Fugas - Viagens

  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta

Cuba: Jogo de sombras (mais o sol das Caraíbas)

Por Andreia Marques Pereira e Sandra Silva Costa

O puzzle de Havana numa cidade onde nada se perde, tudo se transforma. O idílio de Cayo Coco e Cayo Guillermo, uma praia de 13 quilómetros perfeitos... E mais Cuba para descobrir.

Foi um daqueles felizes acasos. Passámos por lá na noite anterior e a indiscrição aproximou-nos de uma janela escancarada. O relógio apontava para as 22h15, mais coisa menos coisa, e o termómetro andaria pelos 22ºC — ameno, portanto, mas não para eles, que optaram pelo (bom) costume cubano de abrir tudo para combater o calor omnipresente, às vezes impiedoso. Era um casal septuagenário, ele de camisola de alças branca, ela de costas, cabelo cor de prata, não chegámos a ver-lhe o rosto. Perdemos a vergonha e espreitámos despudoradamente para dentro daquela casa de Havana e ele riu-se, divertido. “Estamos a ver una película, quieren ustedes entrar?” Adoraríamos sentar-nos com eles naqueles sofás cobertos de napperons, a olhar para a TV de ecrã plano que vai passando, a preto e branco, Un Sorbo de Miel (1963), mas para já temos outras vidas para tratar — espera-nos a música do Café Paris, ali na esquina da San Ignacio com a Obispo, e uns quantos mojitos que, jura o empregado, “são os melhores da cidade”. Antes de avançarmos, porém, há um letreiro que nos chama a atenção: Casa Museo de la Barbería.

Ficamos com isto debaixo de olho e continuamos viagem. Na manhã seguinte, calor do bom em Havana, pomos à prova o nosso sentido de orientação e voltamos ao lugar do crime. Só agora atentamos na toponímia: Calle Aguiar, número 10. As janelas do casal septuagenário mantêm-se abertas, mas deles nem sombras. Olhamos de novo a placa e denunciamo-nos. “Procuram o Museu da Barbearia? É no segundo andar”, interpela-nos um rapaz crioulo, crista pronunciada, espojado à entrada do prédio. Subimos, a algum custo, as escadas apertadas — nas paredes que as envolvem, pintadas de cor-de-laranja, há desenhos estilizados de penteados diversos. À primeira vista, quer-nos parecer que demos com o nariz na porta mas premimos a campainha e bastam uns segundos para que uma mulher jovem, morena e de cabelos compridos, nos convide a entrar.

Por mais expectativas que aquele letreiro nos tenha criado, não estávamos à espera disto. Eis-nos, então, num admirável mundo de glamour retro — isto é Havana mas cá dentro só nos imaginamos em Paris, com a cabeça às voltas numa qualquer cena de O Fabuloso Destino de Amélie. Também podíamos estar dentro de uma loja de antiguidades, tal a parafernália que aqui se alinha para contar a história não cronológica da arte da peluquería: tesouras e lâminas de todos os tamanhos, tempos e feitios; secadores de pé da idade da pedra; pentes e escovas para cada tipo de cabelo; máquinas registadoras que já nem nos lembrávamos que existiam; quadros de cores garridas alusivos ao ofício. Nas cadeiras vintage que se espalham por três diferentes salas há clientes reais, do nosso tempo, a fazer madeixas ou simplesmente a cortar o cabelo.

Chegamos sem avisar, seguimos apenas o instinto, mas tivemos sorte. Gilberto Valladares Reina, aka Papito, o homem de quem se fala neste Bairro de Santo Ángel — até há uns anos zona pobre, incaracterística, arruinada e completamente alheada do circuito turístico de Havana Velha —, recebe-nos em poucos minutos. É ele o responsável pelo Projecto Arte Corte, que vai muito além do que temos à frente dos olhos. Foi em 1999 que Papito, 44 anos, abriu o seu salão de beleza — que na verdade nunca foi apenas um salão de beleza. “O Projecto Arte Corte desenvolve-se em torno de três eixos: a arte, a história e o ofício de cabeleireiro”, conta-nos Papito. Essencialmente, o que Gilberto Reina quis fazer quando deixou de trabalhar para “o sector estatal” foi “manter o património ligado à profissão” e criar “um conceito de museu do século XXI”.

O caso de Papito é paradigmático num país como Cuba, onde a iniciativa privada é ainda bem limitada. Num artigo publicado em Abril de 2012 na revista online OnCuba, que encontramos já depois da nossa visita a Havana, Darío Leyva escrevia que Gilberto tinha sido “um pioneiro” na forma como se integrara na “economia do país” e dava nota que os cuentapropistas, ou seja, trabalhadores não estatais, seriam, no final desse ano, ao redor dos 600 mil — isto num país com 11 milhões de habitantes.

Não sabemos se foi pioneiro ou não, mas sabemos que Papito se tornou um exemplo para muitos. Em pouco tempo, outros cabeleireiros quiseram fazer parte do projecto, que rapidamente deixou de se confinar às paredes daquele segundo andar. Papito desceu à rua, que à época era “uma das mais feias de Havana”, como o próprio diz, e iniciou um processo de contágio. “Depois de eu ter aberto o Arte Corte, outros cabeleireiros vieram instalar-se aqui. Devem ter reparado quantos salões há nesta rua.” E o que começou como um salão de cabeleireiro com vertente museológica transformou-se num projecto comunitário que foi crescendo mais e mais. Tanto que hoje incorpora uma escola — de cabeleireiros, claro —, uma galeria de arte e até o Barbe Parque, um parque de diversões mais vocacionado para os miúdos mas onde a população mais carenciada do bairro pode cortar o cabelo a preços em conta. A inauguração do Barbe Parque aconteceu em 2013, a 27 de Dezembro, dia que em Cuba está dedicado aos cabeleireiros. 

Papito tem noção do que o seu projecto, que recebeu entretanto o apoio do Gabinete do Historiador de Havana, organismo responsável pela restauração do centro histórico da cidade, significou para o Bairro de Santo Ángel — “Tirei alguns miúdos da rua, dando-lhes a oportunidade de aprenderem um ofício” — e também tem uma imaginação sem limites. Depois do Barbe Parque, está já a fazer contactos com cabeleireiros de todo o mundo para que o ajudem a criar uma estátua gigante para a Calle Aguiar. “Estou a pedir para que me doem uma tesoura que já não usem. A ideia é construir uma tesoura gigante a partir das tesouras usadas. Quem doar uma, receberá em casa um número que lhe permitirá, depois, identificar onde está a sua tesoura na obra final”, revela.

Por influência de Gilberto Reina, a Calle Aguiar já é conhecida por muitos como Callejón de los Peluqueros. Quem se aventurar para lá do eixo confortável Plaza Vieja-Plaza San Francisco-Plaza de la Catedral e quiser aqui chegar basta atirar isso mesmo, peluqueros, a quem passa. Entretanto, já terá percorrido um par de ruas esconsas e menos amistosas, já terá perdido o rasto às hordas de turistas e até já terá pensado que o melhor será voltar para spots mais concorridos. Siga à confiança. Quando por fim chegar à Aguiar, perceberá de imediato: os edifícios foram recuperados, as fachadas pintadas de cores vistosas, respira-se uma atmosfera cool — veja-se o slogan do restaurante El Figaro (assim baptizado em homenagem à ópera de Rossini O barbeiro de Sevilha), explorado por um primo de Papito: Comida sin pelos.

