Durante o domínio holandês, no século XVIII, a canela tinha ainda um forte peso na economia colonial, mas mais tarde, nos anos 1830, uma crise na Europa ditou o início da exploração de café na ilha. Por pouco tempo: em 1869 uma praga dizimou quase todas as plantações. Foi nessa década que o pioneiro James Taylor fundou a primeira plantação de chá na ilha, perto de Kandy (a história está contada em imagens no Ceylon Tea Museum, em Hantane). Na década seguinte as plantações de chá substituíram as de café e o chá emergiu em pouco tempo como a principal exportação da ilha, conquistando a fama de ser o melhor do mundo.
De meados dos anos 1960 até 1995 o Ceilão liderou a lista dos maiores exportadores mundiais, mas a guerra civil acabou por ter consequências negativas para a produção, ocupando o país, actualmente, o terceiro lugar da lista. A produção de chá continua a ser, todavia, uma das principais actividades agrícolas do Sri Lanka, envolvendo o sector à volta de um milhão de pessoas e satisfazendo cerca de 20% da procura mundial. Muito do trabalho mais pesado (no Sri Lanka a colheita é manual e executada por mulheres) continua a ser feito pela população tamil, imigrada da Índia para as plantações desde meados do século XIX, que aufere baixos salários e continua a viver em guetos, como na época colonial.
As características climáticas, a pluviosidade, a humidade e a altitude do Hill Country são factores decisivos para a elevada qualidade do chá do Sri Lanka, cultivado em plantações que ocupam perto de duzentos mil hectares, cerca de 4% da superfície do país. A preocupação com a qualidade da produção (que se prepara para comemorar 150 anos em 2016) surgiu no final do século XIX, com a criação de instituições reguladoras e de investigação, e mantém-se através de controlos rigorosos da responsabilidade de vários organismos, nomeadamente do Sri Lanka Tea Board. A marca Ceylon Tea é um inestimável ex-líbris do Sri Lanka. Quando da mudança de nome do país, em 1972, ponderou-se a sua substituição, mas um debate nacional decidiu a sua sobrevivência como símbolo e garantia de qualidade do que é considerado um dos melhores chás do mundo.
Mr. Lipton ou a democratização do chá
Toda a região do Hill Country é pródiga em mirantes, mas em Haputale há um com uma história muito particular, que o liga ao tempo em que o Sri Lanka dava os primeiros passos para se transformar num dos principais produtores de chá do planeta. Chama-se Lipton’s Seat.
A história começa no século XIX, na zona de Gorbals, em Glasgow, onde nasce, no seio de uma família de comerciantes, Thomas Lipton. Quando as asas lhe dão para voar, o jovem Thomas faz-se marinheiro e passa alguns anos a trabalhar num vapor entre Glasgow e Belfast, amealhando os cobres necessários para rumar aos EUA, onde experimentaria várias profissões ao longo de cinco anos. Em 1870, aos 19 anos, regressa à Escócia, retoma o negócio da família e torna-se, em pouco tempo, um comerciante próspero e arguto, a fazer fé nas crónicas.
Numa altura em que controla já muitas dezenas de lojas, na Escócia e em Inglaterra, Thomas Lipton decide ensaiar inovações no ramo da distribuição de chá, até então uma mercadoria consumida na Europa essencialmente pela aristocracia e pela burguesia. Cria a sua própria marca e visa a democratização do consumo da bebida através da introdução de chá no mercado a preços baixos, acessíveis às classes trabalhadoras.