Sabíamos que Coimbra estava a meio-gás depois de as aulas terem terminado e muitos dos alunos terem partido. Mas, apesar disso - e de todas as queixas que ouvimos aos que nela vivem sobre o quanto se poderia ainda fazer para atrair novos visitantes - encontrámos uma cidade onde há muito para ver e para fazer. Durante dois dias não parámos.
11h30
Marcamos encontro no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, para ir visitar o museu. Durante 300 anos, o mosteiro foi uma ruína semi-alagada. Entrava-se por uma janela directamente para a parte superior e ficava-se a ver o espelho de água que reivindicara o seu lugar na parte de baixo da igreja. Hoje, depois de longas e complexas obras de recuperação, que incluíram a construção de uma parede impermeável para impedir que o Mondego continue a alagar Santa Clara, podemos conhecer melhor a história deste mosteiro, fundado originalmente em 1283, e que até ao final do século XVII, quando a água as expulsou de vez, recebia as senhoras da nobreza e da alta burguesia. Quando, derrotadas pelo Mondego, saíram dali, as freiras mudaram-se para Santa Clara-a-Nova, mais acima, onde hoje se encontram, num túmulo de prata e cristal, os restos mortais da Rainha Santa Isabel.
O museu conta o que era a vida das freiras clarissas, ali instaladas pela Rainha Santa Isabel, que também recolheu ao mosteiro após a morte do rei D. Dinis - foram encontradas desde solas de sapatos a cordões dos hábitos, objectos pessoais que mostram a riqueza do mosteiro, onde se comiam ostras, peru, mexilhões e bolo de chocolate, e onde as freiras tinham criadas e até escravas. Dentro da igreja foram desenterrados 70 esqueletos e no museu vê-se um crânio com dois dentes ligados, que mostra o que era, naqueles tempos, o trabalho de dentista. No exterior foi recriada a horta monástica, e dentro da igreja reapareceram, do meio das águas, os antigos túmulos. Aberto ao público desde 2009, este é um espaço a não perder.
13h
Atravessamos o Mondego à procura do Fangas, uma mercearia-bar sobre o qual tínhamos ouvido várias referências e onde queríamos almoçar. O espaço, um projecto de Luísa Lucas que abriu há cerca de quatro anos, é muito bonito, embora pequeno, mas temos sorte porque conseguimos a última mesa livre. Muitos dos clientes são estrangeiros e a lista é de petiscos, bons para partilhar, e vinhos. Cátia, que trabalha no Fangas, dá-nos várias dicas preciosas sobre onde ir à noite em Coimbra. Lá iremos, mais tarde. Para já almoçamos calmamente, enquanto aprendemos que nos tempos medievais esta Rua Fernandes Tomás era a Rua das Fangas, mesmo junto à muralha da cidade, e que a palavra fangas tem a ver com o comércio de farinha que aqui se realizava.
Saímos para o exterior e distraímo-nos a fotografar os coloridos chapéus-de-sol feitos de croché, pendurados sobre a rua - uma iniciativa que se espalha por outras zonas da cidade, o 1.º Festival do Croché Social, do InProject.
15h30
Duas portas abaixo do Fangas fica o Arte à Parte, associação cultural, galeria de exposições, sala de concertos, cafetaria. Abriu há cerca de três anos. "Esta rua já teve muita vida, já foi uma das principais artérias da cidade", conta-nos João Moura, sócio, que está a abrir as portas. O Arte à Parte é um dos projectos que procura dinamizar esta zona de Coimbra - uma das iniciativas é o Mercado Quebra-Costas, que se realiza no segundo sábado de cada mês.
"Coimbra tinha uma boa oferta cultural até meados dos anos 1990", explica João. Depois as coisas pararam um bocado. "O renascimento começou por volta de 2005, mas entretanto foi apanhado pela crise." Apesar disso, o Arte à Parte mantém uma programação cultural e várias actividades, entre as quais o Quizz, que é um sucesso entre os clientes, que não são tanto estudantes universitários, mas "pessoas que já terminaram o curso e estão no primeiro emprego".
"Não deixem de ir ao Fado ao Centro", avisa-nos João na despedida. "Eles estão a fazer um óptimo trabalho."