Fugas - Viagens

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Por florestas e grutas, em terra de índios e garimpeiros

Jô e os efeitos da água

Este passeio tem um trilho mais curto, de seis quilómetros, e outro mais longo, de onze. Mas estamos com o tempo apertado e optamos pelo mais curto, que muito rapidamente nos conduz até à caverna Aroe Jari. O nome significa abrigo do fantasma na linguagem dos índios bororo e esta é a maior gruta de arenito do Brasil. O percurso que fizemos conduziu-nos até à cénica entrada lateral, uma grande boca por onde a água cai.

Dois pássaros verdes e amarelos saem da gruta, num voo espectacular, lançando grandes gritos, e logo de seguida voltam a entrar. “São as maritacas, vivem lá dentro.” Jô já começou a descer para o interior, avisando que é preciso ter cuidado porque as pedras estão escorregadias. “A caverna de arenito é diferente da de calcário porque não se vêem bem definidas as estalagtites e as estalagmites”, explica, enquanto guia os nossos passos no interior com a ajuda de uma lanterna. “O bom aqui é que pelas pegadas vemos o refúgio dos animais que vêm para cá para dentro.”

No interior desta caverna há um grande lago e por isso ela não pode ser atravessada de uma ponta à outra. As alternativas são a entrada principal, que também não permite avançar muito para o interior por causa da água, e esta entrada lateral. Mas uns metros mais à frente há outra abertura que merece uma visita. “Aqui é a lagoa Azul.” A tal que tínhamos visto na fotografia na Villa Guimarães. Jô pousa a mochila numa pedra e aponta para o interior. “Aqui tem os ninhos das maritacas. Olha lá o ninho naquele buraquinho. Elas estão lá só falando ‘estou aqui, estou aqui!”

A coloração azul do fundo desta gruta é dada pelas micro-algas, muito sensíveis, que aqui existem — e que são a razão pela qual não se pode nadar no interior. “Para vir da entrada da gruta até aqui só com equipamento de mergulho, e se erra o lugar de entrada vai para o fundo e acaba o oxigénio.” Jô gosta de ficar olhando para os efeitos que a água faz nas paredes da gruta. “Se ficar observando aparece cada coisa… olha ali, parece uma pessoa deitada, e na outra, um lobo.”

Temos tempo para mais uma visita, a uma caverna aberta ao público há pouco tempo, a Kiodo Brado, que pode ser atravessada de uma abertura a outra (cuidado para não pisar as fezes de morcegos), com a ajuda de uma passadeira de madeira, e da indispensável lanterna da Jô. A abertura da entrada é muito alta, uma garganta vertical que parece conduzir apenas à escuridão. Aventuramo-nos para o interior. A abertura enorme vai-se tornando uma entrada de luz cada vez mais pequena à medida que avançamos, mas quando já somos inteiramente dependentes do pequeno foco de luz com que Jô vai iluminando o chão e as paredes, surge à nossa frente outra entrada de luz, inicialmente pequena mas que vai crescendo até se transformar numa saída. O espaço por onde andamos não é mais, afinal, do que um sulco longamente escavado pela água, que foi moldando ondulações nas paredes de pedra.

É tempo de regressar. Percorremos, agora mais rapidamente, o caminho de volta, o cerrado, a mata ciliar, novamente o cerrado. E quando o sol já aperta, e o suor já escorre pela testa, avistamos o oásis que é o bar de apoio.

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