Foi uma cerimónia quase íntima e discreta, se é que se pode falar em discrição no cimo de uma torre que ultrapassava os 300 metros de altura e se afirmava como a edificação humana mais alta à face da Terra. Nesse dia 31 de Março de 1889, eram 14h40 em Paris, a escassa vintena de pessoas (da centena de convidados) que conseguiram subir os 1665 degraus – a maioria foi ficando pelo caminho… – viram Gustave Eiffel (1832-1923) içar uma bandeira francesa de grandes dimensões a assinalar a inauguração da torre que, a partir daí, passou a ostentar o seu nome.
A cerimónia, como era tradição à época, teve foguetes, uma salva de 21 tiros, discursos e… champagne. No final, de regresso ao chão, Eiffel recebeu do presidente do conselho de ministros francês, Pierre Tirard, a condecoração como oficial da Legião de Honra. E tinha ganho o seu lugar na História.
Passam na próxima segunda-feira exactamente 125 anos sobre esse momento simbólico de inauguração da Torre Eiffel. Mas a data não vai ter nenhuma celebração especial em Paris — e quase se pode dizer que nem é preciso: a Torre Eiffel é uma festa permanente.
A sociedade que agora explora o monumento, maioritariamente pertença do município de Paris, está mais ocupada com as obras que, desde 2012, está a realizar no primeiro piso da torre, e que deverão ficar concluídas no próximo Verão. E a razão desta intervenção não podia ser mais prosaica: os responsáveis querem tornar este primeiro patamar da subida da torre (57 metros) mais atractivo, e fazer parar nele os visitantes que, naturalmente, querem é subir mais alto: aos 115 metros do segundo ou aos 300 metros do terceiro.
Segredo de uma obra inútil
Mas o que é que, afinal, faz com que a Torre Eiffel seja actualmente, e segundo os dados fornecidos pelo Turismo francês, o monumento pago mais visitado no país (cerca de sete milhões/ano, rivalizando com o Museu do Louvre, e ao lado dos templos de Notre-Dame e Sacré-Coeur, estes com acesso gratuito) e um dos mais procurados no mundo — e que, em 2001, disputou mesmo a entrada na lista das Novas Sete Maravilhas do Mundo? Ou que, por exemplo, no final do ano passado, levou um coleccionador português não identificado a pagar num leilão 220 mil euros por uma secção de 19 degraus de acesso ao terceiro piso da torre?... E mais ainda tratando-se de uma “obra inútil”, que até foi construída com prazo de validade?
Joana Vasconcelos, que adora a Torre Eiffel, tem uma resposta simples: “Trata-se de uma das mais belas esculturas jamais construídas pelo homem.”
A escultora portuguesa sabe do que fala. Não só porque Paris é a sua cidade natal, mas porque já quis fazer nela uma intervenção, logo a seguir à que realizou, no Verão de 2008, na Ponte Luís I, no Porto, com uma colcha de croché gigante (500 m2) a que chamou Varina e que foi feita por costureiras de Santa Maria da Feira.
“Depois do Porto, achei que seria interessante transportar essa intervenção para a Torre Eiffel; seria como um abraço da cultura portuguesa a França”, conta Joana Vasconcelos à Fugas.
Para além da ligação histórica entre os dois países, a escultora lembra que o Porto, primeiro com a Ponte de D. Maria Pia e depois com a Luís I, funcionou como um teste para a empresa de Eiffel (pela mão do seu colaborador alemão Théophile Seyrig, que acabaria por romper com o construtor francês, tendo assinado a segunda ponte no rio Douro já em nome próprio) para a aventura da construção da torre para a Exposição Universal de Paris de 1889.
Joana Vasconcelos contactou, então, a Câmara de Paris e a sociedade que gere a Torre Eiffel, que a receberam “muito bem”, mas lhe explicaram que a torre “é património universal” e por isso ninguém deveria utilizá-la individualmente. E citaram-lhe mesmo o exemplo do mediático escultor búlgaro Christo, que também quisera envolver a Torre Eiffel com tecido, mas que teve de se “contentar” com a (também famosa) Pont Neuf sobre o Sena.
