Fugas - Viagens

  • Matthias Robl
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Munique, onde a cerveja é uma penitência feliz e se faz surf num rio de gelo

Um bávaro não pede estas salsichas da parte da tarde, já que costumam ser feitas durante a noite para serem vendidas e consumidas até ao almoço. Quer na Hofbräuhaus quer na Löwenbraukeller há cacifos metálicos onde os clientes habituais guardam as suas canecas, mais ou menos vistosas, mas em todo o caso de estimação. Também há mesas reservadas para grupos habituais, ainda que a mesma mesa possa servir para tertúlias diferentes em dias não coincidentes. Sobretudo na Hofbräuhaus, o ambiente é muito alegre, com grupos de músicos contratados ou espontâneos a tocarem temas bávaros e muita gente com roupa tradicional, que não usam apenas em dias de festa ou para turista. As empregadas usam o dirndl, uma saia com corpete que se usa sobre uma camisa generosamente decotada.

Ninguém diria que Hitler poderia encontrar aqui, como noutras cervejarias e cafés, um público receptivo aos princípios que dariam origem ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Durante a II Guerra Mundial a cervejaria foi quase totalmente destruída pelos bombardeamentos dos Aliados, à semelhança da maior parte dos edifícios da cidade. 

Os habitantes de Munique sempre fizeram da reconstrução dos edifícios uma prioridade. E muitos dos que nos parecem genuinamente antigos foram objecto de reconstrução meticulosa. 

Nem todas. Na Casa Castanha, sede do Partido Nazi, está em construção o futuro Centro de Documentação sobre o Nacional-Socialismo, e muitos dos edifícios construídos ou ocupados por Hitler e a Gestapo, e jardins cimentados para receberem paradas militares, ainda nas proximidades da Königsplatz, passaram a acolher escolas de música, arte saudavelmente subversiva ou relva e flores. A cidade tem várias praças e monumentos dedicados às vítimas do nacional-socialismo.

A capital da Baviera, que foi Ducado, Principado eleitor do Sacro-Império Germânico e Monarquia, até à República de Weimar, governado de 1323 a 1918 pela família Wittelsbach, também se distingue por ser simultaneamente um importante pólo industrial e financeiro da Europa — é a sede de multinacionais como a BMW, a MAN, a Siemens ou a Allianz — e uma cidade muito activa culturalmente. Tem 45 teatros, entre eles o prestigiado Cuvilliés, vizinho da Residenz, a antiga morada dos Wittelsbach, e 57 museus, como a nova e a velha pinacotecas, o museu de escultura ou a Casa Brandhorst, com a sua colecção de arte moderna onde não falta gente à procura das piss paintings, as pinturas de urina, de Andy Wahrol. E tem ainda o Museu Alemão, o maior do mundo entre os dedicados à ciência e tecnologia. Dizem ser tão vasto que não chega um dia para ver tudo, dos artefactos das grutas de Altamira aos engenhos espaciais.

Visível de quase todo o centro estão as duas torres da Frauenkirsche (Igreja de Nossa Senhora), a catedral gótica de torres bizantinas construída entre 1478 e 1495, que teve como pároco Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI. As torres do templo ditaram a altura máxima do centro de Munique e isso também contribuiu para que a cidade não adquirisse o aspecto de metrópole que só confirmamos quando descemos aos subsolo e vemos a quantidade de gente que utiliza a excelente rede de metro e de comboio suburbano, que só vem à superfície quando sai do centro da cidade.

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