Apesar de tudo isso, porém, foi em Barcelos que a relação com o fado começou: “A primeira vez que ouvi fado tinha sete anos, ouvi na rádio em Barcelos. Na escola primária, cantava fado [nas festas]. Vestia-me de Amália, pintava os lábios de vermelho e obrigava a minha mãe a fazer-me caracóis. Depois, como tinha o cabelo muito liso, chorava e ficava toda borratada.” Ainda em Barcelos, recorda-se de o senhor da loja de discos que havia num centro comercial lhe gravar fado em cassetes. Ela não podia comprar os álbuns, mas levava-lhe as cassetes virgens e ele fazia-lhe a vontade.
Agora Gisela João anda em ensaios. Aproximam-se dois grandes concertos: 23 de Janeiro no Coliseu do Porto e 31 de Janeiro no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Os cartazes já andam pelas ruas. Na Mouraria, cumprimenta um senhor que lhe diz: “Está tudo bem contigo, filha? Vou ver o teu espectáculo.” E, quando entra na tasca típica A Parreirinha da Mouraria, garantem-lhe: “A Mouraria vai em peso ao teu concerto.” Gisela João ri-se: “Eu vou gritar, onde é que está a Mouraria?”.
Não esconde que está nervosa com os espectáculos que se aproximam: “Dá-me sempre vontade de ir à casa-de-banho quando já não posso e os músicos já estão em palco.” Mas a avaliar pela festa e pelos cumprimentos na rua, vai ter muita Lisboa a vê-la. A fadista que, se escolhesse uma música para a banda-sonora da sua relação com Lisboa, seria: “Quando eu partir/ reza por mim,/ Lisboa,/ que eu vou sentir, /Lisboa,/ penas sem fim,/ Lisboa./ Saudade atroz/ que o coração magoa/ e a minha voz entoa/ feita canção,/ Lisboa.”