“Era uma ideia muito gira, e às vezes sonhamos com coisas que não são possíveis”, lamenta a artista que, no ano passado, levou o cacilheiro Trafaria Praia à Bienal de Veneza. Mas acrescenta que entendeu e aceitou as razões das autoridades de Paris, e lembra que o presidente da câmara, Bertrand Delanoë, lhe escreveu então “uma carta muito simpática” a justificar a decisão.
Símbolo de poder e génio
Do mesmo partido de Delanoë (PS), Hermano Sanches-Ruivo é o único vereador português na autarquia parisiense — cujo mandato termina com as eleições que amanhã têm a segunda volta em França. Também ele vê na Torre Eiffel “uma marca incontornável” do país. “É o monumento francês mais conhecido no mundo.”
Sanches-Ruivo — que espera ver renovado o seu mandato na Câmara de Paris, e que na próxima legislatura gostaria mesmo de “ser administrador da Torre Eiffel”, tal é o “entusiasmo” que ela lhe suscita — acrescenta que a torre é também “um símbolo do poder e do génio francês”.
Em declarações à Fugas prestadas na belíssima sala de sessões da câmara parisiense, o deputado português lembra que a torre está presente, por exemplo, no logótipo do Paris Saint-Germain, mas também — e por sugestão sua — no da recém-criada Casa do Benfica em Paris. “Queriam pôr o Arco do Triunfo, mas eu convenci-os de que a Torre Eiffel era muito mais universal”, justifica.
“A Torre Eiffel ultrapassa claramente o imaginário francês e é hoje uma referência mundial”, confirma o arquitecto Pedro Bandeira, que (com Pedro Nuno Carvalho), no ano passado, surpreendeu os meios da arquitectura e do urbanismo ao propor, no âmbito de um concurso público para a revitalização do quarteirão Aurifícia no Porto, a deslocalização para ali da agora desactivada Ponte de D. Maria Pia (ver PÚBLICO de 04/11/2013).
Pedro Bandeira diz que “a prova disso é que, em todo o mundo, existem mais de 80 torres construídas com altura igual ou superior à Torre Eiffel, mas se tivermos memória para assinalar dez destes edifícios, por certo que a Torre Eiffel estará incluída”.
Para este arquitecto, “há muito tempo que a Torre Eiffel já não é uma questão de altura, nem uma questão técnica; é uma questão simbólica, em que se revêem todos aqueles que acreditam em superar o impossível”.
Quem tem uma experiência da torre por dentro é Bruno Pimenta, um luso-descente (nasceu em Paris há 28 anos, filho de imigrantes oriundos de Santo Tirso), que integra a equipa de guias do monumento. “É um sítio impressionante e único. Nunca me farto de olhar para a torre, mesmo se, muitas vezes — e porque se trata de um trabalho —, não nos apetece vir…”, diz este jovem que encontrou na Torre Eiffel uma solução de emprego depois de nela ter trabalhado em períodos efémeros nas férias de Verão quando era estudante. “Acabei por ficar efectivo aqui, e acho que foi uma boa escolha — estamos no centro do mundo”, diz Bruno Pimenta, referindo-se ao contacto que o seu trabalho permite com visitantes vindos de todo o lado.
“Gosto do contacto com as pessoas, de não me sentir preso na cadeira de um escritório”, acrescenta, explicando que o seu trabalho consiste em guiar e esclarecer os turistas, e também em conduzir os elevadores que os levam aos três andares da torre.
O general salvador
Pode-se ver e visitar a Torre Eiffel de diferentes modos. À partida, qualquer que seja o lugar onde chegamos a Paris, ela estará visível — “Quando há tempos procurámos um novo apartamento perto da Cidade Universitária, os meus dois filhos gémeos foram logo ver se do jardim se via a Torre Eiffel; era uma condição para mudarmos de casa”, recorda Sanches-Ruivo —, de dia, no seu perfil inconfundível, de noite, com o laser que varre a cidade de luz a cada segundo.
Ao viajarmos pelo Sena, ao chegarmos à praça Trocadéro ou ao Campo de Marte, a torre aparece-nos em toda a imponência da arquitectura do ferro treliçado que marcou a industrialização (e o poder económico de França) do século XIX.
Se optarmos por uma visita guiada, teremos o privilégio de começar pelos subterrâneos, seguido de uma descida à “casa das máquinas”, que nos permite conhecer toda a mecânica dos elevadores.
