Fugas - Viagens

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Malta: Olívia diz que é uma ternura a pequena aldeia do Popeye

As nuvens, de um branco sujo, começam a afastar-se e o sol, agora incidindo sobre as fachadas das casinhas coloridas, conferindo-lhes mais vivacidade, aquece a manhã e os corações dos adultos que, por breves instantes, regressam a um tempo de memórias. Popeye, com o seu cachimbo, contraindo ou descerrando as maxilas, com as suas pernas arqueadas e os músculos dos braços erguendo-se nos céus, afaga o pêlo de um gato sonolento, observado por Olívia Palito e Brutus. Os turistas vão chegando, em bom número, e não tardam a ser invadidos por um sentimento que é um misto de felicidade e nostalgia.

- Adoro o Popeye, atira Vanessa, logo interrompida por Danilo, ambos italianos. “Olívia”, enfatiza ele, com sotaque e um suspiro, como quem vive uma paixão pela esguia rapariga a quem muitos diagnosticam um problema de anorexia.

Antoine Cauchi, conhecendo a aldeia, está também identificado com este fenómeno de popularidade.

- Recebemos turistas de quase todos os países do mundo, se não acredita passe os olhos pelo livro de registos, à entrada. Mas Itália é um caso sem paralelo e tem uma explicação muito simples: Popeye continua a ser exibido na televisão — e mesmo os mais jovens estão perfeitamente sintonizados com a vida do marinheiro.

Popularidade

A aldeia do Popeye está aberta ao público durante todo o ano e, entre os 500 mil turistas que a visitam anualmente, contam-se largos milhares de malteses, seduzidos pelos diferentes espectáculos que são organizados. Há sete anos como responsável do parque temático, Antoine Cauchi bem cedo percebeu a necessidade de oferecer ao público um pouco mais do que uma breve incursão pelas ruas e vielas do complexo.

- Agora temos eventos no Halloween, no Carnaval, como um espectáculo de máscaras brasileiras, no Natal, de tudo um pouco ao longo do ano e sempre com um carácter inovador. Entretanto, foram construídas duas piscinas e, no Verão, temos autorização para colocar trampolins aquáticos e, desde que as condições atmosféricas o permitam, organizar curtas viagens de barco na baía, de forma a que os turistas tenham outra perspectiva da aldeia.

Após dois ou três anos de alguma angústia, motivada pela crise económica, os esforços da equipa que lidera começam a ser compensados.

- O resultado está à vista: para os malteses, a aldeia é hoje encarada, com a dinâmica que lhe emprestamos, como mais um motivo para a visitar, na certeza de que há sempre algo de novo para presenciar. Quando partem, fazem-no com o sentimento de que, mais dia, menos dia, irão regressar. E, mesmo assim, a aldeia, com todo o seu cenário, continua a ser a mesma, igual à que conheceram em anos anteriores, tal e qual como foi caracterizada no filme.

Foi em Junho de 1979 que começou a ser montado o cenário para a comédia musical americana do realizador Robert Altman, inspirada nas histórias aos quadradinhos de Elzie Segar e em sátiras mais antigas de Max Fleischer, e tendo Robin Williams como protagonista no papel do épico marinheiro. O filme garantiu, em bilheteira, mais do que o dobro do orçamento (as receitas ascenderam a mais de 50 mil euros), mas antes de ser exibido, em 1980, empregou 165 trabalhadores que, ao fim de sete meses, deram a missão como concluída. A aldeia de pescadores (uma realidade que se estende até aos dias de hoje porque, sem o saber, deixei a Anchor Bay, à boleia, na companhia de um deles), também conhecida como Sweethaven, viu erguidas, durante esse período, quase duas dezenas de casas rústicas e, aparentemente, decrépitas aos olhares de muitos, motivando a utilização de centenas de troncos e de uns milhares de tábuas de madeira, matéria importada da Holanda e do Canadá (neste último caso as telhas, semelhantes a muitas outras visíveis nos telhados de igrejas da Rússia, da Polónia e da Roménia), bem como oito toneladas de pregos e mais de sete mil litros de tinta. Ao mesmo tempo, foi construído um quebra-mar (actualmente a necessitar de obras) para proteger o cenário da fúria das ondas pelas quais ondulou Popeye antes de chegar à pensão onde viviam os pais de Olívia Palito (por quem se havia de apaixonar), em busca do pai que não via há 30 anos, desaparecido quando o marinheiro rezingão mas de bom coração não tinha mais de dois.

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