Cubana atrevida

Havana, e Cuba, estão a mudar — talvez não tanto como os cubanos gostariam, mas o país está realmente a mudar. E os turistas também chegam em busca dessa mudança. Já nem todos se contentam com o casco histórico da capital, repleto de belos edifícios coloniais; com a comida dos paladares; com a salsa e a rumba dos clubes onde os mojitos são quem mais ordena; com as fotografias ao lado de habaneras com charutos na boca e vestes tropicais coloridas; com os Cadillac e Chevrolet fumarentos que fazem uma das imagens de marca de Havana. Muitos, cada vez mais, procuram novas janelas, indiscretas ou não, para ler a cidade.

É que fazemos também, quando passamos por casa de Alberto e o vemos a fumar um cigarro à porta. “Porque é que os cubanos têm as portas sempre abertas?”, perguntamos. “Porque está calor.” Ri-se primeiro e depois acrescenta, sem reservas: “Porque os cubanos não têm nada a esconder.” Então podemos entrar? “Claro.”

A casa de Alberto, 60 anos e uns olhos azuis que enfeitiçam, abre-se imediatamente para a sala, onde há uma enorme TV, uma ventoinha, várias fotografias na parede e espalhadas pelos móveis. Cheira bem, a comida que se apura no fogão que também vemos daqui, na minicozinha colada à sala. “Uma vizinha veio cá cozinhar-me, estou mal do fígado”, explica Alberto. Foi pelo fígado que hoje não foi trabalhar — é motorista numa companhia grega de barcos. “O cubano, se trabalha come. A vida não é assim tão difícil em Cuba. A educação, a saúde, são grátis. Sabe qual é um dos principais problemas? É que há muita gente que quer viver num mundo de fantasia, sem trabalhar, e assim não é possível.”

Apesar dos ventos de mudança que vão soprando, Alberto tem os pés assentes na terra e sabe as regras do jogo. Deixa-nos entrar, mas fala pouco sobre a sua vida; deixa-nos fotografar a casa, mas não se deixa fotografar.

Com Alex e Dayana essa questão nem se coloca — até os nomes aqui são falsos. A abordagem não é a mais habitual, mas ninguém melhor do que um cubano para aproveitar o momento. Quanto mais dois cubanos. Depois de nos “salvarem” de um possível atropelamento, a conversa. “Não querem saber como funciona tudo aqui?”. Queremos, pois, e afinal a tarde ainda vai a meio quando chegamos aqui à vista do Capitólio, em obras (“Estão a arranjar o Capitólio, porque não arranjam a minha casa?”, lamenta-se Dayana).

É num café “para cubanos” (porque se paga em pesos cubanos) que nos sentamos, mobiliário espartano, paredes de cor suja. Somos cobrados em CUC (pesos convertíveis) como se estivéssemos num hotel de várias estrelas; não regateamos porque já esperávamos — e até recebemos um CD de música cubana (pirateado, bem entendido) que a dupla nos queria vender na primeira abordagem. Da primeira abordagem à abordagem possível: não levam o dinheiro do CD, levam, imaginamos, uma boa percentagem do preço da rodada de mojitos. Se quiséssemos puros, levar-nos-iam a uma loja onde se podem comprar ao preço real (não fomos abordados na rua por vendedores de charutos e as lojas onde entramos tinham preços iguais) e a comer ao “melhor paladar” (aqui, seriam pagos em géneros: “se comes frango, dão-nos frango”).

Acabam por dizê-lo com a naturalidade de quem precisa de dinheiro. Alex ganha 250 pesos cubanos (cerca de 10 CUC, um pouco menos em euros) a trabalhar num hospital como electricista; Dayana voltou a trabalhar, agora numa imobiliária, e tem “o sueldo básico”, 225 pesos cubanos — esteve um ano sem trabalho e sem subsídio de desemprego: “Não me pagavam horas extras. Há trabalho, mas a mim davam pouco salário”. Têm, como todos os cubanos, direito a uma caderneta de racionamento com a qual podem comprar alimentos a preços controlados, uma quantidade determinada por mês: frango, ovos, arroz, frijoles (feijão), bolsa de leite para crianças até seis anos (depois iogurte). Sem preços controlados, vemos num supermercado de prateleiras quase vazias: um quilo de leite em pó 6,60 CUC, um pacote de bolachas 2,40 CUC, por exemplo.

Dayana tem dois filhos, uma rapariga de 19 anos e um rapaz de sete, e um marido na prisão. Ela diz que ele é opositor ao regime, o regime diz que ele roubou turistas. Ela indigna-se: “Os cubanos, vivemos de inventar, não de burlar turistas. Só por falarmos com turistas temos uma advertência e uma multa. À terceira vamos presos, é a lei do assédio ao turismo.” Porque se arrisca, então, arriscamos nós? “Sou cubana atrevida. Tenho tanto sofrimento no coração que quero falar.”

Cabaret cubano

Daniel Aties também gosta de falar. Encontramo-lo por acaso na galeria de arte Diago, na Plaza Vieja, uma das mais antigas da cidade e das primeiras a ser restaurada, que expõe os seus trabalhos — e os de muitos outros artistas cubanos. O colorido do exterior, casas azuis, amarelas, rosas, multiplica-se no interior do edifício de pedra que foi palácio e fábrica têxtil até a revolução de 1959 o transformar em escola de arte. A escola mudou-se, mas a arte ficou — ponto em comum: uma certa expressão naïf em telas que são explosões de cor.

Daniel é todo calma e uma aparente ingenuidade que confunde. Sentamo-nos numa das muitas esplanadas da praça, de onde se avista a cúpula do Capitólio (“Sabem que é uma cópia do de Washington?”), e desenha-nos um pequeno recuerdo que condensa todo o seu espírito programático enquanto artista. Faltam “as cores das Caraíbas”, azul, verde, amarelo, mas de resto estão lá o galo, símbolo da força cubana, a palmeira real, árvore nacional, os rios, o mar, a natureza, a sensualidade, descreve. Estudou engenharia mecânica mas também pintura, escultura, desenho e história da arte e fala com o mesmo entusiasmo tranquilo do PIB do país, da produção de rum, do teatro callejero que está por todos os lados — não estamos longe da sede, aponta, e uma das suas funções é animar a zona histórica da cidade, onde os dandy de outros tempos se passeiam —, de literatura (Carpentier, Nicolás Guillén, Miguel Barnet), de música (“Temos mais de 35 estilos musicais”), e da sua obra, que já foi exposta em vários países e na sua vertente escultórica até está no mítico Tropicana.