Um guia “disfarçado” de aviador do tempo de entre as duas guerras mundiais — a visita tem normalmente grupos escolares como principais destinatários — vai romanceando a história do monumento, misturando crónicas de amores platónicos imaginados com episódios verídicos.
A visita começa, a alguns metros do pilar sul, frente à estátua do engenheiro e general Gustave Ferrié (1868-1923), “o homem que salvou a Torre Eiffel” ao evitar que, como previsto, ela fosse demolida em 1910 e fosse antes aproveitada como um lugar fulcral para as experiências pioneiras da rádio, que então começava a surgir na Europa.
Data de 1908 a instalação subterrânea, ao lado da torre e que substituiu a cabana de madeira inicialmente colocada entre os pilares, dos ainda primitivos estúdios de rádio, que haveriam de se mostrar fundamentais no decorrer da Guerra de 1914-18 e também posteriormente — na cave, entre as fotografias históricas, destaca-se uma em que o actor, dramaturgo e cineasta Sacha Guitry e a cantora e actriz Yvonne Printemps surgem ao lado do general Ferrié numa emissão de rádio em 1921.
Depois — e passados longos minutos na bicha de acesso à entrada, mesmo nos grupos prioritários —, somos conduzidos à casa das máquinas, e aí serpenteamos por entre depósitos de água, chariots, roldanas e um complexo sistema hidráulico que geriu os elevadores desde 1899, até em 1986 ter sido modernizado com a automatização eléctrica. “A única mudança de relevo neste sistema foram as condições de trabalho dos funcionários, que melhoraram muito”, explica o guia.
A visita termina sobre o tecto do famoso restaurante Júlio Verne (ver caixa), no segundo piso, não sem antes ouvirmos romantizar aventuras históricas e dramáticas, como a que, no dia 4 de Fevereiro de 1912, levou um discreto alfaiate francês de origem austríaca, Frantz Reichelt, a “inventar” um pára-quedas com o qual se lançou da torre para a… morte (momentos registados pelas câmaras dos pioneiros do cinema francês Irmãos Pathé). Este “feito” permitiu a Reichelt ficar conhecido, para a posteridade, como o “alfaiate voador”…
A partir daqui, o visitante fica livre para continuar o percurso por conta própria, subindo, se quiser, ao terceiro andar, passeando o olhar sobre Paris, e depois descendo de regresso a terra firme.
100 da Revolução Francesa
Mas vamos agora à História — de França. Em meados da década de 1880, já na vigência da III República, o país lambia ainda as feridas da derrota na Guerra Franco-Prussiana e do fracasso da Comuna de Paris (1871), e enfrentava um complicado período de estagnação demográfica, de queda da produção agrícola e também no ranking mundial dos países industrializados, além da deriva na política económica. Num cenário como este, as Exposições Universais, inauguradas em Londres em 1851, são vistas como momentos privilegiados para fazer esquecer as agruras internas e simultaneamente para a afirmação internacional. Em apenas um quarto de século, Paris tinha já organizado três grandes exposições: em 1855, 1867 e 1878 (esta com resultados bem distantes das expectativas), todas elas praticamente com a indústria como tema principal.
Em 1884, sob a presidência de Jules Grévy, a República decide apostar em nova Exposição Universal, desta vez com o pretexto de assinalar o centenário da Revolução de 1789.
O caderno de encargos incluía a construção de um Palácio das Artes, um Palácio das Ciências e uma Galeria das Máquinas, mas também de uma “porta” que deveria ser uma torre em ferro com uma altura de 300 metros. A Exposição deveria, como as duas anteriores, realizar-se no Campo de Marte, na margem esquerda do Sena, em frente ao Palácio do Trocadéro, que tinha sido edificado para a de 1878.
A encomenda, que teve a mão do influente ministro Édouard Lockroy, pareceu feita à medida de um projecto que tinha sido elaborado, em Junho de 1884, por dois colaboradores de Gustave Eiffel, proprietário de uma empresa de construção então já com nome firmado não só em França como também em Espanha e em Portugal, principalmente na área dos caminhos-de-ferro e das pontes (recorde-se que a Ponte de D. Maria Pia fora inaugurada em 1877 e, em 1885, a equipa de Eiffel concluiria uma estrutura idêntica, o viaduto de Gabarit, sobre o rio Truyère no Maciço Central francês).
