Foi uma cerimónia quase íntima e discreta, se é que se pode falar em discrição no cimo de uma torre que ultrapassava os 300 metros de altura e se afirmava como a edificação humana mais alta à face da Terra. Nesse dia 31 de Março de 1889, eram 14h40 em Paris, a escassa vintena de pessoas (da centena de convidados) que conseguiram subir os 1665 degraus – a maioria foi ficando pelo caminho… – viram Gustave Eiffel (1832-1923) içar uma bandeira francesa de grandes dimensões a assinalar a inauguração da torre que, a partir daí, passou a ostentar o seu nome.
A cerimónia, como era tradição à época, teve foguetes, uma salva de 21 tiros, discursos e… champagne. No final, de regresso ao chão, Eiffel recebeu do presidente do conselho de ministros francês, Pierre Tirard, a condecoração como oficial da Legião de Honra. E tinha ganho o seu lugar na História.
Passam na próxima segunda-feira exactamente 125 anos sobre esse momento simbólico de inauguração da Torre Eiffel. Mas a data não vai ter nenhuma celebração especial em Paris — e quase se pode dizer que nem é preciso: a Torre Eiffel é uma festa permanente.
A sociedade que agora explora o monumento, maioritariamente pertença do município de Paris, está mais ocupada com as obras que, desde 2012, está a realizar no primeiro piso da torre, e que deverão ficar concluídas no próximo Verão. E a razão desta intervenção não podia ser mais prosaica: os responsáveis querem tornar este primeiro patamar da subida da torre (57 metros) mais atractivo, e fazer parar nele os visitantes que, naturalmente, querem é subir mais alto: aos 115 metros do segundo ou aos 300 metros do terceiro.
Segredo de uma obra inútil
Mas o que é que, afinal, faz com que a Torre Eiffel seja actualmente, e segundo os dados fornecidos pelo Turismo francês, o monumento pago mais visitado no país (cerca de sete milhões/ano, rivalizando com o Museu do Louvre, e ao lado dos templos de Notre-Dame e Sacré-Coeur, estes com acesso gratuito) e um dos mais procurados no mundo — e que, em 2001, disputou mesmo a entrada na lista das Novas Sete Maravilhas do Mundo? Ou que, por exemplo, no final do ano passado, levou um coleccionador português não identificado a pagar num leilão 220 mil euros por uma secção de 19 degraus de acesso ao terceiro piso da torre?... E mais ainda tratando-se de uma “obra inútil”, que até foi construída com prazo de validade?
Joana Vasconcelos, que adora a Torre Eiffel, tem uma resposta simples: “Trata-se de uma das mais belas esculturas jamais construídas pelo homem.”
A escultora portuguesa sabe do que fala. Não só porque Paris é a sua cidade natal, mas porque já quis fazer nela uma intervenção, logo a seguir à que realizou, no Verão de 2008, na Ponte Luís I, no Porto, com uma colcha de croché gigante (500 m2) a que chamou Varina e que foi feita por costureiras de Santa Maria da Feira.
“Depois do Porto, achei que seria interessante transportar essa intervenção para a Torre Eiffel; seria como um abraço da cultura portuguesa a França”, conta Joana Vasconcelos à Fugas.