Havemos de ir ao Tropicana, “o paraíso debaixo das estrelas”, como se anuncia, com direito a jantar. A maioria das mesas, porém, enche-se para o espectáculo, com direito a rum, Coca-Cola (e não a “Tu Kola” nacional) e empregados atentos, a desdobrarem-se para responder a todos. É o reino da fantasia kitsch num entorno de sonho tropical, a história e culturas cubanas servidas ao ritmo dos vários géneros musicais e danças do país. Um cabaret cubano para consumo global.

Contudo, para cabaret cubano não há melhor do que as ruas. Elas são a amálgama da cultura cubana, da actual, da que foi, da que é para dentro, da que é para o mundo. “Quantas “Guantanameras” já ouviram? E quantos mojitos já beberam?”, há-de perguntar-nos uma jornalista cubana. Nós, confessamos, não chegámos a fazer a conta. Mas não nos esquecemos do rapazinho, olhos brilhantes, que nos surge enquanto esperamos um táxi. “En Cuba se va así”: meneia as ancas e remata com um chachachá, antes de pedir caramelos e t-shirts. Ou de Lisete: “Maní, manisero, maní, maní.” É uma voz tão potente, de cantora lírica em sala a condizer, que nos custa a crer que vem dela. É (mais uma) vendedora de cartuchos de amendoins (cinco pesos) — estão por todo o lado, até no trânsito. Elogiamos-lhe a voz e Lisete agradece com um “Suerte, mi amor”.

Há musicalidade nos cubanos, há música na rua — tanta que chega a uma altura em que já a tomamos por certa. Às vezes, até surpreende turistas menos entendidos, como o casal inglês que se encanta, já noite instalada, com o Hasta siempre, comandante, cantado por um músico na rua (e é a única vez que ouvimos a famosa canção de Carlos Puebla). Indiferentes aos turistas são os que, com o rádio ou leitor de CD, portas e janelas escancaradas, dão música a quem quer e não quer ouvir, como DJ omnipresentes de salsa, rumba, bolero; mais indiferentes (ou talvez não) os que acompanham com passos de dança (que não são passos, é movimento puro) nas pedras das calçadas. Afinal, la cubana es bonita y baila bien escutamos numa das noites.

Não nesta noite, em que acabamos no Hotel Sevilla, atraídos pela fachada neo-mudéjar numa das ruas perpendiculares do Prado. Por esta porta passaram artistas, gangsters — todos presentes em fotos a preto e branco que estarão nas fotos dos turistas. Hoje — e todos os domingos — é o grupo Gala Mayor, liderado pelo percussionista Alejandro Mayor, que dá jazz com sabor latino a uma plateia informal onde cubanos e turistas se contam quase por igual. Noite de convidados, entre saxofone-tenor, cantoras e até um velho casal de dançarinos, a filha de Chucho Valdés (neta de Bebo Valdés), Leyanis Valdés, também pianista.

A revolução nas ruas

A música está na rua, os livros estão na Plaza de Armas, onde o antigo palácio dos capitães gerais, típico barroco cubano, domina um topo enquanto no outro o templete, pequeno monumento ao estilo greco-romano, marca o local da fundação da cidade (mais exactamente, da primeira missa). Os vendedores dispõem os escaparates em torno dos muros e muretes do jardim central (povoado de árvores imensas) e oferecem desde a primeira obra editada pós-revolução, D. Quixote, a William Faulkner, sem esquecer toda a literatura revolucionária com Fidel Castro e Che Guevara em destaque.

Certo é que os preços aqui não são baixos, sobretudo quando comparados com as livrarias onde se paga em pesos cubanos. Na Fayad Jamis, livraria que toma o nome de um poeta cubano de origem mexicana, há livros desde dois pesos cubanos (1 CUC=25 pesos), numa oferta que vai das habituais obras revolucionárias e doutrinárias a livros para jovens mães, passando pela poesia do norte-americano Langston Hughes e ao “método” do actor e encenador russo Stanislavski. Numa segunda-feira de manhã o espaço está muito composto. “Os cubanos têm muito interesse pela cultura, creio que pelos estudos obrigatórios. Claro que há sempre 1% que não quer estudar…”, reflecte Carlos, o livreiro de serviço.

É esse interesse pela cultura que leva a filas intermináveis nos cinemas (por estes dias há Festival de Cinema Francês) e ao afã em recuperar teatros. O Gran Teatro de Havana, casa do ballet nacional, apresenta-se com andaimes, o Teatro Martí, edifício neo-clássico e interior de mármores, ferro forjado e frescos, também conhecido por “teatro das cem portas”, acaba de reabrir. Os museus são inúmeros, quase todos gratuitos, e com as mais variadas temáticas: do Museu Nacional de Belas Artes ao Museu da Revolução, cabem museus dedicados ao chocolate, ao tabaco, à pintura mural, à numismática e até aos naipes.

Na Calle Mercaderes, bem no centro da cidade, concentram-se uma série deles (de armaria, dos bombeiros, asiático, mexicano, africano…). Se tivéssemos que isolar uma rua que representasse essa tal mudança que se vive em Cuba e em Havana seria esta. O restauro dos edifícios é ostensivo e as cores brilham, há restaurantes e cafés de design vintage e moderno; há paladares e há lojas de cuentapropistas, sobretudo de artesanato e de recuerdos, o que significa muitas t-shirts e boinas com a efígie de Che, bonés “à Fidel” (e Raul), ímanes para todos os gostos (incluindo, por supuesto, revolucionários — porque a revolução é o melhor merchandising de Cuba). Entre o comércio, descobrem-se um centro geriátrico, uma maternidade, uma cooperativa de costura e até um inesperado jardim que é também uma marca da reabilitação da zona histórica — e Património da UNESCO — onde há centenas de edifícios coloniais e republicanos a segurarem-se à vida apenas por um fio. No caso deste jardim, a reabilitação não foi reconstrução. Os edifícios contíguos exibem as marcas da separação forçada. A guia explica-nos: neste caso preferiu abdicar-se da recuperação do edifício e criar um pequeno parque numa zona densamente edificada e povoada e sem muitos espaços verdes.

Esta é a rua ideal, mas ter todo o centro histórico habanero assim recuperado é quase uma utopia. O plano de reabilitação até acelerou nos últimos 20 anos, mas ainda é demasiado lento (o objectivo é ter 5% da área reconstruída em 2019, para as comemorações dos 500 anos da cidade). Em várias ruas deparamo-nos com andaimes (quase todos a preparar a abertura de hotéis), contudo em mais do que uma vez nos confrontamos com uma cidade que parece saída de um longo bombardeamento. Esburacadas, ladeadas de escombros, estas ruas estão ao virar de cada esquina, com um grupo de rapazes atrás de uma bola, com raparigas em uniforme escolar a regressar a casa, com alguém à porta das ruínas.

Triângulo literário

Não é assim a Calle Obispo, a mais comercial (e mais antiga, do século XVI) de Havana Velha. Como é pedonal, é fácil irmos com a multidão, entre lojas, cafés, gelatarias e até um “pátio dos artesãos”, incluindo alguns estabelecimentos onde se paga em moeda local. Se espreitamos a farmácia Taquechel é porque lhe vislumbramos desde a rua a dignidade antiga conferida por armários de madeira maciça onde se alinham, como num museu, potes de porcelana (confirma-se: é museu embora continue a funcionar como farmácia, herdeira directa da original, do século XIX).