A concurso foram, mesmo assim, apresentados mais de uma centena de projectos com as ideias mais diversas: uma delas era uma torre integralmente em granito e, outra, uma guilhotina gigante — estranha forma de assinalar a Revolução que cortou o pescoço a Luís XVI e Maria Antonieta, Danton e Robespierre!...
Diz-se que Eiffel começou por não se mostrar muito entusiasmado com o desenho que lhe tinha sido apresentado pelos seus engenheiros Émile Nouguier (1840-1898) e Maurice Koechlin (1856-1946, que substituíra Théophile Seyrig na empresa). Mas, apenas três meses depois, o empresário decide registar a patente do projecto, que entretanto tinha sido melhorado com a participação do arquitecto Stephen Sauvestre (1847-1919). No final de 1884, Eiffel negoceia com os seus projectistas ficar com a exclusividade dos direitos da torre. Uma decisão que, como se verá com o que veio a seguir, confirma o sentido do negócio deste empresário e construtor, que sempre foi mais um gestor do que propriamente um criador.
Exemplo disso foi a forma como Eiffel decidiu assumir grande parte do custo da construção da torre, que viria a chegar aos 7,5 milhões de francos (equivalentes, hoje, a cerca de 75 milhões de euros), assegurando, em contrapartida, os direitos da sua exploração, não só durante a Exposição Universal mas também nas duas décadas seguintes.
“No pensamento de Eiffel, esta obra colossal deveria constituir uma brilhante manifestação do poder industrial do nosso país, atestar os imensos progressos registados na arte das construções metálicas, celebrar o impulso extraordinário do génio civil no decorrer deste século, atrair numerosos visitantes e contribuir largamente para o sucesso dos grandes causas pacíficas organizadas para o centenário de 1789”, escreveu o engenheiro Alfred Picard no relatório oficial que fez da Exposição de 1889, citado pelo guia da Torre Eiffel publicado pela Éditions du Patrimoine.
Dois anos, dois meses
E esse projecto foi claramente conseguido. Em primeiro lugar, através de uma gestão rigorosa da construção, que demorou apenas dois anos, dois meses e cinco dias (de 26 de Janeiro de 1887 a 31 de Março de 1889), tendo envolvido 150 operários (210 nas últimas semanas), e sem que nenhum acidente mortal tenha ocorrido.
Durante esse tempo, para além da construção, Eiffel teve de gerir uma greve de cinco dias no Verão de 1888. Mas teve, antes disso, de enfrentar uma intensa campanha de contestação vinda de sectores da opinião pública que viam na torre um projecto tão monstruoso quanto inútil.
Logo em Fevereiro desse ano, um conjunto de 47 artistas (que incluía os escritores Guy de Maupassant e Sully Prudhomme — que se tornaria, em 1901, no primeiro Nobel da Literatura —, o compositor Charles Gounod e o pintor León Bonnat) subscreveram no diário Le Temps um manifesto contra a construção da torre, que classificaram como um projecto “vertiginosamente ridículo”, mais parecendo “uma chaminé negra de fábrica”. “Nós, escritores, pintores, escultores, arquitectos, amadores apaixonados pela beleza até agora intacta de Paris, vimos protestar com todas as nossas forças, com toda a nossa indignação, em nome de um gosto francês desprezado, em nome da arte e da história francesas assim ameaçadas, contra a edificação, em pleno coração da nossa capital, da inútil e monstruosa Torre Eiffel”, dizia o texto, que se referia depreciativamente ao empresário como “um construtor de máquinas”, e apregoava que a torre seria “a desonra de Paris”.
Eiffel respondeu, no mesmo jornal, com uma argumentação essencialmente técnica, mas defendendo também ser o carácter “colossal” do projecto que “exerce um charme próprio, ao qual as teorias da arte não são aplicáveis”. E deu como exemplo a perenidade das pirâmides do Egipto, que, mais do que pela estética, impressionam pela grandeza e esforço patentes na sua construção.
