Fugas - Viagens

  • Helena Serra/CNC
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Os portugueses ao encontro da sua História: A inesquecível Índia

A igreja contígua de São Francisco de Assis está em remodelação e por momentos presenciamos autênticos exercícios de acrobacia na montagem dos andaimes. O portal manuelino é uma reminiscência da primeira construção, tendo sido os franciscanos a primeira ordem a estabelecer-se na cidade. Velha Goa exige-nos o circuito natural: Museu Histórico, galeria dos vice-reis e túmulo de São Francisco Xavier no Bom Jesus.

Alguém diz que o trânsito em Goa é um caos organizado. A Índia é assim. Sobretudo em dias do festival de Ganesh, o filho de Shiva, com a sua cabeça de elefante e inúmeras qualidades benfazejas. Em Ribandar somos obsequiados pelo almoço e pela companhia familiar no Solar dos Colaços, no dia seguinte visitamos a belíssima casa tradicional de D. Maria de Lourdes Figueiredo, e a estada em Goa não termina sem a magnífica receção em Margão em casa do Dr. Eurico Santana da Silva, na qual sentimos um intenso amor português.

Esse mesmo afeto sentimo-lo na homenagem, na presença do cônsul Dr. António Sabido da Costa, a Percival Noronha, agraciado com a comenda da Ordem do Mérito. É um grande estudioso da presença indo-portuguesa que, nos seus 92 anos, se mantém atento e activo, demonstrando a especificidade dessa identidade cultural aberta. A cultura indo-portuguesa é feita de um casamento riquíssimo das componentes indiana, portuguesa, cristã, hindu e muçulmana. Por isso, no restaurante Nostalgia, de Margarida Noronha e Távora, recordámos o melhor dessa identidade, ligando os monumentos ao património imaterial - a gastronomia, a música, a moda ou o intercâmbio linguístico. Fica-nos a lembrança desta cidade, que sempre nos apaixona.

“Quem viu Goa, não precisa ver Lisboa”, dizia-se em quinhentos. As descrições que temos de Velha Goa lembram uma cidade cheia de vida e de conhecimento. Quando partimos para a zona das Novas Conquistas, correspondente aos avanços do século XVIII, encontramos templos hindus e muçulmanos, situados em Pondá, como os de Shantadurga e Shri Manghesh ou a Mesquita de Safa, com os seus 40 nichos a rodear o tanque de purificação. Trata-se de marcas da coexistência de culturas diferentes, num tempo em que houve que dar espaço a outras religiões. O fenómeno religioso em Goa desenvolve-se pelo diálogo entre as diferenças.

Partimos para Diu, por via aérea, com escala em Bombaim. A chuva intensa acompanha-nos nas visitas que realizamos à cidade do Golfo de Cambaia. Foi com D. Nuno da Cunha que os portugueses se estabeleceram em Diu pela necessidade de reduzir a concorrência dos mercadores guzarates, para o controlo do comércio do algodão no Golfo Pérsico. Diu era uma cidade bem fortificada e dominada pelo temível Malik Ayaz. Houve duas tentativas para tomar Diu (em 1520 e 1529).

Só em 1535, em troca do apoio militar dado por Nuno da Cunha ao sultão de Guzarate, o Xá Bahadur, contra o imperador mogol Humayun, é que aquele permite que os portugueses construam um novo forte. Depois dos efeitos de dois cercos muito duros (1538 e 1546), será D. João de Castro a alargar a fortaleza, consolidando a influência portuguesa, que beneficiará das receitas tributárias do comércio do algodão. O sistema de baluarte é usado pela primeira vez no Oriente.

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