No cruzamento da Calle Obispo com a Mercaderes, um rapaz encosta-se a uma parede com uma serpente à laia de boa e outra a rodear-lhe um braço; mais à frente, uma velha cubana com um puro na boca — esperam fotos e a devida recompensa. Estamos na órbita do Hotel Ambos Mundos, fama eterna garantida ou não tivesse sido casa de Hemingway. Junto à porta, mãos que se estendem, “Dame algo, mi vida, dame algo”; na praceta em frente (Plazuela de Santo Domingo), uma exposição de peixes metálicos quase ofusca a estátua ali plantada a 24 de Abril. Um grupo de turistas brasileiros, acompanhados de um guia, passa sem parar. Um homem ainda lê a inscrição — Luís Vaz de Camões, poeta português — e vira costas.

Velha presença em Havana é outro português, que compõe o que agora é um triângulo literário em escassos metros. A Columnata Egipciana, aqui ao lado, foi o café habitual de Eça de Queirós enquanto cônsul em Havana. Ele, em reprodução de desenho de Almada Negreiros, está num painel de azulejos com a assinatura Viúva Lamego (não são os únicos exemplares: as placas de algumas praças — fixamos a Plaza da Catedral e a Plaza de Armas — têm a mesma proveniência lusa) e o pianista sabe a sua lição: descoberta a nossa nacionalidade, toca Coimbra e há-de passar por Uma casa portuguesa, entre Frank Sinatra, The Eagles, Jacques Brel e outros. Entretanto, um barulho atrai-nos para a rua. Será uma centena de jovens, venezuelanos, sobretudo mulheres. “Alerta, alerta que camina el corazón de Chávez por América Latina.”

Lennon e os heróis

Chávez, el mejor amigo de Cuba.” Vamos lê-lo em cartazes gigantescos fora de Havana, onde a iconografia revolucionária continua pujante. Também na capital há murais com slogans, há murais com rostos — Che, Fidel, sobretudo, povo anónimo na construção do socialismo. “Cuba trata bem os seus heróis”, diz-nos o “comodoro” da Marina Hemingway, José Díaz. Sim, trata, pelo que se vê em Havana. Há muitas estátuas espalhadas pela cidade, desde um Miranda navegador a Antonio Maceo e Céspedes (heróis também universais: vemos um busto de Arafat em Miramar e John Lennon está sentado num banco no parque que tem o seu nome no Vedado). A José Martí é dedicado o maior monumento de Havana (e algumas outras estátuas), mas não será o mais fotografado: na mesma Praça da Revolução, enorme ágora de cimento, o edifício do Ministério do Interior é o que atrai mais — a imagem de Che Guevara de Korda, hasta la victoria siempre, desenha-se na fachada; Camilo Cienfuegos, vas bien Fidel, está no Ministério da Informática e Telecomunicações. É um local de carga política evidente, mas, faz questão de sublinhar a guia, também foi aqui que o Papa João Paulo II rezou uma missa.

Avante!, que Cuba vive um PREC que já é história — o Museu da Revolução, instalado apropriadamente no antigo palácio presidencial, mostra os artefactos das revoluções nacionais (a de 1959, sobretudo), e o Museu Nacional dos Comités de Defesa da Revolução, entre as lojas da Calle Obispo, faz a revisão da matéria dada. Há algo de irreal enquanto caminhamos na rua ao lado do Museu da Revolução com o seu tanque à porta e seguimos, entre um silêncio invulgar de fim de dia, pelo Memorial Granma, visto ao lusco-fusco, mais vivo junto da chama perene do monumento aos Héroes Eternos de La Patria Nueva.

Em technicolor surge-nos a Tribuna Anti-Imperialista José Marti: ao domingo, são 138 as bandeiras cubanas ondeando no topo de postes (que noutros dias parecerão um cemitério de mastros) mirando (e tapando) o edifício Secção de Interesses dos Estados Unidos. É mais uma curiosidade desse grande anfiteatro que é um dos símbolos de Havana. Falamos, claro, do Malecón, a avenida de oito quilómetros a mirar o Atlântico, onde os habaneros desaguam, sobretudo quando o sol começa a baixar no horizonte. É sala de estar e salão de baile da cidade e, à noite, a polícia é presença assídua entre a multidão que se concentra sobretudo no troço entre o Hotel Nacional e o castelo de San Salvador de la Punta.

Quando o nosso olhar se desvia do lado do mar, descobrimos o cenário do desenvolvimento urbanístico e arquitectónico da Havana moderna, um processo de adição, não de demolição. De Havana Velha ao Centro Havana e depois até ao Vedado: o Malecón como o vemos hoje começou numa esquina do Prado, com o Hotel Miramar (1903), seguiu com casario baixo num estilo ecléctico que mistura neoclássico com devaneios Art Nouveau no tramo mais antigo e terminou com prédios de traça modernista (alguns inesperadamente arrojados, como um que lembra um “formigueiro” em betão) e utilitarista (torres anódinas). Continua a destacar-se o Hotel Nacional, imaculadamente conservado entre tantas ruínas (mesmo quando não o são).

Claro que não há melhor miradouro para o Malecón do que o mar, esse mar omnipresente em Havana, ponto de fuga de todas as insularidades. Nós embarcamos no terminal Sierra Maestra para navegar em catamarã até à Marina Hemingway, onde chegamos depois de percorrer um canal estreito quase cinematográfico — e de repente quase poderíamos estar do outro lado, em Miami, que se adivinha no horizonte. Outra vista inesquecível é a que temos do outro lado da baía desde o Morro Cabaña, onde se situam duas fortalezas que protegiam a cidade dos ataques de corsários.

Câmara escura

Porque a história tem destes caprichos, a verdade é que o Malecón, que parece fazer parte de Havana desde sempre, só existe desde o início do século XX e foi invenção norte-americana durante a ocupação da ilha — décadas mais tarde, chegou a pensar-se em criar uma ilha artificial defronte do Malecón, como parte do plano de transformar Havana numa capital do jogo na altura em que a Lei Seca imperava nos EUA. Não houve ilha, mas houve, por exemplo, uma sede de uma companhia construída em estilo moderno entre os casarões da Calle Obispo, que a intervenção do Gabinete do Historiador cobriu de espelhos para que reflectisse as fachadas dos edifícios coloniais em redor.

Uma ilusão distinta da criada na praça de São Francisco, em frente ao porto de Havana. Aparentemente, edifícios coloniais e republicanos compõem o cenário tutelado pela igreja e convento que lhe dão nome (hoje museu de arte religiosa), calcário com aquele aspecto que se repete nesta zona histórica — pedras como se estivessem corroídas, picadas, a desfazerem-se. Porém, um olhar mais atento permite-nos descobrir os pontos em que vemos que algumas fachadas são “postiças” e edifícios que juraríamos ser coloniais são apenas adaptações barrocas.

