Fugas - Viagens

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Malta: Olívia diz que é uma ternura a pequena aldeia do Popeye

- Como deve saber, Malta é escolhido para cenário de muitos filmes.

Antoine Cauchi sabe do que fala: 007 – O Agente Irresistível, O Resgate do Titanic, Escola de Homens, O Expresso da Meia-Noite, Troia, Gladiador, Agora, O Conde de Monte Cristo ou Ao Sabor das Ondas, com Madonna, num filme produzido pelo marido na altura, Guy Ritchie, são alguns dos exemplos, aos quais se poderá acrescentar, correndo o risco de ignorar outros, cenas de Munique, de Steven Spielberg, ou O Código Da Vinci, de 2006.

Em Malta, os vestígios da história perduram ao longo dos tempos, difícil mesmo é encontrar tanta riqueza num espaço tão minúsculo, fruto de um cruzamento de civilizações e de culturas que poucos territórios conheceram nos séculos que se perdem na memória. O mesmo não acontece com os cenários de filmes que ainda se pintam na nossa imaginação.

- Tudo o que foi construído para algumas destas produções, desde a década de 1970 até aos dias de hoje, acabou por ser destruído, como sucede com a generalidade dos cenários. Mas, no caso de Popeye, nos cinemas em 1980, o governo maltês adoptou outra medida, aceitando de bom grado que as casas de madeira, ancoradas na baía, não ofendiam a paisagem, podendo mesmo funcionar como atracção turística desde que o negócio fosse devidamente explorado, sem desvirtuar a sua verdadeira existência que, como todos sabemos, pelo menos os mais velhos, assenta na pobreza das suas gentes, dos personagens que tornaram famosos os desenhos de Popeye, em livro ou nos ecrãs de televisão.

Os primeiros anos, logo após a exibição do musical, não se afiguraram fáceis e quem olhava a pequena aldeia, do cimo do penhasco, não lhe adivinhava outro futuro: ruína. Durante vinte anos, a despeito da boa vontade dos políticos, a Popeye Village esteve votada ao abandono.

- Foram tempos horríveis; alguns vândalos, sem motivo aparente, pegaram fogo a duas ou três casas. Não havia acesso para deficientes, apenas umas escadas rudimentares, e são poucos aqueles que reflectem sobre os custos da manutenção deste espaço que, pelo menos no meu ponto de vista, está perfeitamente enquadrado na paisagem. Devia ver, com os seus próprios olhos, como turistas dos mais diversos quadrantes, da Europa à Ásia, da América à Austrália, sem esquecer África (são menos, sem dúvida) abrem a boca de espanto e exprimem felicidade quando percorrem estas ruelas serenas, de encontro ao mundo do Popeye, da Olívia Palito e do Brutus.

Sandy continua a vaguear por ali, escutando, com alguma indiferença e na companhia dos pais, David e Doreen Mundy, as histórias que Popeye vai contando sobre os locais que inspiraram Robert Altman. O café, à minha frente, vai arrefecendo; o dia, com um sol radioso, aquece. Antoine Cauchi imprime ao diálogo a mesma dinâmica que empresta à aldeia do Popeye e a música chega aos nossos ouvidos, remetendo-nos para um passado que parece cada vez mais distante.

- I am Popeye, the sailor man.

As águas perdem a sua força no quebra-mar, beijam a Anchor Bay de forma dócil, como quem paga os seus respeitos ao marinheiro que teima em afastar Olívia Palito da promessa de casamento com aquele corvo a quem o nome calha na perfeição. Brutus está, por agora, longe dos olhares da sensível Sandy, exibindo, também ele, uma sensibilidade que não lhe conhecíamos das produções que marcaram a nossa meninice. O azul da fachada dos correios combina perfeitamente com outras tonalidades, do bar ou do hotel; ao fundo, outro azul, do mar, transforma este palco para crianças e adultos num cenário magnificente, como se fosse desenhado propositadamente; mas ninguém é capaz, entre os turistas, de imaginar o trabalho que espreita diariamente para manter o lugar apetecível aos olhos de todos.

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