Na verdade, Eiffel não precisou de esperar pela posteridade para ver reconhecida a atractividade e o sucesso da sua torre. A inauguração oficial da Exposição Universal, a 5 de Maio de 1889, e a abertura da torre ao público alguns dias depois, motivaram uma corrida ao novo monumento, que, durante a exposição (até 31 de Outubro), resultou em quase dois milhões de visitantes, dos 32 milhões registados no final do evento (número que duplicou o dos visitantes da Exposição de 1878).
Apesar desse sucesso, a verdade é que a Torre Eiffel tinha o destino marcado, e data de demolição inclusivamente agendada para 1910, o primeiro ano em que os direitos de exploração já não pertenceriam ao construtor e empresário.
Mas logo em 1900, com nova Exposição Universal em Paris, e mesmo que o local do evento se tenha distendido — nesse ano e nas feiras seguintes de 1925 (Artes Decorativas e Industriais), 1931 (Exposição Colonial Internacional, realizada na parte leste da cidade, em volta do lago Daumesnil e do bosque de Vincennes) e 1937 (Artes e Técnicas na Vida Moderna, de regresso ao Sena e ao Trocadéro) —, a Torre Eiffel manteve-se sempre como um ícone maior da cidade.
Como vimos, a descoberta da rádio — a primeira emissão em França aconteceu em 1898, precisamente da torre para o Panteão de Paris — e a intervenção do general Ferrié viriam a ser decisivas para a sua sobrevivência. E Eiffel soube reverter isso em favor da sua obra, tendo sido também pioneiro no aproveitamento das suas potencialidades para usos e estudos metereológicos. Acabaria por conseguir mesmo manter a concessão da gestão na sua família até… 1979, ano em que a Câmara de Paris assumiu a propriedade do torre, entretanto classificada como Monumento Histórico (1964).
Com o tempo, a Torre Eiffel foi-se afirmando como algo que valia por si mesmo, na sua inutilidade, independentemente dos usos que iam sendo feitos dela: experiências científicas, utilização militar, painel de publicidade, cenário cinematográfico (lembram-se de Grace Jones a lançar-se dela de pára-quedas para escapar ao Agente 007/Roger Moore em Alvo em Movimento, de 1985?...), local de festejos nacionais… “Hoje – diz Hermano Sanches-Ruivo –, ninguém imagina o fogo-de-artifício do 14 de Julho [Festa Nacional em França] que não seja na Torre Eiffel”…
“A importância da Torre Eiffel para a história da engenharia e da arquitectura é mais simbólica do que técnica”, nota Pedro Bandeira. O arquitecto lembra que, “do ponto de vista estrutural, se trata de um projecto arrojado pela sua altura, mas não necessariamente inovador”, citando, por exemplo, projectos anteriores da casa Eiffel, como a Ponte de D. Maria Pia, no Porto, que “já exibiam toda a potencialidade de uma estrutura de ferro treliçada”. Do mesmo modo, e “do ponto de vista arquitectónico, o Crystal Palace em Londres — precisamente construído para a I Exposição Universal, em 1851 — também se antecipou na exibição de uma arquitectura do ferro”, acrescenta.
Pedro Bandeira avança que foi “talvez Le Corbusier um dos primeiros arquitectos a reconhecer-lhe importância e a beleza própria de uma linguagem industrial e moderna”.
O historiador de arquitectura Nikolaus Pevsner, fundador dos Guias de Arquitectura da Penguin, viria depois a chamar mesmo a Eiffel “o primeiro construtivista”.
Joana Vasconcelos sintetiza a importância da Torre Eiffel assim: “É um totem da Europa e da era da industrialização.”
Algumas datas
1832 – Gustave Eiffel nasce na cidade de Dijon, no dia 15 de Dezembro.
1855 – I Exposição Universal de Paris (Produtos da Agricultura, da Indústria e das Belas-Artes).
1867 – II Exposição Universal de Paris.
1878 – III Exposição Universal de Paris.
1884 – Engenheiros Maurice Koechlin e Émile Nouguier, da empresa de Gustave Eiffel, fazem o anteprojecto de uma torre em ferro para a margem esquerda do Sena.
1886 – Lançado concurso público para a construção de uma torre em ferro para a Exposição Universal de 1889.
1887 – No dia 26 de Janeiro inicia-se a construção das fundações.