Um jogo de sombras, portanto, Havana, tantas vezes elogiada pela sua luz. É uma luz que é bênção mas também maldição; é excessiva e é escassa. Durante o dia buscamos as sombras das arcadas (Carpentier chamou-lhe a cidade das colunas) nos edifícios coloniais, durante a noite somos atraídos pelos pontos de luz; durante o dia a luz é quase transparente de tão intensa; durante a noite são clarões mortiços e amarelos numa cidade onde os apagões são frequentes. Há, portanto, sempre uma aura irreal (às vezes, surreal) a cobrir a cidade.

Tão surreal como alguém chamar-se San Valentín e até parecer músico. Camisola da selecção mexicana, calças sem cor, guitarra ao peito e canções que começam e não acabam. “No soy musico, soy luchador de la vida”. Tem 62 anos e o governo não o deixa trabalhar. “Estive em Angola a lutar, agora dizem que tenho trauma de guerra.” Ele tenta fazer outras coisas. “Posso trabalhar um dia inteiro na construção civil e recebo um CUC. Isso não é exploração do homem pelo homem?”.

É Alberto, um velho amigo que se cruza aqui na esquina em frente ao Capitólio nacional, quem lhe responde. “Vivem mal? Antes da revolução também. Só tive sapatos com 14 anos. E havia muitos mendigos, agora todos estudam, temos médicos, habitação.” “Deram-nos estudos mas matam-nos à fome...”, contrapõe San Valentín. Com 71 anos bem conservados (ao contrário do amigo), calças verde alface, camisola Adidas, chapéu, Alberto acabou de estacionar o seu VW carocha (modelo antigo e cor quase fluorescente), de onde saiu com um jovem. San Valentín inveja-lhe a vida: tem uma casa para alugar. “Fiz de tudo”, contrapõe Alberto, “limpei sapatos, fui criado numa casa…”. Também esteve em Angola e teve um amigo de Granada — com quem troca emails, que nos mostra no seu Blackberry — que “ajudou muito”. “Nem todos têm sorte”, repete San Valentín, mais para si do que para nós. “Eu batalhei, deixei de beber, de fumar, tudo”, insiste Alberto. O amigo confessa: “Com dez dólares por dia eu era feliz, podia manter a minha família. Assim, nem um [dólar] consigo.” À nossa frente consegue um euro — despedimo-nos e dirige-se a uma gelataria ao lado do clube de boxe Kid Chocolate, de onde sai com um sorvete e um sorriso largo.

Estamos no Prado, que em Madrid é um museu e em Havana uma avenida cujo nome oficial é Jose Martí. Porém, ninguém conhece assim esta passarela que é paradigmática da arquitectura de Havana — monumental e decadente. Há, claro, edifícios mais bem conservados, mas muitos apresentam-se deslavados e deformados, mais não seja porque o que anteriormente era casa de uma família agora é dividida por muitas, demasiadas. Tal é mais notório quando o Prado se torna uma rambla: microcosmos habanero que são quase colmeias, com pessoas às janelas, conversando para cima, para baixo, para os lados. No passeio, vemos famílias a caminhar, casais a namorar, crianças a brincar, mulheres e homens a insinuar-se a quem passa.

Pode dizer-se que o Prado é uma fronteira em Havana. Construiu-se no que antes era a muralha e esta é a artéria que separa a cidade velha da cidade “moderna”, a que fugiu para Centro Havana e depois para o Vedado e Miramar. Estes dois municípios são o contraponto norte-americano à cidade “espanhola”: os quarteirões estão perfeitamente demarcados, as ruas têm números e são muito arborizadas e até há uma 5.ª Avenida em Miramar, que era o bairro mais luxuoso da Havana pré-revolução. O Vedado estava reservado à média burguesia e era muito comercial — ainda hoje a Calle 23 é um eixo referencial, com cafés, restaurantes, teatros, cinemas. Em Miramar, onde se construíram muitos hotéis nas duas últimas décadas, os palacetes da alta burguesia cubana, ostentosos e rebuscados, permanecem mais ou menos intactos — há embaixadas e outras representações diplomáticas, sedes de empresas estrangeiras e muitas reconversões em edifícios residenciais e centros comunitários, que muitas vezes subvertem a integridade arquitectural em função do pragmatismo funcional.

“O futuro é agora”

Voltamos a Havana Velha e Havana Centro, os municípios da cidade onde os turistas mais facilmente “se perdem” e onde andar a pé é um imperativo, não importa os bicitáxis e os coches que apareçam. Porque há uma escala humana nesta Havana que se mostra grandiosa e decadente como uma velha aristocrata arruinada, sem nos dar tempo de respirar. Aproximamo-nos da Praça da Catedral e o casario vai ganhando vida — quando estamos dentro dela, a recuperação é irrepreensível, com a pedra gasta mas as formas conservadas nas fachadas pétreas da sé (onde ao domingo se reza missa) e dos palácios que a rodeiam (de um deles, uma esplanada transborda para o rectângulo); saímos por outro lado e encontramos La Bodeguita del Medio em rua da Havana arruinada, gasta e desgastada. Porém, algo é evidente: vive-se na Havana histórica. 

Se na Plaza Vieja encontramos uma multidão de crianças a correr como se esta fosse um estádio é porque a praça também é uma extensão da escola que ali existe — como o espaço é escasso, a educação física vem para a rua. E se no parque da Plaza de Armas nos deparamos com grupos de crianças debruçadas sobre maquetes, uma mão na terra e outra pintada, é outra escola, desta feita em oficinas de criação.

E enquanto prossegue a vida de sempre, vão proliferando os hostals (hotéis de charme em edifícios históricos), abrindo restaurantes da moda (como a cervejaria que abriu num antigo armazém de tabaco e madeira no porto e que poderia estar em Amesterdão, meca da reinvenção), desenvolvendo-se pequenos negócios onde os empresários já pagam impostos e inventando-se pairings de charutos com comida ou rum, como em La Floridita. Mas haverá quem peça champôs e sabonetes, quem continue a vender o Granma e o Juventud Rebelde pela rua, quem tenha o timbiriche (quiosques ambulantes) numa esquina para vender cocos, gelados, fruta ou o chibirico, um doce à base de milho que é uma instituição — e uma delícia. E haverá quem, como Indira, estude de manhã línguas estrangeiras e à tarde esteja a vender na Feira de Artesanato com um galo de Barcelos no fundo, presente de turistas portugueses. Para todos, “o futuro é agora”, como diz Daniel Aties. E porque quando se fecha uma porta, abre-se uma janela, em Havana parece que abrir janelas é um modo de vida.

