Fugas - Viagens

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Cuba: Jogo de sombras (mais o sol das Caraíbas)

Por Andreia Marques Pereira e Sandra Silva Costa

O puzzle de Havana numa cidade onde nada se perde, tudo se transforma. O idílio de Cayo Coco e Cayo Guillermo, uma praia de 13 quilómetros perfeitos... E mais Cuba para descobrir.

Foi um daqueles felizes acasos. Passámos por lá na noite anterior e a indiscrição aproximou-nos de uma janela escancarada. O relógio apontava para as 22h15, mais coisa menos coisa, e o termómetro andaria pelos 22ºC — ameno, portanto, mas não para eles, que optaram pelo (bom) costume cubano de abrir tudo para combater o calor omnipresente, às vezes impiedoso. Era um casal septuagenário, ele de camisola de alças branca, ela de costas, cabelo cor de prata, não chegámos a ver-lhe o rosto. Perdemos a vergonha e espreitámos despudoradamente para dentro daquela casa de Havana e ele riu-se, divertido. “Estamos a ver una película, quieren ustedes entrar?” Adoraríamos sentar-nos com eles naqueles sofás cobertos de napperons, a olhar para a TV de ecrã plano que vai passando, a preto e branco, Un Sorbo de Miel (1963), mas para já temos outras vidas para tratar — espera-nos a música do Café Paris, ali na esquina da San Ignacio com a Obispo, e uns quantos mojitos que, jura o empregado, “são os melhores da cidade”. Antes de avançarmos, porém, há um letreiro que nos chama a atenção: Casa Museo de la Barbería.

Ficamos com isto debaixo de olho e continuamos viagem. Na manhã seguinte, calor do bom em Havana, pomos à prova o nosso sentido de orientação e voltamos ao lugar do crime. Só agora atentamos na toponímia: Calle Aguiar, número 10. As janelas do casal septuagenário mantêm-se abertas, mas deles nem sombras. Olhamos de novo a placa e denunciamo-nos. “Procuram o Museu da Barbearia? É no segundo andar”, interpela-nos um rapaz crioulo, crista pronunciada, espojado à entrada do prédio. Subimos, a algum custo, as escadas apertadas — nas paredes que as envolvem, pintadas de cor-de-laranja, há desenhos estilizados de penteados diversos. À primeira vista, quer-nos parecer que demos com o nariz na porta mas premimos a campainha e bastam uns segundos para que uma mulher jovem, morena e de cabelos compridos, nos convide a entrar.

Por mais expectativas que aquele letreiro nos tenha criado, não estávamos à espera disto. Eis-nos, então, num admirável mundo de glamour retro — isto é Havana mas cá dentro só nos imaginamos em Paris, com a cabeça às voltas numa qualquer cena de O Fabuloso Destino de Amélie. Também podíamos estar dentro de uma loja de antiguidades, tal a parafernália que aqui se alinha para contar a história não cronológica da arte da peluquería: tesouras e lâminas de todos os tamanhos, tempos e feitios; secadores de pé da idade da pedra; pentes e escovas para cada tipo de cabelo; máquinas registadoras que já nem nos lembrávamos que existiam; quadros de cores garridas alusivos ao ofício. Nas cadeiras vintage que se espalham por três diferentes salas há clientes reais, do nosso tempo, a fazer madeixas ou simplesmente a cortar o cabelo.

Chegamos sem avisar, seguimos apenas o instinto, mas tivemos sorte. Gilberto Valladares Reina, aka Papito, o homem de quem se fala neste Bairro de Santo Ángel — até há uns anos zona pobre, incaracterística, arruinada e completamente alheada do circuito turístico de Havana Velha —, recebe-nos em poucos minutos. É ele o responsável pelo Projecto Arte Corte, que vai muito além do que temos à frente dos olhos. Foi em 1999 que Papito, 44 anos, abriu o seu salão de beleza — que na verdade nunca foi apenas um salão de beleza. “O Projecto Arte Corte desenvolve-se em torno de três eixos: a arte, a história e o ofício de cabeleireiro”, conta-nos Papito. Essencialmente, o que Gilberto Reina quis fazer quando deixou de trabalhar para “o sector estatal” foi “manter o património ligado à profissão” e criar “um conceito de museu do século XXI”.

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