1889 – No dia 31 de Março, Gustave Eiffel hasteia a bandeira de França no topo da torre a assinalar a sua inauguração oficial. A 5 de Maio, abre a Exposição Paris 1889 – a abertura da torre ao público acontece apenas três semans depois, quando os elevadores ficam prontos a funcionar.
1889 – Georges Seurat pinta vários quadros com a Torre Eiffel – é o primeiro de uma série de artistas (Marc Chagall, Raoul Dufy, Robert Delaunay…) a fazê-lo.
1890 – Instalação de uma estação meteorológica na torre.
1898 – Primeira emissão de rádio em França é realizada na torre.
1900 – Exposição Universal de Paris (Balanço de um Século)
1909 – No final do ano termina a licença de concessão a Eiffel para exploração da torre, mas que será prolongada até 1926.
1920 – Criada a Rádio Torre Eiffel.
1923 – Gustave Eiffel morre em Paris, no dia 27 de Dezembro.
1925 – Exposição Internacional das Artes Decorativas e Industriais. A Citroën instala na torre um anúncio gigante da marca, que se manterá até meados dos anos 1930.
1929 – Inaugurado busto de Eiffel, de autoria do escultor Antoine Bourdelle, junto ao pilar norte.
1931 – Exposição Colonial e Internacional de Paris.
1935 – Primeira emissão de televisão a partir da torre.
1940 – Na sequência da invasão de Paris, a torre é tomada pela Wehrmacht, que nela hasteia a bandeira nazi.
1944 – Paris é libertada e a Torre Eiffel recupera a bandeira tricolor.
1953 – Primeira emissão da Eurovisão (coroação de Isabel II Rainha de Inglaterra) para França é feita na torre.
1956 – Incêndio no último andar obriga à reconstrução do topo. Um segundo incêndio, de pequenas proporções, acontece em 2003.
1964 – A Torre Eiffel é classificada como Monumento Histórico.
1979 – No final do ano termina a concessão da exploração à família Eiffel — a torre passa a ser gerida pela Câmara de Paris.
2012 – Início de obras de modernização do primeiro andar.
2013 – Google Cultural Institute disponibiliza online uma exposição sobre a história da Torre Eiffel.
Eiffel, uma torre de números
- 2 anos, 2 meses e 5 dias foi o tempo que demorou a construção;
- 150 operários (210 nas semanas finais) participaram na empresa;
- 7,5 milhões de francos (equivalente, hoje, a cerca de 75 milhões de euros) foi o custo da construção;
- 324 metros é altura actual (com os 20 metros da última antena, instalada em 2000). Quando foi concluída, a Torre Eiffel, com os seus 300,65 metros, tornou-se no edifício mais alto do mundo, título que manteve até 1930, sendo então ultrapassada pelo edifício Chrysler, em Nova Iorque (318 metros);
- 115 metros é a altura do 2.º piso; e 57 metros a do 1º.;
- 1665 degraus;
- 7 mil toneladas é o peso do conjunto;
- 7 anos é o prazo regular de cada repintura, por razões de conservação;
- 1.968.287 visitantes subiram a torre na Exposição Universal de 1889, que, ao todo, teve 32 milhões de entradas;
- 2 e 5 francos (1 franco ao domingo) eram os preços dos bilhetes durante a Exposição;
- 250 milhões de pessoas já visitaram a Torre Eiffel ao longo da sua história;
- 3200 lâmpadas incandescentes foram instaladas na torre para a Exposição Universal de 1900;
- 107 projectos foram apresentados ao concurso para a construção da torre;
- 72 nomes de engenheiros e cientistas franceses que viveram depois de 1789 foram inscritos por Eiffel nas faces laterais do 1.º piso.
Guia prático
Onde ficar
Um hotel com História
A Fugas ficou alojada no Hotel Napoléon (8.º Bairro), a escassos metros do Arco do Triunfo e, por isso, a apenas um quarto de hora, a pé, da Torre Eiffel. É um hotel (4 estrelas) com o conforto e o luxo tipicamente parisienses, e também recheado de História (e histórias). A começar pela do nome, certamente inspirado pela sua localização — o Arco do Triunfo foi mandado erguer por Napoleão Bonaparte, e a Avenida Friedland tomou, em 1864, o nome da batalha que o Imperador venceu frente à Rússia, em 1807.
