“Leva-se a noite toda a enfeitar, a comer e a beber”, conta Mariana. “Depois, quando a rua está pronta, junta-se o pessoal todo e vai tudo com as boas das pandeiretas ver as ruas dos outros, a cantar e a bailar”, relata Teresa. Ver o nascer do sol no castelo da vila é para muitos o toque simbólico de alvorada: vai começar a festa. As ruas enchem-se de fartos pequenos-almoços, nas mesas há brinhóis (género de farturas), enxovalhadas, enchidos e licores. Para Mariana, não há momento das festas como aquele. “O resto já é de toda a gente, mas aquela noite é só nossa.”
A arte de conquistar turistas
Em 15 anos, o número de visitantes nas Festas do Povo duplicou. Na vila de nove mil habitantes é esperado que passe mais de um milhão de pessoas durante os dias do evento, tal como aconteceu em 2011. Se for classificado como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO — a candidatura será apresentada em 2016 — podem vir a ser muitos mais já na próxima edição. Pelos túneis de flores vai correr um mar de gente por estes dias e Teresa vaticina: “É impossível verem tudo num dia”. “Têm de estar pelo menos dois, para verem uma parte da vila num e a outra no seguinte, para desfrutarem das noites e ouvirem os cantares.” Mas vale a pena, garante. “É uma emoção estares debaixo do papel, com a música a tocar, o som do vento... Podes ver fotos mas a sensação de andares ali debaixo é completamente diferente, esqueces-te de tudo.”
Para quem já perdeu a conta às noites pouco dormidas e traz nas mãos os vestígios de milhares de flores de papel, não há nada como a alegria de ter a casa cheia, de um turista pedir para tocar nas rosas que parecem verdadeiras. “O prémio é sermos visitados e acolhermos tanta gente”, defende Paula Portela. “Sentamos qualquer pessoa à mesa, temos sempre a porta aberta.” Segundo o autarca Ricardo Pinheiro, para o sucesso das festas tem sido “tão importante a arte de transformar o papel em flores como a arte que os campomaiorenses têm tido em conquistar os turistas”.
Durante as festas, Fátima chega a ter 30 pessoas por dia em casa. “Pomos colchões e mantas no chão, dormem por turnos. Depois faço o comer com antecedência e montamos uma mesa comprida no quintal”, conta. Há sempre lugar para mais um, há música e bebida em todo o lado. Nessa semana, diz Luís, “é tudo uma grande família”. Os rostos cheios do cansaço dos últimos preparativos abrem-se quando se fala na semana das festas. No próximo sábado, o nervosismo, a ansiedade e a fadiga já estarão esquecidas quando a manhã florir o jardim de Campo Maior. E então Helena sorri: “Enchemos o peito de orgulho de termos feito isto.”
A Fugas esteve em Campo Maior a convite da Associação das Festas do Povo
Informações
Pela primeira vez na história das Festas do Povo, a entrada vai ser paga: o bilhete diário custa 4€ e o passe de nove dias custa 10€. De acordo com o presidente da Associação das Festas do Povo, os ingressos devem ser adquiridos nos parques de estacionamento (que, em contrapartida, passam a ser gratuitos), “para evitar afunilamentos nas zonas de entrada”, embora também possam ser comprados nos vários postos de controlo de entradas. Estão isentos de pagamento as crianças até aos 10 anos, os naturais, residentes ou trabalhadores em Campo Maior e os familiares directos até ao segundo grau de naturais ou residentes (à excepção das crianças, é necessário adquirir previamente a pulseira que indica a isenção). Parte das receitas reverterá a favor de instituições de solidariedade social de Campo Maior.
Além da rede de ruas engalanadas, as Festas do Povo integram ainda diferentes zonas com barraquinhas de artesanato, produtos regionais, empresas e associações locais e espaço de feirantes, entre outros.
Os parques de estacionamento ficam localizados fora da vila e para chegar ao centro histórico pode ser preciso caminhar largos minutos e, em alguns casos, subir ruas inclinadas. Por esta altura, dificilmente encontrará alojamento em Campo Maior ou nos concelhos mais próximos. Évora, dada a quantidade de oferta hoteleira, poderá ser uma alternativa.