Há horas que a neve cai sem pausa em Nova Iorque. Os fotógrafos de bilhetes postais disparam para ângulos inéditos. Há sempre uma nova forma de captar o branco numa cidade. Fala-se do sol e do sul. “Se tiver um sítio, terá de ser o centro de uma cidade. Mas com praia por perto”, acrescenta. Talvez esse sítio seja Lisboa, onde volta sempre esteja onde estiver. Quando chegou aos Estados Unidos, há dois anos, a meta era o final de 2014. Mas no início de 2014, o prazo pode prolongar- se até 2016. Talvez sejam cinco anos em Nova Iorque. As exposições previstas no contrato que o levou ao MoMA estão organizadas. Uma estreia-se em Julho, Conceptions of Space (18 projectos adquiridos pelo museu nos últimos dois anos, onde se inclui um de Siza Vieira) e outra no Outono.
Há trabalho a seguir. Gosta da perspectiva de ficar e garante que nunca sentiu a estranheza ou a sensação de perdição de quem chega sozinho a um lugar totalmente novo. “O social ligado ao meio onde trabalho ajudou nessa integração. Quando cheguei fui à inauguração de uma exposição em que a anfitriã era a Charlotte Rappling. O convite falava em jantar íntimo, mas havia umas 400 pessoas. Foi uma óptima amostra do que se seguiria.” Durante os seis meses em que viveu sozinho na cidade andou nesse “social artístico”. “Agora estou com a família” — e o lugar onde escolheu morar reflecte essa condição. Proximidade de escola, tranquilidade, uma centralidade que lhe permite estar próximo, à distância de umas estações de metro, do sítio onde estaria se fosse sozinho: o Soho, mais do que Chelsea, com as suas galerias hiper-inflaccionadas. Frequenta-as quando se justifica.
A Longhouse Projects, em Hudson Square, onde está representada a portuguesa Ana Cardoso, por exemplo. “Muitos artistas mudaram- se para Brooklyn por causa da especulação de Chelsea, mas é uma situação ainda muito emergente. Em Chelsea está o reconhecimento. Mas está tudo mais disperso, com várias centralidades no campo criativo.” Ele é o viajante atento, mais uma vez. Nova Iorque é o seu centro, mas na arquitectura não é lá que tudo acontece. É um agregador de tendências globais a partir da rua 53, não muito longe dos museus que frequenta como qualquer consumidor de arte: o Museum of Arts and Design (MAD), em Columbus Circle, o Whitney, bem perto, ou o New York City Museum, uma descoberta sobre a cidade quase sempre ignorada por quem a visita.
Olha-se em volta no Café Lalo. Há uma velha senhora numa garridice felliniana. Mais uma vez o cinema a ajudar, a dar coordenadas, ou sentido, ou o que se quiser que ajudasse a tornar um lugar mais familiar. E houvesse realizador e a imagem do início voltaria num plano pouco original. A bicicleta como ideia de partida para um passeio. Basta que passe o tempo da neve. Agora sobe a rua, pisando o branco que nunca antes foi pisado, passando por uma bicicleta parada, num passeio, em frente a uma porta. E se houvesse mar por ali, era lá que os olhos se fixavam. “É do que sinto mais falta por aqui. Mar e praia.”