Feira de Turismo de Cuba

Decorreu no início de Maio a 24.ª edição da FITCUBA (Feira Internacional do Turismo de Cuba) que este ano foi dedicado a Havana como “destino turístico completo” por excelência e à modalidade de circuitos assumida como a melhor forma de conhecer o país. Reconhecendo a importância do turismo no desenvolvimento do país, o ministro do Turismo cubano, Manuel Marrero, assumiu, na abertura do certame, a vontade do país de continuar a diversificar os mercados, apostando por isso no incentivo do investimento estrangeiro para melhorar a quantidade e qualidade da oferta aos turistas, e no desenvolvimento do turismo não estatal, reflectido sobretudo na abertura de paladares e hostales.  Com a aposta nos circuitos que estão a ser implantados no país, o governo cubano espera criar mais facilidades de movimentos dos visitantes na ilha e permitir-lhes conhecer uma “Cuba mais autêntica” (novo slogan turístico) e mais próxima dos seus interesses: seja a Cuba das praias, a da natureza, a das cidades históricas, a do café. Ao mesmo tempo, sublinhou o ministro, a nova política migratória vai permitir a saída de mais cubanos para férias no estrangeiro, o que poderá ser um estímulo para o aumento de ligações aéreas com o resto do mundo.

Cayo Coco e Cayo Guillermo, o idílio aqui tão perto

Ir a Cuba e não ir às praias será mais ou menos a mesma coisa que ir a Roma e não ver o Papa. Mais ainda agora, que estão prestes a iniciar-se os voos charter de Lisboa para Cayo Coco — a quarta maior ilha de Cuba e o principal destino turístico a seguir a Varadero. No vizinho Cayo Guillermo, a poucos quilómetros e acessível por uma cénica estrada construída sobre a Baía dos Cães, mora uma das praias mais bonitas das Caraíbas. Sandra Silva Costa (texto) e Paulo Pimenta (fotos)

Não é, de todo, a melhor maneira de começar a contar uma história, mas foi exactamente o que aconteceu, tintim por tintim. Chegámos a Cayo Coco com fome de praia de postal ilustrado e saímos de Cayo Coco com fome de praia de postal ilustrado. Bronzeado? — nem vê-lo, trouxemos antes no corpo as marcas de quase 40º de febre e de uma gastroenterite arrasadora. A narrativa seria outra se não tivéssemos apanhado aquela chuvada monumental que, soubemos depois, nos atirou para a cama, mas a verdade é esta: naquele momento, não a trocávamos por nada deste mundo.

Imaginem lá a cena: praia de areia branca semideserta, mar azul Caraíbas. Alguém consegue resistir, apesar de o céu, de chumbo, não enganar? Entramos na água, estranhamos-lhe a temperatura (baixa), entranhamos-lhe a temperatura — e nisto o céu torna-se mais ameaçador e só passaram cinco minutos. Caem os primeiros pingos e até achamos piada. Engrossam e percebemos que está na hora de procurar refúgio. Enquanto sim e não, já é o dilúvio que se abate sobre a praia Arrecifes — e nós, hipnotizados com a fúria da chuva, a levar com as gotas, grossíssimas, que furam o guarda-sol de colmo onde nos abrigámos.

Dez minutos, 15, vinte — e sempre aquele som ensurdecedor de água a bater na água, na areia, nas espreguiçadeiras que aqui ficaram esquecidas. Gostamos do espectáculo mas o corpo começa a ressentir-se: estamos encharcados até aos ossos, braços e pernas em pele de galinha, e a chuva não dá mostras de tréguas.

Fazemo-nos ao caminho. O Pestana Cayo Coco, onde nos hospedámos nesta odisseia caribeña, fica a uns três minutos através de um corredor verde de plantas endémicas — só que para o nosso quarto são mais uns três. Parece coisa pouca mas quando chegamos já só tiritamos de frio e suspiramos por um banho a ferver.

Meia hora depois, o sol e o calor regressam a Cayo Coco. E duas horas mais tarde, na estrada indizível que liga Cayo Coco a Cayo Guillermo, pensamos no dilúvio como uma memória quase de outra vida: agora parece-nos que os elementos se uniram para pintar o quadro mais belo que vimos desde que pisamos Cuba.

Há muito quem diga que não gosta de destinos de praia: são chatos, ao fim de dois ou três dias já estamos capazes de cortar os pulsos, blá blá blá, mas que atire a primeira pedra quem resistir a isto. Até onde a vista alcança, estamos num sonho azul: mar e céu praticamente se confundem, árvores-ilha cortam a aparente monotonia cromática, o vento, forte mas quente, alivia o peso do sol, ao fundo uma língua de areia branca e a ponte com risca amarela que une os dois cayos e tem Ernest Hemingway, versão três estátuas de bronze, como se fora o portageiro desta auto-estrada que nos leva bem ao centro do idílio. Foi Hemingway, aliás, quem deu o primeiro grande empurrão a Cayo Guillermo, ao descrevê-lo de forma radiosa no seu livro Ilhas na Corrente, publicado postumamente, em 1970.

O escritor norte-americano passou largas temporadas nos cayos do arquipélago de Sabana-Camagüey, ou Jardines del Rey — Cayo Coco, Cayo Guillermo, Cayo Romano… — , e nalguns deles recolheu inspiração para a criação de personagens dos seus romances mais famosos. Diz-se também que foi nestes territórios de águas cálidas e areia branca que terá procurado refúgio para combater a depressão que o consumia.

De várias maneiras soube Cuba retribuir à projecção que Hemingway lhe emprestou. Em Cayo Guillermo, aquela que é por muitos apontada como a praia mais bonita do país e uma das mais bonitas das Caraíbas, como escreve o Lonely Planet, leva o nome do seu barco: Pilar.

Vínhamos com ela debaixo de olho e não ficamos desapontados. É a verdadeira praia de cartão postal. Areia finíssima — tanto que, dizem os locais, se a atirarmos ao ar ela voa, em vez de voltar a cair no chão; mar azulíssimo — e quente, já agora; floresta de mangue lá ao fundo; e dunas que podem, aqui e ali, chegar aos 15 metros de altura. Alugamos espreguiçadeiras, pensamos que vamos ficar muito tempo, mas o sol é literalmente de pouca dura. Um banho de dez minutos, nuvens que se aproximam e volta-nos à cabeça a chuvada da manhã. Pés ao caminho.

Acordamos com tudo às voltas na madrugada seguinte. Procuramos a médica do hotel, que nos aconselha a não participar no passeio de barco agendado para essa manhã e garante que apanhámos um vírus provocado pela chuva da véspera. “É muito normal isso acontecer com os turistas.” A febre há-de chegar em força, já depois de termos desrespeitado a sugestão e de nos termos metido num barco de nome irónico, bem apropriado ao momento: Tornado e eis-nos enfiados no meio de uma tempestade épica.

Dia 3 em Cayo Coco: os medicamentos fizeram o que tinham a fazer, mas acordamos a horas impróprias. Ainda não são 6h30 e já estamos na praia Arrecifes. Céu de chumbo, de novo, mar que mais parece uma piscina. Os empregados do hotel varrem a areia do deck em madeira que leva à praia ou limpam as algas que as ondinhas do mar, plácidas, trouxeram para a margem. Há uma bandeira vermelha espetada num mastro, o que neste caso apenas sinaliza a ausência do salva-vidas. Não há música a sair das colunas de som, ouve-se apenas o suave barulho do mar.

