Fugas - Viagens

  • Maria João Gala
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António Capelo e Castelo de Paiva

Em cima do palco, é peixe na água. “Respiro normalmente, tento ser orgânico e verdadeiro no meu trabalho, partilho o espaço com outros da mesma espécie, e até alguns de espécies diferentes — músicos, técnicos de luz e som, figurinistas, cenógrafos — e sempre me senti como se estivesse em casa. Porque o teatro também é uma enorme casa, uma casa de afectos e todos nos sentimos gratos por partilhar estes afectos com os nossos semelhantes.” Há muitas alegrias nesse caminho e as palmas aconchegam a alma. “Os aplausos do público, noite após noite, são distinções mais do que suficientes para alimentar o ego, meu e de todos os actores por este mundo fora. E são sempre as distinções mais genuínas”, refere. Chegou a estar cinco minutos em palco só a agradecer os aplausos da plateia. “Nem contei o número de ‘panos’, vénias, que fiz nessa noite.” Nem contou o tempo que lhe viria a ser comunicado por alguém que cronometrou os minutos desse agradecimento.

O actor garante que o teatro está bem e recomenda-se. Sobretudo para quem o faz, para quem o cria. Há projectos de jovens com talento, projectos de qualidade, e a relação primordial com o público está óptima. As plateias são curiosas e exigentes. Com o Estado, nem tudo corre bem. “É uma relação podre e que caia de podre. Não funciona, nunca funcionou”, repara. Ter uma secretaria de Estado da Cultura ou um Ministério da Cultura não é a mesma coisa. E essa diferença é, na sua opinião, reveladora do valor que a cultura tem para quem manda. Mas o teatro não é apenas o teatro, é tudo o que gira ao redor. “O acto de fazer teatro não é financeiramente viável, mas há tanta coisa que se gera à volta.” Lamenta que não se perceba isso “num mundo onde só se fala de economia e finanças”.

O povo da sua aldeia comprou um dos degraus do Palácio do Bolhão na Rua Formosa, no Porto, a nova casa do Teatro do Bolhão, o novo espaço de trabalho de António Capelo, que abre na próxima sexta-feira, Dia Mundial de Teatro. Capelo agradeceu à gente da sua terra com um recital de poesia em Abril do ano passado. Com o 25 de Abril em pano de fundo, garante que foi um “recital revolucionário”. No início deste mês, na parada que organizou para simbolicamente marcar a mudança de casa, pelas ruas do Porto, estava a Banda de Música dos Mineiros do Pejão. O actor aproveitou para colocar a conversa em dia com a malta da terra.

O projecto de recuperação do Palácio do Bolhão anda a ser falado há mais de uma década. Comprado pela Câmara do Porto, cedido à ACE para albergar a Escola de Artes e a companhia Teatro do Bolhão, o edifício, com mais de 200 anos, casa do conde de Bolhão, local de bailes e festas da burguesia do século XIX, começou a ser recuperado. Capelo e a sua equipa fizeram contas à vida. Garantiram alguns apoios estatais, bateram a várias portas, conseguiram apoios privados — comprar um degrau era uma das formas possíveis de ajudar no projecto, tendo os compradores o direito a ter o seu nome nele inscrito — e seis salas foram recuperadas e o auditório renasceu na antiga litografia do Bolhão, no jardim do palácio, com 150 lugares. “Falta recuperar a sala de jantar”, conta. Os contactos continuam.

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