Fugas - Viagens

  • Matthias Robl
  • Matthias Robl
  • Matthias Robl
  • Matthias Robl
  • Matthias Robl

Continuação: página 3 de 3

Munique, onde a cerveja é uma penitência feliz e se faz surf num rio de gelo

Muito perto, na Marienplatz, a praça central de Munique, convivem os edifícios das câmaras velha e nova, que tem estilo neogótico, é mais imponente e trabalhada e até parece mais antiga. Está ali outra das grandes atracções da cidade: o Glockenspiel , o relógio que, ao meio-dia, põe a dançar bonecos distribuídos por dois andares, incluindo dois cavaleiros medievais que se defrontam em torneio (o que tem as cores azul e branco da Baviera ganha sempre ao vermelho, como o Bayern de Munique, que alinha de vermelho, costuma fazer a quem se mete à sua frente na Bundesliga) e outros giram sobre si próprios. Recriam a Schäffl ertanz, uma dança que os representantes dos ofícios da cidade executam de sete em sete anos para celebrar o fim da peste que assolou a cidade nos séculos XIV e XV. Alguns dos ofícios representados no Glockenspiel vamos encontrá-los também na árvore de Maio montada noutro ponto de visita incontornável: o Viktualienmarket, onde se compram doces, bebidas alcoólicas, queijos, enchidos, presuntos, frutas — tudo com um aspecto maravilhoso, capaz de nos inebriar e de fazer emagrecer a carteira.

Mais vale concentrarmo-nos árvore de Maio, um poste ou tronco de árvore decorado com imagens dos ofícios existentes na cidade ou aldeia em questão que é colocado, durante uma festa, a 1 de Maio. As suas origens ainda são motivo de controvérsia, mas acredita-se que será um ritual de fertilidade, em abono das colheitas. A Igreja acabou por se conformar com este costume que, na Baviera, obedece a um código próprio. Se a “árvore”, que costuma permanecer no mesmo local durante um ano, for roubada por uma aldeia ou comunidade vizinha, há que pagar, em cerveja, para a resgatar. É uma tradição, comum a outras regiões da Alemanha e da Europa.

Outra árvore com tradição é naturalmente o pinheiro de Natal, que nesta altura já está na Marienplatz, preenchida por uma das muitas feiras natalícias de Munique. Aqui pode-se comprar comida, souvenirs, artesanato e beber vinho quente, com canela e outras especiarias, para fazer face ao frio. 

A temperatura desta época do ano, frequentemente negativa, é coisa que parece não incomodar os jovens de Munique, que descobriram que é possível fazer surf na cidade, no centro da Europa. No extremo sul do Englischer Garten, o maior dos parques de Munique, perto da Casa da Arte (que Hitler abriu para ser apenas a Casa da Arte Alemã), há uma ponte sobre um canal do Eisbach (ribeiro de gelo), um afl uente do Isar, assente sobre um degrau que forma uma onda constante. Desde os anos 1970 que aparecem por ali jovens a surfar entre as margens de cimento, no estreito ribeiro. Há um sinal nas margens que diz que nadar é proibido e que o surf fica por conta e risco de quem o experimentar. 

E não falta quem esteja disposto a isso. E que se vista e dispa, com uma toalha à cintura, ali na rua, com temperaturas próximas dos zero graus. No Englischer Garten também há zonas para nudismo, mas o frio destes dias será desmoralizador. Se não se importar de se manter com muita roupa em cima do corpo quando estiver ao ar livre — as casas e edifícios estão sempre muito aquecidos —, esta até pode ser uma excelente altura para visitar Munique, apesar do tempo agreste. E pode tomar como bom aquele adágio bávaro que diz que, quando os anjos viajam, faz sempre bom tempo. 

--%>