Fugas - Viagens

  • Mara Carvalho
  • Mara Carvalho
  • Mara Carvalho
  • Mara Carvalho
  • Mara Carvalho
  • Mara Carvalho
  • Mara Carvalho
  • Mara Carvalho
  • Mara Carvalho
  • Mara Carvalho
  • Mara Carvalho
  • Mara Carvalho

Continuação: página 3 de 5

O povo desenha um jardim de papel em cada rua

Há muitas ruas onde mora pouca gente ou apenas população idosa, os mais novos “não se interessam” ou “vivem na parte nova da vila e não têm rua para enramar”. Os filhos dão uma ajuda mas o espírito de sacrifício e dedicação nem sempre é o mesmo. “Enquanto houve trabalhos mais simples, como cortar papel e arame, ainda vinham às vezes, agora as flores já dizem que não sabem fazer”, resigna-se Mariana Ginga, que veio ajudar o grupo da irmã, na Rua 25 de Abril.

Toda a ajuda é bem-vinda, nem que seja por breves momentos. “No outro dia passaram por aqui dois rapazes turistas, um português e um sueco. Puseram-se a espreitar, eu chamei-os e sentei-os a fazer flores”, ri-se Liberata Maria, um cigarro de pausa entre as flores da Rua Capitão Manuel António Vieira. “Ainda ficaram um bom bocado e até tinham jeito.”

Este ano, pela primeira vez, a entrada nas Festas do Povo será paga: 4€ por dia ou 10€ pelo passe de nove dias. “Os custos são muito elevados e neste momento, devido também há dificuldade em arranjar financiamento com patrocínios, não tivemos alternativa”, justifica João Rosinha. Parte servirá para cobrir a despesa, outra reverte a favor de instituições do concelho. “Possivelmente ficamos com algum remanescente para organizar já as próximas”, “talvez para 2019 ou 2020”.

“Uma noite só nossa”

“Até parece mentira / Feitas de noite ao serão / Mas que lindas florinhas / Mas que lindas que elas são.” A voz de Fátima enche a sala de aula, amaina o restolhar dos papéis enrolados em grão-de-bico para fazer fiadas de flores para os tectos. Por breves momentos há quem marque o ritmo com castanholas, mas logo se envergonha, outras vão repetindo os versos baixinho. Fátima actualiza a data da quadra seguinte e continua. “A 22 de Agosto / A vila acorda mais bela / E a camponesa sorri / Debruçada na janela.”

O típico “cantar às saias” de Campo Maior ainda acompanha alguns serões, mas será sobretudo durante as noites de festa que se fará ouvir pelas ruas da vila. Os grupos vão-se formando espontaneamente aqui e ali e seguem caminho, caso se encontrem há cantares ao desafio. “Às vezes viro-me para dar o tom [ao músico], começo a cantar e quando olho para trás a rua já está cheia de gente”, conta Fátima, tímida mas orgulhosa. Mariana Ginga não sabe cantar, diz, mas toca pandeireta, que aqui se enfeita de laços e berloques; acompanha castanholas, acordeões e guitarras. “Já a tenho arranjada e nas festas enquanto houver gente a tocar pela rua também ando”, ri-se.

Para os campomaiorenses, é na véspera que tudo verdadeiramente começa, com a longa noite da enramação. Durante o dia, vai sendo colocado o esqueleto de paus e arames que suportará toda a decoração, mas só no velar da madrugada saem as flores à rua, o segredo de meses guardado até ao raiar das festas. Os familiares são chamados a ajudar, vêm amigos de fora. Chegam a ser 50 pessoas por rua. Há que atar cada fio de flores para formar o tecto, tratar da iluminação, pôr as cordas, as colunas, os candeeiros, os vasos de cartão.

--%>