A etapa final foi, no entanto, a mais longa e "violenta": 12 horas a pedalar os 180 quilómetros que separam Santiago de Compostela e Barcelos, da alvorada às 23h. Nunca tinham feito uma viagem tão grande num único dia e por pouco não a terminavam. É que a pausa de cinco minutos depois do almoço depressa se transformou numa verdadeira siesta, apenas interrompida pelo som dos flashes das máquinas fotográficas de outros peregrinos, que registavam o insólito "de ter ali dois ciclistas a dormir no meio de um parque".
Cortada a meta em Barcelos, o balanço é "muito positivo em todos os aspectos", afirma Norberto Henriques. "Para além de termos superado qualquer uma das outras viagens no desafio que se colocava, tivemos oportunidade de conhecer pessoas de outros países", acrescenta. Depois de se terem encontrado num albergue em Markina no final da segunda etapa, "o José Maria de Barcelona, a Marta de Santander e o Adriano e o Marco de Trento, Itália" - como os apresenta no site - tornaram-se companheiros de viagem até Compostela.
Apesar de a viagem em grupo ter sido mais difícil, devido às diferenças de nível físico e de objectivos, acabou por "trazer mais diversão". Partilharam "algumas refeições", "conversaram um pouco sobre a experiência de cada um", "riram-se imenso" e a dupla portuguesa aproveitou ainda para "contagiar os outros ciclistas" com a vontade de seguir sempre pelos trilhos originais.
A chegada a Santiago de Compostela é que não teve a emoção das outras edições. Apesar de ser sempre um momento "muito bom", a entrada na Praça do Obradoiro não teve "aquela sensação de a viagem estar completa e finalizada em Santiago". É que a cidade era também ponto de passagem: ainda faltavam quatro dias até à verdadeira meta, em Barcelos. Mas mais uma vez, "logo que chegámos a Santiago surgiu o nome do caminho" a percorrer na próxima edição. O troço do Levante é "talvez a última grande rota por Espanha" que falta a Norberto Henriques e, por isso, é de Valência que quer partir em breve rumo a Santiago. A data não é certa, mas, garante, "um novo caminho haverá sempre".
Viagem solidária
São muitos os factores que levaram Norberto a encantar-se com os Caminhos de Santiago e repetir a aventura desde 2010, ano em que atravessou o Caminho Português em quatro dias. Primeiro pela "sensação de liberdade que é fazer uma viagem deste género em bicicleta", depois pelo facto de se conhecer "povoações onde normalmente não vamos nem sequer de passagem", pelas "pessoas de todo o mundo que se encontram nestes caminhos" e até pela "emoção que é chegar à Praça do Obradoiro [em frente à catedral de Santiago de Compostela] e ver toda aquela gente a celebrar". "Embora não tenha uma vocação muito religiosa que me leve a fazer estes percursos, há ali qualquer coisa de especial", remata.
No entanto, esta é uma viagem que não só junta desporto, turismo, aventura, amizades e magníficas paisagens como também solidariedade social. Como este tipo de viagem costuma gerar alguma curiosidade mediática, Norberto decidiu tentar "canalizar essa atenção" e "ajudar alguma instituição" através da associação ao projecto e de várias campanhas de angariação de fundos.