De repente, três cães e um turista em passo de corrida que nos cumprimenta efusivamente. Seguimos-lhe as pisadas, mas a andar por esta praia praticamente deserta. Apanhamos pedras e conchas e ouvimos o canto dos pássaros negros. Algo camuflada no meio do arvoredo, uma família cubana em território all inclusive. Pai, mãe, avó e três filhos, duas meninas e um rapaz. Hoje é sábado e vieram de longe, de Morón — a cidade da ilha de Cuba mais próxima de Cayo Coco, a umas boas duas horas de transportes públicos —, carregados com sacos e marmitas. Entabulamos conversa mas só o homem responde, ainda assim a custo. Afastam-se para lá dos lugares de hotel para não se misturarem com os hóspedes, “não é suposto”.

Tal como não era suposto chover de novo, mas chove. Partimos daqui a duas horas, arriscamos um último mergulho. Deixamos Cayo Coco, paraíso caribeño, com um amargo de boca. Provámos as praias de postal ilustrado, é certo, mas continuamos com fome.

Pestana Cayo Coco: É uma casa portuguesa, com certeza

Foi em Agosto de 2013 que abriu o Pestana Cayo Coco, o primeiro hotel do grupo português em Cuba. Trata-se de um mega-resort — 508 quartos, dos quais 20 são suites, cinco adaptados a portadores de deficiência e 25 comunicantes — implantado sobre a praia Arrecifes e espalhado por 11 edifícios.

Quando o visitámos, em Maio, estava com 20% de ocupação, o que quer dizer que não sentimos na pele o peso de um resort desta dimensão. Nunca encontrámos os restaurantes cheios — são cinco: um cubano, um italiano, um português (a cargo do chef Pedro Relvas), mais o de buffet e há também o snack-bar onde se servem refeições ligeiras 24 horas por dia —, a piscina lotada ou a praia sem espreguiçadeiras. Para nós, ouro sobre azul, mas Luis Alfonso Oñate, o director do hotel, assegura, porém, que já houve meses em que o Pestana Cayo Coco teve ocupação na casa dos 70%.

Os hóspedes canadianos são os que mais têm procurado o hotel, acrescenta Luis Oñate. Mas este cenário pode alterar-se com o início, já no dia 14, da operação charter Lisboa-Cayo Coco (ver caixa). Ainda assim, já em Maio encontrámos no Pestana Cayo Coco duas turistas portuguesas: Mariana Monteiro e a mãe, Maria. Escolheram Cuba como destino de férias por permitir conjugar a praia com a “enorme” vontade que Mariana tinha de explorar Havana. Quando as conhecemos, já tinham vários dias de Pestana Cayo Coco no currículo e definiam os seus serviços como “excelentes”.

O que pode, então, esperar o hóspede que chega a este resort? Antes de mais, uma simpatia sem limites dos funcionários, o que não é coisa de somenos; quartos standard grandes e bem confortáveis, com varanda e alguns com vista de mar (nas suites esta vista é garantida); boa comida — o que interessa ainda mais quando, como é o caso, estamos a falar de um hotel que funciona apenas no regime tudo incluído; praia à distância de uma caminhada de três minutos; ginásio; kids club e baby club; animação diária. Se precisar de mais argumentos, temos um de peso: os serviços médicos, e falamos com conhecimento de causa, são de qualidade.

Pestana Cayo Coco
Os charters para Cayo Coco começam a 14 de Julho e prolongam-se até 15 de Setembro. Os voos realizam-se às segundas, de Lisboa para o aeroporto internacional Jardines del Rey, sendo que para Julho já estão todos esgotados, mantendo-se apenas a disponibilidade para os meses de Agosto e Setembro. Para estadias de sete noites no Pestana, há preços a partir de 1178 euros. Os preços estão organizados em três pacotes distintos, com opção só praia ou com extensões a Havana, Santa Clara e Trinidad. Apresentamos os pacotes e respectivos preços com estadia no Pestana, mas os programas, com voos da EuroAtlantic Airways e a participação dos operadores turísticos Travelplan, Solférias, Sonhando e Abreu, podem incluir hospedagem noutros hotéis.
Informações: Cayo Coco+Santa Clara+Trinidad+Havana: desde 1658€ por pessoa; Cayo Coco+Havana: desde 1657€ por pessoa; Cayo Coco: desde 1178€ por pessoa. www.pestana.com

O que fazer

Nos cayos mandam as praias e as actividades aquáticas em declinações diversificadas. As mais populares são os passeios de barco para fazer mergulho ou snorkeling — a costa norte da ilha abriga notáveis recifes de coral, que atraem mergulhadores de todo o mundo — ou a visita ao delfinário de Cayo Guillermo. A observação de aves também é uma hipótese: Cayo Coco tem uma assinalável colónia de flamingos cor-de-rosa, que, apesar dos receios iniciais, não desapareceu com a construção da estrada que o liga a Cayo Guillermo (27 quilómetros de extensão, roubados à Baía dos Cães e aos pântanos que aqui existiam). Os hotéis têm informação detalhada e podem ajudar na planificação.

Cayo Santa Maria

Foi você que pediu 13 quilómetros de praia?

Quando ouvimos falar do “Carnaval en el pueblo” naquela noite de sábado, não hesitamos. Afinal, tínhamos lido, tinham-nos dito que em Cayo Santa Maria não havia populações locais — se há “festa na aldeia”, pensamos, devemos ter percebido mal. E então lá alinhamos na festa, depois de nos assegurarmos que o transporte nos traz de volta ao hotel quando quisermos; é uma espécie de autocarro hop on, hop off que faz um percurso em que as paragens são os vários resorts do cayo. Mais a aldeia, confiamos nós. Então lá subimos para o andar superior, descoberto, do autocarro, pensando que estamos a ter o melhor momento do dia e isto apenas porque vamos de cabelo ao vento e sem o sol, inclemente, a bater-nos. A escuridão é densa e as estrelas intensas, à nossa volta a natureza são vultos volumosos que sabemos serem árvores baixas e arbustos que fazem as paisagens da pequena ilhota de 16 quilómetros de comprimento e dois de largura.

Quando pensamos que estamos a fazer mais uma paragem num hotel, eis que toda a gente se levanta: o pueblo é mais um produto turístico, uma réplica de uma pequena vila cubana onde a pulseira do hotel confirma o regime “tudo incluído”. Assim, vemo-nos numa praça onde não falta o coreto e vários edifícios em volta e a seguir uma pequena rua que termina na torre da igreja. Um palco com uma banda a debitar salsa garante música e várias bancas asseguram que todos têm um copo na mão — e quase todos são turistas, que nem se importam quando a música deixa os ritmos latinos para se aventurar num techno comercial, sobretudo porque de repente estamos numa festa da espuma, com o coreto como centro.

