Fugas - Viagens

  • Maria João Gala
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António Capelo e Castelo de Paiva

“Não basta ter um sítio muito bonito junto ao rio se não for valorizado”, comenta. Há trabalho feito nessa área e gente que já percebeu as potencialidades desse território. Naquelas margens, há um hotel que se destaca. Hotel de quatro estrelas, erguido de uma antiga fábrica, e que no ano passado contou perto de 17.500 dormidas. Capelo fica contente com a notícia do hotel que se chamou Douro 41, por ficar no quilómetro 41 do Douro, e que agora é o Eurostars Rio Douro & Spa, com piscina exterior com vista para o rio.

Fomos alertados e com o estômago preparado. Capelo avisou-nos que Castelo de Paiva tem pratos de fazer crescer água na boca. Tem mesmo. O cabrito foi encomendado dias antes para marinar como deve ser. À mesa do restaurante de pedra D. Amélia, em Bairros, com vista para o imponente Solar da Fisga, o cabrito assado em forno de lenha, em travessa de barro, desfaz-se na boca. O vinho verde, uma das imagens de marca do concelho — que até criou o trilho das vinhas em BTT ou em percurso pedestre — é bebido em malgas brancas. Não se quebra a tradição de uma região que tem brio no que se bebe e no que se come e que não é tão pouco quanto isso — arroz de lampreia, cabrito assado, cozido à lavrador, vitela assada, arroz de cabidela são algumas das especialidades. Há ainda os bifes de cebolada que na altura das festas de São Domingos e de Nossa Senhora das Amoras, em Raiva, se espalham por barraquinhas ao longo da estrada e são servidos em travessas. O actor tenta não faltar às festividades que, além dos bifes, tem cavacas com vinho e bailarico no adro da igreja. O monte de São Domingos, bem lá no alto, é um excelente miradouro sobre o Douro e tudo o que o rodeia. Capelo aponta-nos os rios, as serras em volta, a sua aldeia ao longe, o Porto mais adiante. Neste monte, há uma capela, um parque de merendas, e sinos de vários tamanhos que se aninham numa torre de ferro no exterior do templo. É um local de devoção e de contemplação. 

Teatro, casa de afectos

O actor recua à infância. Os teatrinhos que se faziam na aldeia, por altura das épocas festivas, eram momentos de festa. “O teatro era o sítio onde as pessoas se encontravam, onde estavam todas juntas, coladas umas às outras, e isso exercia um fascínio muito particular.” Uma partilha que não se esquece. Depois do liceu, queria seguir Direito, o que implicava deixar o Porto. Inscreveu-se então em Filosofia na Faculdade de Letras do Porto. No primeiro ano, logo após o 25 de Abril, passou, como todos os alunos, administrativamente. “No 2.º ano, desisti e nunca mais voltei”. O teatro atravessou-se no caminho. Em Espinho, criou a Nascente e começou a representar como amador. Em cima do palco, não passou despercebido e recebeu um convite da Seiva Trupe. “Convidaram-me, fui, e nunca mais parei.” Teatro, cinema, televisão. Adeus Princesa foi o seu primeiro filme, romance policial, em que vestiu a pele de fotógrafo, na história baseada no livro de Clara Pinto Correia e que marcou a estreia de Paixão da Costa na realização. Seguiram-se muitas outras histórias. Foi dirigido por realizadores como Jorge Silva Melo, Teresa Villaverde, Paulo Rocha, Maria de Medeiros, António Pedro Vasconcelos, António Ferreira. No teatro, é actor, encenador, professor. Esteve na Seiva Trupe, na Barraca, esteve na fundação do FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, dirigiu o Teatro Universitário do Porto. Na televisão, participou em várias novelas. Não lhe perguntem em que pele se sente melhor que ele responde simplesmente “eu gosto da vida”. Este ano, entrará no próximo filme de Marco Martins, em monólogos que Saguenail anda a preparar, e há-de encenar Almada Negreiros num convite do Teatro Municipal de Bragança. Esta noite está em São João da Madeira num serão poético nos Paços da Cultura, a partir das 21h45, no âmbito do Poesia à Mesa do município são-joanense.

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