Da oficina à exposição, uma coisa é certa: não há um único relógio que não seja mecânico. Desde o mais raro e antigo da colecção, concebido em 1630 pelo relojoeiro da casa real inglesa, Edward East, em bronze talhado (segundo os registos encontrados, só existirá um outro igual e há cerca de seis anos o Metropolitan Museum of Art, de Nova Iorque, “ofereceu meio milhão de dólares por ele” mas “nada no espólio do museu é vendável”, garante Eugénio), até modelos lançados pelas grandes marcas da actualidade, como François-Paul Journe (o único que conseguiu fazer um relógio com máquina em ouro), Patek Philippe ou A. Lange & Söhne.
Naquele que se define como “o único museu do género na Península Ibérica e um dos oito no mundo”, há ainda relógios iguais ao que Yuri Gagarin levou ao espaço em 1961, ao que Neil Armstrong usava quando pisou a lua em 1969 ou que Pablo Picasso criou para as mulheres usarem como uma pulseira escrava e “perguntarem aos cavalheiros que horas eram nos relógios”. De história em história, o museu procura fazer “um retrato da sociedade portuguesa e de alguma sociedade mundial, mostrando, igualmente, a evolução do tempo em Portugal”. Sobre a lareira acesa junto à saída, um poema de Frei Castelo Branco deixa, no entanto, o aviso: apesar de tantos relógios a marcar o tempo, há que ter muito “apreço e conta” para “não chorar, sem conta, o não ter tempo”.
Museu do Relógio – Pólo de Serpa
Convento do Mosteirinho, Serpa
Tel.: 284 543 194
Horário: de terça a sexta das 14h às 17h30; sábados, domingos e feriados das 10h às 12h30 e das 14h às 17h30 (última entrada às 17h)
Preço: 2€ (gratuito para crianças até aos 10 anos)
www.museudorelogio.com
Núcleo Museológico do Tempo, Santarém
Assim que a vislumbramos não temos dúvidas que é dela que andamos à procura: no alto da entroncada torre eleva-se uma estrutura em ferro forjado onde o sino é coroado por oito peças arredondadas, qual arco de balões esquecido numa velha festa popular. São as cabaças de cerâmica que dão nome ao edifício, um dos mais emblemáticos de Santarém, e que tinham um objectivo tão pragmático quanto poético: levar as horas aos campos em redor, funcionando como “caixas de ressonância do rebate do sino”, conta-nos Luís Mata, responsável pelo sector de investigação do Museu Municipal de Santarém, e que agora nos guia pelos três andares da torre, transformada em 1999 num pólo museológico dedicado à “memória evocativa do tempo”. O conceito é aqui reflectido no seu sentido mais lato, dividindo-se em três diferentes formas de medição.
Na primeira sala, à qual chegamos após subir a escadaria de caracol apertado (a única que foi mantida após as obras de restauro), encontramos alguns objectos evocativos da era pré-mecânica da medição do tempo, quando, lê-se Voltaire na parede alva, o sol era “o grande relógio do mundo”. Não faltam, por isso, vários relógios de sol, incluindo o que antigamente sombreava as horas em frente aos velhos Paços do Concelho de Santarém. Dois cata-ventos, a ilustração de uma clepsidra, a réplica de uma ampulheta e de uma bússola rematam o interior da Sala dos Pesos, assim denominada por ali descerem os dois pesos que faziam movimentar a máquina do relógio, instalada em 1876 na ala superior.