A fotografia não é um mero passatempo, mas um “hobby bastante sério”. Revela que passa muito tempo a editar fotografias e que faz muitas caminhadas a lugares aos quais não dá para ir de carro “só para conhecer determinada paisagem ou a vida daquelas pessoas que vivem tão isoladas da sociedade”. É este “sacrifício”, conta, que depois compensa os resultados que tem no produto final.
Apesar da importância que a fotografia ocupa na sua vida, João não pensa em abdicar da sua actividade profissional. “Claro que me fascinaria trabalhar na fotografia a tempo inteiro, mas a cultura é sempre filha bastarda do Orçamento de Estado. Ainda há um pequeno espaço para a fotografia de marcas, agora a fotografia documental, de denúncia do sistema, que é o que eu gosto, não lhes interessa, não há apoios”, contesta.
“Timor é muito fotogénico”
João viaja bastante por Timor, pois gosta de conhecer bem o país onde vive. Já fotografou outros países, como Espanha, Suíça ou Irlanda, mas ainda que os considere também “muito fotogénicos”, considera que não é “em três dias num sítio” que se consegue “entrar culturalmente na vidas das pessoas”, como é possível em Timor. “Estou cá há um ano e meio, há pessoas com quem estou todos os dias e crio laços de amizade. Falo a língua local, o Tétum, e tendo uma base de comunicação sólida é muito mais fácil integrarmo-nos no sítio onde estamos”, explica.
O jovem jurista conta que em Timor há uma “forte pertença a um espaço” e se vive “realmente em comunidade”. Considera ainda que “o povo timorense recebe muito bem” e que, por isso, não foi difícil fazer parte da família deles. “Eles têm casas sagradas, onde têm reuniões familiares, onde é feita a matança do porco e poder assistir a esta cultura é muito interessante de registar fotograficamente”, revela João, salientando que “Timor é muito fotogénico”.
E como é Timor? “Viver e trabalhar aqui é completamente diferente daquilo que conhecemos”. João vive na capital, em Díli, e acorda às 5h da manhã com o cantar dos galos. Sai de casa e tem porcos a atravessar a estrada, conta, e não há prédios com mais de dois andares. “É o que seria considerado uma cidade-campo”, observa. Quanto às viagens, são “uma aventura”, descreve: “Para percorrer 100 km são quatro horas literalmente. Temos que ir de jipe todo-o-terreno”. Ainda assim, não pondera para já regressar a Portugal. Considera que, pela forma como foi recebido, só pode estar “grato a este país”, onde pretende continuar a viver enquanto se sentir bem.