Fugas - Viagens

À noite, nos Clérigos

Por Luísa Pinto e Paulo Pimenta

As portas da Torre dos Clérigos, no Porto, abrem-se a visitas nocturnas. Para já, apenas para grupos fechados e com marcação. Mas arranjar 25 elementos para constituir um grupo é um esforço que vale a pena.

Não fomos nós a dizê-lo. Foi mesmo o presidente da Irmandade dos Clérigos, Américo Aguiar, numa entrevista a um jornal, há quase dois anos, quando apresentou ao mundo a intenção de submeter a Igreja dos Cérigos a uma intervenção de reabilitação profunda. Dizia ele que, até então, não era preciso fazer nada. “Nadinha”, repetia. Mesmo assim, os turistas iam bater-lhes à porta, queriam entrar, reclamavam por fechar tão cedo (que, no Verão, às sete da tarde ainda o sol vai alto), apareciam porque queriam visitar a torre desenhada por Nicolau Nasoni e que, merecidamente, se tornou um dos símbolos da cidade do Porto. “Faz parte de todos os roteiros da cidade”, explicava Américo Aguiar, consciente de que o edifício oitocentista é o melhor miradouro do Porto, e que, lá está, mesmo que a Irmandade nada fizesse para isso, nestes últimos anos tem sofrido um número crescente de visitantes. Em 2012, a Torre dos Clérigos teve cerca de 150 mil visitantes, enquanto que em 2013 ultrapassou os 420 mil — acima dos 250 mil que eram o objectivo.

Mas, se havia a noção de que não foi preciso fazer nada para atrair os turistas, a Irmandade também percebeu que seria melhor fazer alguma coisa para que a igreja, primeiro, e todo o edifício, depois, ficasse com mais do que uma cara lavada. E assumiu de forma clara que queria fazer alguma coisa para que, mais do que um espaço religioso, aquele monumento (declarado Monumento Nacional em 1910) teria um forte contributo para dar ao roteiro turístico.

A empreitada na igreja foi de monta — 2,6 milhões de euros, comparticipados em 1,7 milhões pelo Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN)). Os 800 mil euros que couberam à Irmandade dos Clérigos foram obtidos com recurso a financiamento do programa Jessica, também ele comunitário. Exactamente 252 anos após a inauguração oficial do edifício, em Dezembro passado, a Igreja dos Clérigos reabriu ao público com pompa e circunstância. E o clima de festa mantém-se até aos dias de hoje, que isto de brindar os presentes (portuenses e nem por isso) com concertos diários no órgão de tubos da igreja não pode ser menos do que encarado como uma celebração contínua.

Mas deixemos a Igreja e vamos à torre, que é por ela que os turistas batem à porta dos Clérigos — e é também por ela que aqui estamos. Eu, pecadora, me confesso, que perdi a conta aos dias de vida que já levo passados no Porto, e chegam-me dois dedos de uma mão para contar as vezes que me atrevi a subir lá acima. Fi-lo a primeira vez aos 17 anos, e para acompanhar um bando de primos emigrados em França. E subi agora a segunda, tendo tido o privilégio de integrar o grupo que marcou a estreia das visitas nocturnas ao ex-líbris da cidade.

Desde há cerca de um mês que é possível subir aos Clérigos para assistir a um pôr do sol — basta agendar a visita das 19h15 — ou para ouvir o barulho das luzes e ver o frenesim das cores à noite — há visitas a começar às 21h30 e às 22h30. Todas elas têm uma duração estimada de uma hora — e descansem os menos afoitos que não é preciso tanto tempo para subir os 270 degraus. Os intervalos duram uma hora porque a entrada compreende uma visita guiada à igreja e aos novos espaços museológicos que o edifício ganhou com as obras de reabilitação.

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