E assim regressamos a outros filhos adoptivos da região, o nosso “hotel musical”, onde nos espera um quarto à palacete rural na Casona Cantiga del Agueira e um concerto íntimo com Reinhold Bohrer à guitarra ou ao piano, a esposa Patrícia a cantar (é o que dá uma socióloga com voz e dedicação aos coros) e até a filha, a pequena Ana, de oito anos, na flauta. E, neste refúgio da música (o hotel recebe músicos ou qualquer hóspede com um instrumento se pode juntar, além de realizarem eventos e concertos especiais), de harmonias e silêncio (quando ele é preciso), espera-nos também a nossa janela para despertarmos com um natural “uau”. Pelas redondezas, muitas propostas de passeios, incluindo a caminhada até às cascatas (como a de Seimeira), adentrando-se no bosque.
Rodeados do jardim natural, ainda teremos tempo para uma escapela nocturna à vila de Santa Eulalia de Oscos: é uma noite especial na terra, com as senhoras a passarem horas madrugada fora a criar tapetes de flores (e de outros materiais, que as flores faltavam) para o domingo de Corpus Christi. Uma tradição florida que mostra as uniões das terras. Por Santa Eulalia, é apenas uma rua e uns apontamentos. Mas, quase de regresso a casa, ainda veremos, em Castropol, na margem do rio Eo, cercada de belas praias (las Catedrales, Penarronda) e com a Galiza à distância do olhar, ruas e ruas atapetadas de flores, numa tradição de um século e que é um orgulho da terra: dura só um dia mas guardam-se memórias todo o ano.
O som do silêncio
Em tempo de partida, deixamos na agenda um espaço em aberto para um desejado final em beleza. A caminho do aeroporto, uma passagem por outro poema da zona de Cudillero. Contando as Astúrias mais de 200 praias ao longo da sua costa, muitas delas selvagens e solitárias, esta terra que faz cemitérios com vista oceânica ou sabe mistérios de lulas gigantes, é guardiã de uma praia, a 1km de Castañeras, que só pelo nome já nos chama. A Praia do Silêncio, porém, é, por sua vez, guardiã de outros chamarizes. Para chegar a ela, há que deixar o carro para trás e percorrer umas centenas de metros até poder admirá-la no seu esplendor. Do alto da falésia, abre-se lá muito em baixo a baía em concha a todo o Atlântico, selvagem, abraçada pelas escarpas recortadas com mão de mestre, pelos corredores verdes intocados que parecem mergulhar entre as rochas. O caminho e a escadaria até à praia obrigam ao esforço. Mas é também por isso que esta praia toma um trono de poema. Quando pisamos a praia, é um lençol de pedras, cascalho e areia (e lixos, que as marés não brincam). Vazia, tem um silêncio orquestrado apenas pelo som das gaivotas e o leve ondular que arrasta e repõe seixos. É como uma música hipnotizante, criada por algum compositor divino a dar-nos a sua versão do silêncio. É uma imagem para sempre e é a outra música das Astúrias.
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A Fugas viajou a convite da easyJet e da Delegação Oficial de Turismo Espanhol
Como ir
O Principado das Astúrias, no Norte de Espanha, é delimitado pela Galiza, Castela e Leão e a Cantábria. A capital, Oviedo, fica a cerca de 500km do Porto e 779km de Lisboa. O aeroporto das Asturias fica a 14km de Avilés, 40km de Gijón e 47km de Oviedo. A easyJet voa directo Lisboa – Astúrias, à sexta e domingo, com preços mínimos que podem variar entre cerca de 20 e 40 euros por trajecto, conforme época. Para passear pela região, aconselha-se alugar um carro.