Foi apenas no final de 2001 que o Cayo de Santa Maria, no arquipélago de Jardines del Rey, a norte da ilha de Cuba, recebeu o seu primeiro hotel em território virgem que até faz parte de uma das seis Reservas da Biosfera da UNESCO, num ecossistema que engloba zonas pantanosas, no sul da ilha, e recifes de coral, a norte. É pelo sul que entramos no cayo, pela longa estrada que rasga o mar, assente em rochas (os cubanos chamam-lhe a pedraplen) — uma espécie de passerela de 48 quilómetros que demorou dez anos a ser construída — e que parte da vila de Caibarien, passa por Cayo Las Brujas, Cayo Ensenachos até, finalmente, chegar a Cayo Santa Maria. São 13 os quilómetros de praias aqui, areia fina e mar que é uma tapeçaria de azuis e que às vezes se ergue em ondas pouco habituais para estas paragens. A maior parte dos hotéis (e são nove, por enquanto — outros quatro em construção) alinham-se na chamada Playa Santa Maria, seis quilómetros de extensão, a bordejar um manto verde com ilhas que são os resorts. É território 100% turístico — não há habitantes permanentes, os funcionários vêm de localidades (mais ou menos) próximas: estamos na província de Villa Clara e eles podem vir da vizinha Caibarien, de Remédios, cidade colonial, ou até da capital Santa Clara, cidade de pergaminhos revolucionários (a Batalha de Santa Clara foi a última da revolução cubana e nela repousa Che Guevara) — onde não faltam actividades que vão desde o mergulho aos passeios a cavalo ou a visita ao inevitável delfinário. Andreia Marques Pereira

Como ir
Santa Clara é servida por um aeroporto internacional. São 90 minutos até Cayo Santa Maria. De Havana, por estrada, são 391 quilómetros, mais ou menos cinco horas.

Onde dormir
Hotel Playa Cayo Santa Maria, Las Dunas 5, Cayo Santa María, Villa Clara – Jardines del Rey, Tel.: (+53) 42 350800

Como ir
A Cubana Aviación voa desde Madrid com preços a rondar os 780€. A Air Europa faz o mesmo percurso com preços a rondar 850€.

Onde dormir

Hotel Occidental Miramar, 5ª Avenida (entre 72 e 76), Miramar, Playa, Havana, www.occidentalhotels.com

Hotel Quinta Avenida, Avenida 5ta A (entre 78 e 80), Miramar, Playa, Havana, www.galahotels.com

Onde comer

El Aljibe, (cozinha cubana), Rua 7ª (entre 24 y 26), Miramar, Tel.: (+53) 7 2041583

La Cova, (cozinha internacional e italiana), Marina Hemingway, 5ª Avenida  - Santa Fé, Tel.: (+53) 7 204 6969

La Cecilia, (cozinha internacional), Ruas 18 y 3, Miramar, Tel.: (+53) 7 204 2998

Nueva Cervecería, (cozinha cubana), Avenida do Porto – Alameda de Paula, Havana Velha

Jardín del Oriente, (cozinha tradicional cubana), Rua Amargura (entre Oficios e Mercaderes), Havana Velha

Onde ir

Museu do Chocolate
Tem raízes portuguesas, este edifício na esquina da Amargura com a  Mercaderes, e elas estão explicadas numa placa afixada no exterior. Para abreviar, diga-se apenas que esta que é conhecida como a Casa da Cruz Verde foi pertença da família Sequeira, oriunda de Portugal mas que se fixou primeiro em Sevilha e depois em Havana. Lá dentro, está hoje instalado o Museu do Chocolate, que é um regalo para os olhos e para o estômago. O Lonely Planet de Cuba vai mais longe e diz que os viciados têm que estar alerta porque aqui se servem “doses letais” de chocolate. É um café mas tem também um pequeno museu ligado à arte da chocolataria. O mestre chocolateiro trabalha à vista de todos, dando forma a patos, ursos, sapos e a todo um doce jardim zoológico.

Museum do Rum Havana Club
Junto ao porto de Havana, conta a história de um dos produtos mais emblemáticos do país. Com provas e loja com os vários segmentos do rum havana Club.

Parque Militar do Morro Cabañas
Do lado oriental da baía de Havana, alberga duas fortalezas incluindo a maior construída pelos espanhóis na América, a San Carlos de la Cabaña.

O que fazer

Rota Hemingway
Ernest Hemingway é praticamente um filho de Cuba. O escritor norte-americano, autor, entre outros, de O velho e o mar e Por quem os sinos dobram, viveu mais de 20 anos na ilha. Daí que seja quase obrigatório cumprir a rota Hemingway, de forma mais ou menos detalhada. Pontos de paragem habituais são os bares Floridita (Calle Obispo) e La Bodeguita del Medio (Empedrado), que mantêm, ambos, a iconografia “hemingwayana”. O escritor era frequentador assíduo dos dois e dizia o seguinte sobre as suas preferências: “Mi mojito en La Bodeguita, mi daiquiri en La Floridita”. A fama tem o seu preço: os daiquiris na Floridita servem-se a 6 CUC (4,40€) e os mojitos a 4 CUC (2,90€) na Bodeguita. Noutros bares serão melhores e mais baratos, garantem-nos. Continuando a saga, procure-se depois o quarto 511 do Hotel Ambos Mundos (Obispo, 153), onde o escritor passou largas temporadas e onde escreveu partes de três romances: As verdes colinas de África, Ter ou não ter e Morte na tarde. De todas as vezes que se hospedou no Ambos Mundos, entre 1928 e 1939, nem sempre ficou neste quarto 511, embora fosse o que preferia. É um quarto simples, despojado, com três janelas, uma virada para a Plaza de Armas, outra para a Plaza de Santo Domingo, outra para a Calle Obispo. Aqui se expõem alguns dos seus objectos, incluindo réplicas do telegrama que lhe deu conta do Prémio Nobel da Literatura, em 1954, e uma das máquinas que usava para escrever, sempre de pé. O seu grande espólio está, porém, na Finca La Vigia, a enorme e charmosa propriedade colonial em Cojímar, 10 quilómetros a este de Havana, para onde  Hemingway se mudou nos anos 1940. Apesar de não se poder entrar em nenhuma das divisões, a visita vale mesmo a pena. As portas e janelas estão sempre abertas, o que nos permite ter uma ideia muito aproximada de como era a vida de Hemingway, e dos muitos amigos que recebia (entre os quais Ingrid Bergman, Gary Cooper, Ava Gardner, que terá nadado nua na piscina, hoje vazia) na propriedade rodeada de árvores de frutos, entre mangueiras, coqueiros, tamarindeiros. As paredes dos vários cómodos da casa estão repletas de troféus de caça que o escritor conquistou em jornadas no Canadá ou em África e, entre livros, jornais e revistas, há por aqui mais de 9000 volumes. É também na Finca Vigia que está agora “ancorado” o barco Pilar. Outro pormenor curioso: pode ainda ver-se o cemitério dos cães que o acompanharam ao longo da vida: Black, Negrita, Linda e Neron. Alerta importante: quando chove, a Finca Vigia não recebe visitantes, pela impossibilidade de se abrirem portas e janelas.

A Fugas viajou a convite do Grupo Pestana, do Grupo Gaviota, do Ministério do Turismo de Cuba e da Travelplan

--%>