Fugas - Viagens

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Lisa começou a andar na Áustria e só parou na Península Ibérica

Houve outras duas situações semelhantes, tal como distâncias de 40 quilómetros sob sol tórrido e sem água ou as crises musculares de Jala. Mas Lisa sempre acreditou que o caminho seria em frente.

Porquê andar?

“Andar é uma metáfora para tudo: queremos andar para frente, dar o primeiro passo, andar bem…”, reflecte a caminhante, explicando que este é o movimento mais fiel ao nosso ritmo, implicando corpo, emoções e mente. Não terão surgido sem intento os walkabouts da Austrália nem algumas tradições em tribos asiáticas e latino-americanas que decidem levar os seus problemas ao mundo deixando tudo e todos para trás. “Caminham até encontrarem uma resposta e não regressam antes”, pormenoriza Lisa, entrevendo no background nómada da Humanidade “algo que nos diz para continuarmos a andar”.

No caso da jovem austríaca, parece ter havido todo um treino de vida apontando para esta caminhada, desde a proximidade aos animais até à sua deficiência congénita: Lisa nasceu com um coração três vezes maior do que o normal. “Já tinha acampado diversas vezes: sei como fazer fogo em ambientes húmidos e construir um abrigo, conheço a Natureza, observo a minha cadela, sinto o meu corpo, sei ter a água como prioridade. Além disso, sou uma pessoa muito física e preciso de deitar toda a minha energia para fora. Depois, os acasos ditam o jogo”, enumera de uma assentada.

A última paragem pedestre foi Salamanca. De lá, o acaso de uma boleia conduziu-a à Herdade do Freixo do Meio, um projecto de produção biológica situado a poucos quilómetros de Montemor-o-Novo, onde acabou por ser voluntária durante dois meses.“Foi a minha primeira cama depois de muitas semanas. Além disso, estava bastante doente, pelo que foi uma oportunidade para parar e organizar a minha saúde”, conta. Até então, as paragens mais longas tinham sido de quatro dias mas, no Alentejo, a miúda do coração grande deixou-se ficar. “Mesmo não gostando de muitas coisas, sinto-me mais no sítio certo aqui [em Portugal]. E quero voltar.”

Lisa regressou a Viena a 23 de Dezembro, de comboio. Por estas alturas, andará a escrever a quem deixou pelo caminho, como indiciou antes de partir: “Acho que tenho de enviar uns 50 postais quando chegar... Com o dinheiro que poupei, há-de dar para fazer isso.”



Guia do caminhante

- Mochila confortável e um peso máximo de 15 kg
- Preparação física. Lisa Klimek caminhou 15 km todos os dias, durante duas semanas, antes de partir
- Testar o calçado antes da viagem
- Saber orientar-se pelo sol e com a ajuda do compasso magnético (feito de uma agulha e uma tigela com água)
- Aprender a ler mapas, tendo em conta os declives e cursos de água
- Saber fazer fogo em ambientes secos e húmidos
- Ter um kit de primeiros socorros
- Munir-se de contactos para emergências
- Saber construir um abrigo
- Utilizar um colchão isolante, um bom saco-cama e uma tenda de campismo resistente
- Ter linhas e agulhas, já que os remendos são inevitáveis
- Ter noções ou mesmo formação em auto-defesa
- Seguir um comportamento ecológico
- Saber como lidar com animais no seu habitat natural
- Confiar nos instintos para escapar ao perigo

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