Fugas - Viagens

  • Pedro Gadanho
    Pedro Gadanho Marco Alves
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    Pedro Gadanho Marco Alves
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    Pedro Gadanho Marco Alves
  • Uma turista fotografa o MoMa ao longo da West 53rd street
    Uma turista fotografa o MoMa ao longo da West 53rd street Mike Segar/Reuters
  • O Café Lalo, café de culto em NYC
    O Café Lalo, café de culto em NYC DR
  • No Riverside Park, jogging em nevão de Janeiro
    No Riverside Park, jogging em nevão de Janeiro Mike Segar/Reuters
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    Pela Sixth Avenue Brendan Mcdermid/Reuters
  • Madison Square Park
    Madison Square Park Brendan Mcdermid/Reuters
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    O "skyline" de Manhattan e a Manhattan Bridge Shannon Stapleton/Reuters
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    Um "amor" a Nova Iorque num carro coberto por um nevão Lucas Jackson/Reuters

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A Nova Iorque de Pedro Gadanho

A multiplicidade é o que o faz pensar em si como um homem cosmopolita, que gosta de centros de grandes cidades, da diversidade de hipóteses e de rostos, de estímulos que uma metrópole permite, mas se incomoda com o modo como ela limita a tantos essas possibilidades. Dá o seu exemplo. Em dois anos, teve hipótese de experimentar várias cidades dentro da cidade. “Vivi em cinco lugares muito diferentes e em cada um fui um habitante diferente de Nova Iorque. Isso permitiu-me ter conhecimento melhor da cidade.” Em Park Slope, numa town-house, ou num apartamento em Canal Street (fronteira entre o Village, o Soho, Little Italy, lugar de bares e falsificações, lojas, lojinhas, turistas e fiéis). É a escolha entre um bairro parecido com o de uma grande cidade da Europa, como Berlim, ou o de uma boémia que, apesar das suas hesitações ou deambulações, ainda é singular na zona baixa de Manhattan, antes de chegar a Wall Street.

Viver em Nova Iorque não é igual em Brooklyn, no Upper West, no Village, em Chelsea ou no Lower. Conhece esses lugares, como habitante ou passeante. Sabe também dos outros, dos excluídos dos mapas do beautiful people ou dos turistas. Percorre-os a pé, seguindo as tais linhas rectas, reparando nas perpendiculares. No metro, o seu transporte na cidade, encontra os rostos de quem lá vive. “Não tenho carro. Quando preciso, alugo um.” Como no dia em que foi até ao Vale do Hudson, seguindo a Broadway. Mais uma vez, a mesma via e tantas urbes. Os contrastes que encantam ou agridem, ou apenas existem fazendo do conjunto a maior riqueza de uma cidade. Nisso, Nova Iorque é coerente. Nos contrastes, que não são apenas geográficos, mas sazonais. Ali, as estações do ano existem e marcam a vida dos nova-iorquinos. Por isso a imagem do homem a andar de bicicleta tão frequente em Abril, Maio ou Junho, mesmo em Setembro ou Outubro, passa a ser impossível de replicar no Inverno. As estações são marcadas e marcam quem ali vive.

A arte

A conversar com um arquitecto, a geografia tem um lado político. Quem acompanha o blogue não estranha o discurso. Nas vésperas desta conversa, escreveu no blogue: “Por aqui, uma demência conservadora estarrecedora continua a tentar convencer toda a gente dos benefícios da economia trickle-down — a ideia delirante de que se houver uns quantos bilionários a sua riqueza vai pingar magicamente para todos à sua volta —, o texto do Weekly Standard mostra com números e estudos que, mesmo no último reduto da cultura empresarial libertária, a desigualdade só continua a aumentar. Basicamente, a mensagem é agora: ‘Habituem-se!!’ Estamos na polis num momento em que expressões ou palavras como estratificação social, estigma, exclusão, segregação estão na agenda de quem vive e gere esse espaço de partilha que é a cidade e a distopia parece ter dado lugar à utopia quando se aponta um futuro.”

Pedro Gadanho tem escrito sobre o assunto no seu blogue. Quem são os que andam todos os dias de metro, consomem televisão como pipocas, os que cruzam as ruas sem levantar a cabeça, compram por atacado em lojas de menos de um dólar? O que os distingue dos escravos ou dos servos da Idade Média? Pessimismos numa cidade para a qual o mundo se habitou a olhar como modelo? Que contemporaneidade é esta? Não é só arquitectura, mas a arquitectura também refl ecte o tempo em que o espaço se vive e em Nova Iorque vive-se mais um acomodar do que um inquietar que conduza a algo verdadeiramente inovador, considera Pedro Gadanho, que encontrou, como habitante desta cidade, “a enorme qualidade de vida que é viver entre o Central Park e o Riverside, numa zona muito dinâmica, cheia de cafés, pequenas lojas, escolas e cinemas. Aqui há vida”, refere, em contraste com o Upper East, do outro lado do Parque que divide a ilha naquelas coordenadas, e onde vivem os mais ricos, “um lugar de lojas de luxo e uma enorme aridez social”.

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