O imaginário napoleónico e de figuras da aristocracia e da burguesia da História de França decoram os vários espaços (até os indicadores das casas de banho são retratos de personagens, homens e mulheres, da alta sociedade parisiense) deste hotel que foi inaugurado em 1928. O edifício fora construído, cinco anos antes, sobre as fundações de um antigo palacete, com um projecto do arquitecto Henri Porteau. A história do hotel associa às suas origens um verdadeiro “conto de fadas”: a paixão de um rico empresário russo, Alexander Kliaguine, por uma jovem parisiense estudante de Letras levou-o a presenteá-la com uma residência de luxo, onde ela, entretanto tornada baronesa de Baubigny, passou a viver e a receber a haute societé da época.
Já como hotel, pelo Napoléon passaram militares americanos que intervieram na libertação de Paris e o seu livro de honra ostenta também as assinaturas de várias figuras notáveis das artes, letras e cinema, como Salvador Dali e Miles Davis, Ernest Hemingway, John Steinbeck e Mario Vargas Llosa, Josephine Baker, Jean Gabin e Orson Welles…
Hotel Napoléon
40, Av. de Friedland (metro Charles De Gaule-Étoile)
Tel.: +33 (1) 56684321
hotelnapoleon.com
53 quartos e 49 suites. Preços: quarto duplo a partir de 235 euros
Onde comer
O facto de o 1.º andar da Torre Eiffel estar actualmente em obras diminuiu temporariamente as alternativas para quem quer almoçar ou jantar usufruindo da sua vista única sobre Paris. Presentemente, essas possibilidades resumem-se, no 2.º andar, a um pequeno bar, ou então ao exclusivíssimo Restaurante Júlio Verne, gerido pelo chef Alain Ducasse (presença habitual no ranking das estrelas Michelin). A lista de reservas — explica o guia da Torre Eiffel — leva actualmente cerca de três meses de espera, e os preços podem ir de menus de 98 a 235 euros…
Enquanto se espera a reabertura do 1.º andar, que oferecerá novas alternativas (certamente muito mais em conta) para refeições, o visitante pode sempre recorrer aos restaurantes e brasseries da Avenida de Suffren, do lado do pilar sul da torre. Entre eles está a Brasserie Le Bailli de Suffren, que oferece pratos do dia a partir de 13,50 euros e os típicos menus franceses (dois ou três pratos) a partir de 17,50 euros.
Brasserie Le Bailli de Suffren
7, Av. de Sufren
Tel.: +33 (1) 45665971
O que fazer
Uma história alargada do Impressionismo
Para além de ver a Torre Eiffel e de passear pela cidade, há sempre muito que fazer em Paris. Mesmo nesta altura do ano, que é de algum modo um período “morto” na agenda de exposições de parte dos grandes museus e instituições da cidade, onde já fecharam as mostras do Inverno e ainda não abriu o cartaz da Primavera.
Da agenda actual — e para além da incontornável exposição de fotografia de Henri Cartier-Bresson no Centro Pompidou (com horas de espera na bicha) —, há uma circunstância curiosa que permite aos amantes do impressionismo usufruir de um acervo invulgar, e mais extenso do que o habitual, nos museus parisienses dedicados a este período da história da pintura. Trata-se de Les Impressionistas en Privé, exposição temporária que estará no Museu Marmottan Monet até ao início do Verão. A assinalar o 80.º aniversário deste museu que contém a maior colecção de obras de Claude Monet (resultante da doação feita por um dos filhos do pintor de Impression, soleil levant), ao lado de um também rico espólio de nomes como Morisot, Degas, Manet ou Renoir, aí se pode ver também agora uma centena de obras-primas destes e de outros expoentes daquele movimento provenientes de colecções privadas de todo o mundo.
Assim, com esta exposição e com a passagem pelos museus d’ Orsay (que tem a maior colecção mundial de impressionistas) e d’Orangerie (para ver os nenúfares de grandes dimensões de Monet), o visitante fica com uma visão mais abrangente deste período que mudou a história da pintura, em França e no mundo.
Exposição Les Impressionistes en Privé
Museu Marmottan Monet
2, Rue Louis-Boilly (metro La Muette)
Tel.: +33 (1) 44965033
www.marmottan.fr
Até 6 de Julho
________________________________
A Fugas viajou a convite da Atout France