Depois do almoço podemos avançar até ao século XVIII e, para ajudar a digestão, o ideal será um passeio ao longo do Aqueduto das Águas Livres, que acaba de reabrir ao público. Construído entre 1731 e 1799, é um impressionante sistema de distribuição de água à cidade de Lisboa, que deixou de ser usado na década de 60 do século XX.
O passeio permite atravessar os 35 arcos do aqueduto (são 941 metros de percurso) que se estendem sobre o vale de Alcântara (e, já agora, recordar os crimes de Diogo Alves, que lançava as suas vítimas daqui de cima), e, sobretudo, ver a cidade de uma forma única.
Largo de São Carlos
Há tempo ainda para uma passagem pelo Largo de São Carlos para comer um pastel de massa tenra ou um pastel de nata no Café Lisboa, um dos vários restaurantes do chef José Avillez, este integrado num espaço do Teatro Nacional de São Carlos, a ópera inaugurada em 1793 para substituir a malograda Ópera do Tejo, destruída pelo terramoto de 1755 poucos meses depois da inauguração.
Hotel Avenida Palace
E agora é altura de passar pelo hotel para descansar um pouco. E já que estamos ainda no século XIX, o melhor será ficarmos instalados no Avenida Palace, entre o Rossio e os Restauradores. O hotel, que inicialmente se chamou Terminus, é do final do século XIX, tendo nascido ligado à Estação Central do Rossio, mesmo ali ao lado. Mas dentro dele pode-se viajar também até aos anos 40 do século XX, altura em que aqui ficaram instalados alguns dos espiões que enchiam Lisboa por causa da guerra. Conta-se que existia uma passagem secreta entre o hotel e a estação, mas essa porta foi fechada e não pode ser visitada.
Estando no Avenida Palace, e provavelmente já cansado depois de um dia tão longo, podemos aproveitar para jantar noutro local com história, e à distância de dois passos: o Restaurante Leão d’Ouro, fundado em 1842 e ponto de encontro de artistas e intelectuais daquele que ficou conhecido como o Grupo do Leão, imortalizado num quadro de Columbano Bordalo Pinheiro.
Segundo dia
Palacete Chafariz d’El Rei – E porque não ir tomar o pequeno-almoço a outra zona da cidade? Regressamos a Alfama, onde ontem percorremos a Cerca Velha, e a um dos pontos desta, o Chafariz d’El Rei. Na parte de cima deste existe um palacete do início do século XX, uma casa particular num curioso estilo neo-mourisco, hoje transformada num pequeno hotel de charme com seis suites. Vale (muito) a pena uma visita. Pode-se tomar um chá, comer um croissant ou uma panqueca, uns scones ou uns ovos, ou optar pelo brunch servido em pleno ambiente de início do século.
Bairro Estrela d’Ouro
E porque o início do século não foi só feito de aristocratas nos seus palacetes, mas também dos muitos operários que vieram para Lisboa para trabalhar nas fábricas, é interessante subir até à Graça e visitar alguma das vilas operárias que surgiram muito nesta zona precisamente na mudança do século XIX para o XX, com a industrialização. O Bairro Estrela d’Ouro é um bom exemplo. Edificado em 1907/8 por iniciativa do industrial de confeitaria Agapito Serra Fernandes, destaca-se pelo painel de azulejos que assinala a entrada. No interior, para além das casas para os operários, existe um palacete que pertencia ao patrão, com capela privativa, lago, cascata e jardim. No passado, o Royal Cine, onde foi projectado o primeiro filme sonoro em Portugal, também pertencia ao conjunto Estrela d’Ouro. E já que está na Graça, pode espreitar outros bairros, como a Vila Sousa ou a Vila Berta, com as suas belíssimas varandas em ferro.