?”, pergunto a Juan Carlos Menéndez, que gere com a irmã, Maite, este templo gastronómico. “Dinheiro!”, responde entre risos. Explica-se bem: “É o melhor peixe do dia, chego ao mercado e pago o que ele merece. Isto não tem segredos: é saber escolher, guardá-lo, tratá-lo; é respeitar a matéria-prima e a tradição. Digamos, é não estragá-lo”.  Está explicada a receita do chefe.

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