16h
É impossível subir a Rua do Quebra Costas e não reparar no Fado ao Centro. Ana Vinagre, de vestido vermelho e uma pequena viola na lapela, dá-nos um folheto e convida-nos a conhecer o espaço aberto desde 2011 por iniciativa de antigos alunos da Universidade que quiseram divulgar o fado de Coimbra. O jornal britânico The Guardian considerou este lugar um dos 15 a visitar obrigatoriamente em Portugal. Não podíamos, por isso, recusar assistir ao concerto que diariamente se realiza às 18h. Luís Barroso, um dos músicos e fundadores, conta-nos que esta "vertente mais turística" das apresentações públicas não estava prevista no projecto inicial, mas "estando nesta rua era impossível não a assumir".
Assim, para além dos concertos diários nos quais se dá (em português e inglês) uma pequena introdução à história da canção de Coimbra, se explica o que é uma serenata, e se convida toda a gente a cantar, há sempre três músicos disponíveis no Fado ao Centro para um concerto privado a qualquer momento. A única condição é que quem aqui toque seja ou tenha sido estudante da Universidade de Coimbra. E, para garantir que não faltam músicos, abrirá em breve uma escola. Despedimo-nos, mas prometemos voltar às 18h, para o concerto.
17h
Continuamos a subir a Rua do Quebra Costas e a descobrir as lojas que por ali têm aberto. A Mau Feitio, de roupa, já existe há algum tempo. Mais recente, praticamente acabada de estrear, é a Trouxa Mocha, onde malas de tecido feitas à mão se misturam com livros do antigo alfarrabista que aqui funcionou.
17h15
"Não podem deixar de conhecer o Miguel Lima, dono do Quebra. É uma pessoa fundamental na dinamização desta zona", disse-nos Miguel Pinheiro, que trabalha na área do turismo, é apaixonado pela cidade e se ofereceu para ser nosso guia na noite de Coimbra. Por isso aqui estamos no famoso Quebra, a falar com o Miguel Lima que, entusiasmado, nos mostra no seu telemóvel fotografias do Jazz@Quebra, os concertos de jazz que tem organizado nas escadinhas que descem (e sobem) à frente do seu bar. "Os músicos dizem que esta zona tem uma acústica fantástica", conta, orgulhoso, enquanto passa as imagens.
O bar é antigo, abriu em 1984, mas Miguel só tomou conta dele a partir de 91. Depois, a partir de 2006, ele e outros comerciantes da zona começaram a sentir necessidade de fazer mais alguma coisa para que a noite na zona da Sé Velha voltasse a animar. Em Coimbra os estudantes vão sobretudo para a zona da Praça da República e a Baixa esvaziava-se de forma preocupante. "Tentámos criar alguma dinâmica, começámos a organizar o Mercado Quebra Costas e conseguimos trazer Coimbra para este recanto."
Agora está muito feliz com a animação que o festival de jazz - com nomes como o Quinteto Nuno Costa, Trio Bruno Santos, Trio Jeffery Davis, ou os quartetos de André Fernandes, João Firmino ou Paulo Bandeira - tem trazido ao Quebra Costas, apesar de cada concerto ser uma aventura logística, com instrumentos pesadíssimos a serem transportados escadas acima e escadas abaixo.
À volta as coisas também têm mudado. "Havia aqui um comércio completamente diferente, lojas de móveis, imaginem lojas de móveis numas escadinhas como estas, muitos alfarrabistas, lojas de artesanato." As escadas estão diferentes em algumas coisas. Só não mudam numa: de vez em quando alguém escorrega e acaba de rabo sentado no chão. Diz-se que, se for estudante, a queda significa que nunca acabará o curso. Mas não está provado que assim seja.