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Caminhos de pastores, caminhos de contrabando
Haverá razão para espanto que um país tão imerso em montanhas, apesar da dimensão, reúna tão elevada quantidade de trilhos? Atravessar montanhas por veredas difíceis e cruzar fronteiras (que estão quase sempre à mão) nunca foi actividade estranha a Andorra, onde o contrabando chegou mesmo a ser considerado uma actividade legal. Também durante os anos da Segunda Grande Guerra e da Guerra Civil Espanhola, muita gente passou a salto fugindo da instabilidade e das perseguições — e há, até, uma certa “lenda negra de Andorra”, segundo a qual alguns passadores se apoderaram de haveres e vidas de judeus que tentavam escapar ao nazismo. O tema é sensível e continua por ser devidamente esclarecido, como tem vindo a assinalar o historiador andorrano Claude Benet.
Hoje, alguns desses trilhos (uma boa parte firmada nas actividades de pastorícia de montanha) apresentam-se assinalados e integram uma extensa rede de caminhos muito apreciada pelos amantes do turismo de natureza. Andorra oferece aos caminheiros uma irrepreensível estrutura e toda a informação indispensável, quer sobre os parques naturais, quer sobre os trilhos e a rede de casas abrigo utilizadas durante os trekkings. Há alguma informação disponívelonline, mas o mais aconselhável é obtê-la, em formato personalizado, num dos vários postos de turismo, onde é possível satisfazer todas as dúvidas, adquirir mapas dos trilhos e, se a opção for essa, contratar os serviços de um guia de montanha para os percursos mais difíceis ou arriscados.
Há, naturalmente, trajectos com graus de dificuldade muito variados. Uns são adequados para uma simples jornada diária, outros, pela extensão e dificuldade, exigem dois, três ou mais dias; outros, ainda, como os que rodeiam o lago de Engollasters, são procurados para passeios familiares de fim-de-semana. Alguns dos trilhos beneficiam da vantagem de se iniciarem próximo de povoações servidas por transportes públicos, o que muito facilita a programação dos trekkings e das caminhadas.
Os percursos mais aliciantes para caminheiros experimentados estão para além das fronteiras dos parques, mesmo se incluem etapas no seu interior: são os percursos de Grande Rota. Para além do GR7, há quatro que são incontornáveis para quem deseje conhecer Andorra passo a passo. O primeiro é o GRP, o mais longo e abrangente: uma rota circular de 120km, a realizar em sete etapas, com passagem por todos os refúgios da rede e cobrindo quase todo o território de Andorra. O segundo, o GRT, articula trechos em Espanha e França e inclui um roteiro pelos lagos. O terceiro, o ARP, ou Alta Ruta Pirenaica, é de grande exigência física e técnica, tal como o primeiro, mas com desníveis extremos, de 2565m e 2270m (positivo e negativo, respectivamente). Finalmente, o GR 11, o mais abrangente de todos, cobre toda a cordilheira dos Pirenéus, desde o Mar Cantábrico até ao Mediterrâneo, incluindo alguns trechos em terra andorrana.