Fugas - Viagens

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    Praia do Silêncio Turismo das Astúrias
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    Cudillero Turismo das Astúrias
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    Cudillero Ayuntamiento de Cudillero
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    Pescador em Cudillero Ayuntamiento de Cudillero
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    Cabo Vidio, Cudillero Ayuntamiento de Cudillero
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    Apanha de percebes em Cabo Vidio Ayuntamiento de Cudillero
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    Cabo Vidio, Cudillero Ayuntamiento de Cudillero
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    Centro del Calamar Gigante em Luarca Turismo das Astúrias
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    Santa Eulália de Oscos Turismo das Astúrias
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    Casona Cantiga del Agüeira, Oscos Turismo das Astúrias
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    Cascada La Seimeira Turismo das Astúrias
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    Praia do Silêncio Ayuntamiento de Cudillero

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Astúrias, naturalmente íntimas e pessoais

Não é em vão que esta terra, que parece cortada do resto do mundo mas ligada umbilicalmente ao mar, tem um dialecto próprio (não faltam dialectos pelos muitos mundos das Astúrias) baptizado de pixuetu, termo também usado para os seus habitantes e que deriva de peixe. É Trini Fernandez, do Turismo local, que nos vai contando estes detalhes e guiando-nos em subida pelo labirinto das ruelas de Cudillero onde, em alguns pontos, de uma janela a outra se podem murmurar segredos (e espiar para dentro da casa de toda a gente…). Ouve-se o correr das águas, trocam-se buenos días, sabe-se que entre os seus monumentos está a igreja do século XVI ou que o mais antigo edifício é a Capilla del Humilladero (que remonta ao século XII) mas o verdadeiro monumento é mesmo o conjunto de Cudillero. E ao chegarmos a um dos miradouros, no cimo da vila, por entre o odor das rosas e o cantar das gaivotas, salta-nos o postal ilustrado perfeito, Cudillero em concha e mar.  

À despedida, um salto ao porto, onde operam uns 170 pescadores locais, dedicados à pesca artesanal. Na muralha, pesca-se e bem. Nós, esperamos a chegada agendada de um dos barcos, para admirar as artes destes homens do mar. De um, saltam caixas coloridas repletas de peixe “fresquinho, fresquinho”. Pelo chão, ficam abandonadas estrelas-do-mar. “Levem as estrelas que quiserem”, dizem-nos. 


Vertigem costurada a azul

Não trazemos estrelas-do-mar, mas vamos subir, para nos aproximarmos mais das outras, das do céu. Na vizinha Oviñana (a uns 13km de Cudillero), o imponente Cabo Vidio, com o seu farol, permite uma panorâmica global de toda esta costa (que é também Paisagem Protegida da Costa Ocidental), uma beleza natural ímpar que inclui falésia a precipitar-se a mais de 100m de altura… Aproximamo-nos da beirinha, contornamos o farol por uma risca de caminho que como muro só tem a queda abrupta, e é uma vertigem de céu e mar num resplendor de sol a cair a pique e gaivotas em busca de ninho. Conta-nos Trini Fernandez que no Inverno, com um mar turbulento como só ele, o vento em violência e ondas gigantes a bater nas falésias, a beleza é imensamente outra. Acreditamos. Para já, apesar do clima nas Astúrias se multiplicar em microclimas e não ser raro o ano se passar entre chuvas e nevoeiros (a época mais certeira é de Julho a Setembro), ficamo-nos pela sorte do sol. Com a vista a passear pelos extremos e pelas prometedoras praias, decidimo-nos que, para recuperar da vertigem, o melhor é dedicar o fim de tarde a outro património asturiano: o culto da sidra. Que, por sinal, também obriga a queda vertiginosa: há que elevá-la e vertê-la da máxima altura possível para o copo. “É a cerveja das Astúrias”, diz-nos Trini. E vamos partilhando copo, conversa familiar e sidra, que é para isso mesmo que serve esta bebida de culto.

E será mesmo em tom familiar que o dia termina. A nossa noite é passada nas redondezas, em Soto de Luiña (a uns 12km de Cudillero) num hotel que parece apelar à história e ao acolhimento: Casa Vieja del Sastre (portanto, do alfaite). É não só um hotel e restaurante como uma metáfora do último século local. Somos recebidos pelas irmãs Patrícia e Marimar Perez, herdeiras de uma antiga alfaiataria, casa tradicional (entretanto aumentada e renovada) dos finais do século XIX, que, antes de albergar durante meio século as artes da costura, foi casa de padre, quartel da guarda civil, prisão durante a guerra… O turismo foi tomando o seu peso, tanto graças aos visitantes que faziam o Caminho de Santiago — uma rota passa por aqui —, como aos veraneantes em busca das praias, e os pais das actuais gerentes decidiram-se, já se vê, por começar a alugar quartos. As costuras foram perdendo terreno, as hospedagens foram ganhando. Patrícia e Marimar cresceram entre estes dois mundos e, por fim, contam-nos, decidiram uni-los: criaram um hotel temático, decorado com móveis e itens de alfaiates e modistas de outros tempos. A casa e quartos preservam a humildade, o que só lhes fica bem. As duas irmãs preservam a hospitalidade e nós, antes de um repasto real (incluindo uma versão macia do bacalhau à portuguesa ou secretos ibéricos), não escaparemos sem fazer-lhes companhia na cozinha: Patrícia, com a sua voz aveludada, consegue pôr-nos de avental a tentar preparar e virar frixuelos (na verdade, apenas crepes, mas à asturiana).

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